Planeta Literatura
Fenômeno Bullying ou Crise de Valores?
Violência entre adolescentes e jovens, o que fazer?
Portanto, o ‘fenômeno Bullying’, designa comportamentos agressivos e anti-sociais, adotado por um ou mais indivíduos contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento. São ações intencionais e repetitivas, que causam humilhações, constrangimentos, angústia, medo, vergonha, traumatizando o psiquismo, principalmente das vítimas. Manifesta-se de várias maneiras: física, verbal, moral, sexual, psicológica, material e virtual. (Jamar Monteiro)
Fui a uma loja, comprar um novo jogo para videogame em virtude do aniversário de 12 anos de meu filho. Uma infinidade de opções nos foi mostrada. Desde games de esporte (futebol, basquete, tênis,...) e corridas automobilísticas, passando por aventuras fantásticas ou cômicas baseadas em filmes de sucesso do cinema ou da televisão (Os Simpsons, Mr. Bean, King Kong, Star Wars,...) até chegar a produções bastante violentas – cujo pano de fundo são guerras, filmes de terror e, para minha surpresa, até mesmo “bullying”...
Pois é, como o importante é vender, utilizar jogos eletrônicos para difundir a prática do “bullying” – que como pudemos notar através da explicação dada quanto ao fenômeno pelo professor Jamar Monteiro em seu livro “Fenômeno Bullying ou Crise de Valores?” (Editora Intersubjetiva) trata-se de mais uma chaga social a ser combatida pela sociedade – é prática aceita e referendada pelo mercado.
Quando uma grande empresa produtora de novos games para o mercado se interessa em produzir um jogo para videogame em que o objetivo do personagem principal é agredir, socar, chutar e praticar atos de violência da mais variada natureza de forma indiscriminada, precisamos necessariamente repensar não apenas o significado do termo, mas suas origens, conseqüências, circunstâncias,...
E o que já sabemos sobre o assunto? Muito pouco. A maior parte das informações que possuímos sobre “bullying” são provenientes da imprensa ou extraídas da Internet.
Nessas fontes temos dois tipos de problemas fundamentais: no caso dos jornais e revistas não existe a preocupação em aprofundar a discussão, normalmente ocorrendo apenas à apresentação da notícia, do fato, do acontecimento isolado; no que se refere às informações obtidas na internet, temos sempre dúvidas quanto à origem e a fidedignidade dos dados apresentados (a não ser, é claro, quando há uma identificação clara dos autores e instituições que representam aquele material e uma indicação - por origem/autoria - da qualidade que tal texto ou artigo pode ter).
Nem mesmo existe uma definição do termo em nossos dicionários ou ainda em seus equivalentes de língua inglesa. Coube ao professor Jamar criar uma explicação para o termo partindo de palavras relacionadas existentes no idioma de Shakespeare. E a compreensão final da expressão, conforme apresentada no início desse artigo, deve causar muita preocupação e, já está gerando inúmeras dores de cabeça, em muita gente...
Independentemente disso, os méritos da obra “Fenômeno Bullying ou Crise de Valores?” vão muito além da definição do termo “Bullying” ou de sua caracterização enquanto “fenômeno”. Ao lançar mão de um questionamento sobre o assunto já no título da obra, o professor Jamar Monteiro demonstra que o problema não é tão simples quanto parece e que sua delimitação não pode e nem deve ser feita olhando-se apenas para as agressões e violências praticadas de forma indiscriminada por (principalmente) adolescentes e jovens.
Ao demonstrar que “o buraco é mais embaixo”, lançando as luzes dos holofotes sobre a “crise de valores” pela qual passamos enquanto sociedade nos dias de hoje, o autor acerta em cheio e, certamente, causa polêmica e mal estar em muitas pessoas que querem atribuir exclusivamente aos agressores e praticantes do “bullying” todas as responsabilidades.
Jamar destaca que a complexidade do problema é tamanha que requer ações prementes por parte da família e da escola. E não estamos falando apenas da aplicação de sanções e penas exemplares a quem pratica as violências... As mudanças devem ocorrer nas relações familiares e na forma como as escolas estão conduzindo o seu trabalho...
Não há mais tempo para os filhos... A correria cotidiana é tão grande que os pais não têm disponibilidade para conversar e trocar idéias com seus filhos... Problemas e dificuldades do cotidiano se acumulam nas mochilas e cabeças de nossas crianças e adolescentes durante longos períodos sem que nem ao menos consigamos perceber... São desde questões simples do dia a dia, como paqueras ou trabalhos escolares, até as mudanças hormonais que os atingem na puberdade...
Sem orientação ou informações adequadas por parte dos pais e da escola, buscando apoio entre seus pares (que também carecem de maior atenção familiar e educacional), não tendo suas questões solucionadas e estando cada vez mais aflitos e angustiados, alguns jovens partem para soluções nem um pouco convencionais e abrigam-se no álcool, nas drogas, nas gangues e na violência desmedida...
A escola, por sua vez, muitas vezes desconectada da realidade e preocupada com conteúdos, prazos, notas e cadernetas nem ao menos considera os alunos enquanto seres humanos em formação... Não são poucas as vezes em que a educação encara seus clientes (os alunos) - futuros responsáveis pelos caminhos (ou descaminhos) da sociedade - como atribuições e estatísticas, ou seja, percebendo-os como sua responsabilidade somente no que tange a apresentação e apreciação de conhecimentos pré-estabelecidos e pré-concebidos como básicos para o seu ingresso no mundo social e profissional...
Isso quer dizer que a atribuição de responsabilidades pelos violentos acontecimentos que acometem nossa juventude a partir da adolescência é o mote do livro? E que a família e os professores são os principais vilões dessa história?
Não, em absoluto... O cruzamento das informações dos dois vetores do título da obra - o “bullying” e a “crise de valores” - nos levam a ter uma melhor compreensão dos acontecimentos. A partir daí começamos a entender que aos pais e educadores não cabe a atribuição dos problemas e das culpas decorrentes do “bullying”. A eles compete, por outro lado, a responsabilidade maior de prever, antecipar-se, buscar soluções e caminhos, dialogar e orientar as ações das crianças, adolescentes e jovens antes que a violência e outras variáveis a ela associadas aflorem.
As dificuldades e fatores que estão complicando a vida de todos, e em especial dos próprios adolescentes e jovens que participam de atos de vandalismo e agressão, estão relacionados a questões de âmbito global... Os problemas que vivenciamos em nosso cotidiano também têm relação com questões familiares e educacionais, mas o drama que vivemos está ligado, como ficamos sabendo com a leitura do livro, a outros atores – muito mais poderosos e onipresentes – do cenário mundial (como as mídias, a internet, a globalização,...).
Os méritos da obra do professor Jamar Monteiro residem justamente em sua capacidade de analisar com isenção e competência, pautado em rigorosa pesquisa de informações e dados, realizando a necessária contextualização dos acontecimentos e o exame de uma ampla gama de fatores tanto o “fenômeno bullying” quanto a “crise de valores” do mundo atual. Trata-se de obra de importância tendo em vista a incidência crescente de casos de violência desmedida e gratuita por parte de adolescentes e jovens tanto no Brasil quanto em todo o mundo.
Ficha Técnica do Livro
Fenômeno Bullying ou Crise de Valores?
Autor: Jamar Monteiro
Ano de Edição: 2007
Editora Intersubjetiva
(http://intersubjetiva.com.br)