Planeta Educação

Aprender com as Diferenças

Luís Campos - Blind Joker Salvador - Bahia – Brasil

Uma Aventura no Rio
Parte III - Conto

"Brincar, Sorrir e Sonhar, são coisas sérias!"

No sábado, acordamos mais cedo e, no café da manhã, discutimos nossos destinos.

Eu ia sair com Cíntia. Edinilson e Evangel visitariam uns amigos e Reinaldo disse que ficaria no hotel por estar cansado e almoçaria por ali mesmo.

Acertamos voltar ao hotel lá pelas dezessete horas, pois o vôo seria às vinte. Contratamos um táxi para as dezoito e trinta, para dar tempo de tomar um banho. 

A fim de evitar correria, deixamos as malas arrumadas e o hotel pago.

Cerca de vinte pras oito Cíntia chegou. Estávamos sentados no saguão jogando conversa fora e rindo por qualquer bobagem... o que não é novidade!

- Olá, rapazes! Que bom vê-los alegres!

- Esse pessoal está sempre alegre, Cíntia... são que nem hienas! - falou Evangel.

- Qual é a sua, companheiro? - disse Ednilson.

- Calma, Lorde Lerdo... o companheiro Evangel apenas levantou com o bundão virado... aliás, como faz quase sempre! - disse eu sorrindo.

- Feche a matraca, seu boca suja! - exclamou Evangel.

- Vocês não vão sair? - perguntou Reinaldo.

- Que é isso, companheiro? Quer ver-se livre de nós?- indagou Evangel.

- Acho que ele quer ficar sozinho pra curtir a saudade da paixão!

- Também acho, companheiro Luís! - disse Ednilson.

- Cíntia, vamos! - disse eu, interrompendo a conversa.

- Vamos!

- Tchau, meus caros, nos veremos mais tarde. Divirtam-se!

- Tchau, rapazes!

- Tchau, Cíntia - responderam os três mosqueteiros quase em uníssono.

Cíntia colocou minha mão esquerda em seu ombro direito... eu tirei e a coloquei em seu ombro esquerdo, abraçando-a e assim fomos até o estacionamento do hotel.

Ela abriu a porta do carro e colocou minha mão sobre o teto deste. Acomodei-me no banco do carona e coloquei o cinto de segurança. Ao entrar e me ver já "amarrado", com uma voz meiga e carinhosa, disse-me:

- Por que não esperou que eu colocasse o cinto?

- Porque seria mais prático eu o colocar! Hahahahaha!

- Vocês se viram, né? - disse sorrindo.

- Menina, cego faz coisas que até Deus duvida! - respondi malicioso.

Com um sorriso, ela replicou no mesmo tom:

- Isso eu espero ver! Hahahahaha!

Sorri também e ela deu partida ao veículo. Uns dez minutos depois estávamos atravessando a Ponte Rio-Niterói.

- Você conheceu Niterói antes de perder a visão?

- Conheci! Conheço quase todas as capitais e muitas outras cidades!

- Desde o Norte do País?

- Sim! Da Região Norte só conheci Manaus e Belém. Devido ao custo e às distâncias, não quis conhecer Rio Branco, Macapá, Porto Velho, Boa Vista e nem Palmas.

- Caramba! Você viajou bastante!

- Sempre gostei de viajar... não gosto é de arrumar mala! Hahahahaha!

- Hahahahaah! Eu também não! Realmente é muito chato!

- Pelo visto estamos chegando em Niterói!

- Ué? Como é que você sabe?

- Simples! O carro começou a descer e a fazer uma curva!

- Que legal! Você percebe o movimento do carro e tem idéia de onde está?

- Se eu conhecer a cidade, sim! Em Salvador me localizo muito bem!

- Legal! Evita que você seja enganado por um taxista desonesto, né?

- Em Salvador dá pra fazer isso, mas em outras cidades fica difícil!

- Você tem razão!

A conversa continuou nessa linha e após rodarmos mais alguns minutos, Cíntia disse:

- Estamos chegando em minha casa. Tem algum problema passarmos por lá?

- Por que teria? Relaxe!

- Ok! Quero apresentá-lo aos meus pais! Você vai gostar deles!

- Pelo que é a filha, tenho certeza que sim!

Ela reduziu a velocidade do veículo, manobrou para a esquerda e voltou à direita para posicionar-se frente ao portão da casa. Enquanto ela fazia isso, eu disse:

- Chegamos em sua casa, né?

- Como é que você sabe?

- Fácil! Pela manobra que você fez!

Cíntia parou diante do portão e acionou o controle remoto. Antes que este abrisse completamente, entrou com o carro e acionou o fechamento do mesmo.

- Assim você quebra o automático do portão, Cíntia!

- Paínho vive reclamando disso... e eu não tomo jeito! Hahahahaha!

- E ele tem razão! Você foi de sete meses? Hahahahahaha!

- Não sou muito de esperar as coisas acontecerem! Quando quero, corro atrás! Hahahahahahaha!

Saímos do carro e continuamos a conversa.

- É? Mas nesse caso vai ter que correr atrás do técnico pra consertar o portão, isso sim! Hahahahahahaha!

- Hahahahahaha! Eu já faço isso há muito tempo e nunca quebrou!

- Tudo bem! Você deu sorte! Em alguns casos eu sou mais cauteloso!

Quando ela pegava alguma coisa na mala, interrompendo o diálogo, aproximou-se um senhor:

- Eu digo isso a ela todos os dias, meu caro!

- Oi, Paínho... esse é Luís!

- Bom-dia, Luís! Muito prazer!

- Bom-dia, Senhor! Prazer!

- Me chame de Hélder, Luís! Vamos entrar!

- Obrigado, Hélder!

Abracei Cíntia e os acompanhei ao interior da casa. Atravessamos uma área gramada e após passarmos por uma varanda, adentramos a sala.

Cíntia levou-me até um sofá e sentou ao meu lado. Hélder sentou-se defronte a nós.

- Mãinha, venha cá! - gritou Cíntia.

Enquanto sua mãe não chegava, Cíntia falou:

- Luís, já falei a Paínho que você é baiano!

- Pois é, meu amigo... tenho muitas saudades daquela terrinha!

- Também gosto muito de Salvador, Hélder! Só moraria em outra cidade se fosse obrigado!

- É... e eu fui obrigado, Luís! Hahahaha!

- Hahahahaha! Coisas da vida, Hélder!

- Não quero dizer com isso que não gosto daqui! Niterói também é uma cidade aprazível. Além disso, aqui minhas filhas acabaram de crescer!

- Luís, estamos a umas seis quadras da praia! Podemos ir andando! - complementou Cíntia.

- Pela brisa, percebi que havia mar por perto!

- Por falar em mar, você trouxe uma sunga? - perguntou Cíntia.

- Trouxe... mas deixei no hotel! Hahahahaha!

- Hahahahaha! Se você quiser, eu lhe empresto um short de meu pai!

- Você tem o mesmo corpo que eu... vai ficar ótimo, Luís!

- E mais idade, Hélder! Hahahahaha!

- Hahahahaha! Acho que não... eu fui pai muito velho, Luís!

Quando Cíntia nasceu, meu caro, eu já tinha trinta e dois anos e, em fevereiro farei sessenta e oito!

- Poxa, Paínho... agora você disse minha idade ao Luís!

- Ter trinta e seis anos é ruim, Cíntia? - perguntei.

- Para uma mulher, cada ano é uma mecha de cabelo branco, Luís! falou Hélder sorrindo.

- Imagine se houvesse o risco delas ficarem carecas, Hélder! Hahaha!

Nesse instante chega a mãe de Cíntia e entra na discussão.

- Pois saibam que, para uma mulher, cada ano a mais é uma tortura! Hahahahaha!

- Luís, essa é Cristina, minha esposa!

- Bom-dia, Dona Cristina!

- Bom-dia, Luís! Cíntia já me falara de você!

- Mas, por favor, não acredite em tudo que ela fala, Dona Cristina!

- Ela não costuma mentir, Luís!

- Mas eu sim, Dona Cristina! Hahahahaha!

- Hahahahaha! Até o momento não percebi essa sua "qualidade", Luís! - complementou Cíntia.

- Por favor, Luís, esse "Dona" faz lembrar minha idade! Hahahahaha!

- Desculpe... Cristina!

- A conversa está boa, mas vamos pra cozinha tomar um verdadeiro café baiano! - disse Dona Cristina.

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