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Sheila Cristina de Almeida e Silva Machado Graduada em Pedagogia; Especializada em Orientação Educacional; Pós-Graduada em Psicopedagogia; Atua como Orientadora Educacional no Colégio Poliedro de São José dos Campos – SP.

Indisciplina Escolar: Causas e Sujeitos
Abaixo a “educação bancária”!


Este livro relata a experiência da autora que, efetivada como coordenadora pedagógica, foi trabalhar na periferia paulistana, numa escola de ensino fundamental da zona leste, pertencente a rede municipal de ensino.

O trabalho da autora foi desenvolvido com uma comunidade que apresenta dificuldades como ausência local de infra-estrutura educacional adequada, baixa renda familiar, prevalência de pessoas subempregadas, falta de segurança e preocupante índice de violência física.

Esses dados são confirmados pelos resultados obtidos com a avaliação diagnóstica desenvolvida pelos professores no início de anos letivos, revelando-se que a maioria dos alunos:

  • Nos aspectos cultural, social e econômico – são descendentes de migrantes nordestinos com pouca escolaridade; 95% utilizam o sistema público de ensino; menos de 1% tem computador em casa.
  • No aspecto psicológico – predomina a baixa auto-estima entre os alunos; o relacionamento com os pais é marcado pela pouca afetividade e falta de diálogo; o medo de errar e de apresentar idéias é bastante grande.
  • No aspecto cognitivo – os alunos dessa localidade apresentam dificuldade na interpretação de textos; seus vocabulários são pobres; não conseguem organizar pensamentos e textos.
  • No aspecto comportamental – essas crianças apresentam atitudes agressivas em relação aos colegas e professores.

Quanto aos professores e funcionários, a maioria pertence à região onde a escola se localiza e também sofre com as dificuldades de infra-estrutura local. Partindo dessa realidade, a autora pretendia desenvolver um trabalho de “conscientização” da posição opressora na qual viviam e queria também ajudar na promoção das transformações necessárias para se viver dignamente.


A educação bancária mantém nos trilhos e não
incentiva a criatividade, a autonomia a altivez...

Nesse sentido pautava sua ação em idéias sobre educação defendidas por Paulo Freire, para quem “conscientização” significava “um ato de conhecimento, uma aproximação crítica da realidade”. Além disso, suas práticas tinham como meta a superação da “concepção bancária” de educação, caracterizada pelo silêncio, a passividade e a estagnação dos alunos (fatores considerados fundamentais para que transmissão dos conhecimentos tenha sucesso, sem qualquer perda de tempo com interferências).

Constantemente a autora escutava de alguns professores que os alunos não aprendiam porque eram indisciplinados, tudo em função da falta de limites reinante em suas famílias. Essa análise simplista era muito séria, pois na visão dos professores, o aluno era o responsável pela não aprendizagem.

O fracasso escolar era encarado pelos professores como sendo resultado de problemas que estavam fora da escola, manifestando-se dentro dela por meio da indisciplina, e que nada se poderia fazer enquanto a sociedade não mudasse.

A má-formação inicial e continuada dos professores contribui, nesse sentido, para que os mesmos não pensem criticamente sobre a função que desempenham como educadores, acabando por colaborar com a continuidade da sociedade e da educação excludentes...

“A educação se torna um ato de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador o depositante”, já nos dizia Paulo Freire, em sua conceituação da educação bancária. Queria nos alertar para o fato de que a educação bancária deve ser entendida portanto como domesticadora porque leva o aluno à memorização dos conteúdos transmitidos, impedindo o desenvolvimento da criatividade e sua participação no processo educativo, tornando-o submisso perante as ações opressoras de uma sociedade excludente. Nesse tipo de educação não há construção do conhecimento em busca da transformação e superação das dificuldades sociais...


Até quando andaremos na “corda bamba” em educação?

O papel da disciplina na “educação bancária” é fundamental para o sucesso da aprendizagem do aluno. Nela a obediência e o silêncio dos alunos são aspectos importantes para garantir que os conteúdos sejam transmitidos pelos professores. Essa prática é também antidialógica, porque não proporciona aos envolvidos ação-reflexão-ação (práxis) sobre as suas realidades.

Já na “concepção problematizadora”, educar é um ato de amor, respeito a todas as visões de mundo, esperança e troca de experiências entre os envolvidos: por isso o diálogo é fundamental neste processo educativo. Os alunos podem intervir conscientemente para melhorá-la.

A concepção problematizadora deve ser prática constante no espaço escolar como meio de superação da indisciplina, pois valorizando a relação professor/alunos, o pensar crítico e a construção coletiva, desenvolve-se a participação, a criatividade, o respeito, a cooperação, a tolerância e a conscientização das nossas possibilidades como seres participantes na construção do conhecimento do mundo, em busca de uma sociedade mais justa.

Para conscientizar os professores de seu papel efetivo e essencial, a coordenadora começou então a discutir a prática docente nas reuniões, a questão da transmissão do conhecimento. Alguns professores não admitiam que tinham uma prática inadequada que interferia no comportamento do aluno. O que essa coordenadora (autora do livro) tentou mostrar foi que eles (professores) poderiam contribuir para a melhoria do ensino e colaborar para a superação da indisciplina a partir da mudança de suas práticas educativas.

Nesse trabalho, além dos professores, também os alunos e os pais tiveram a atenção da coordenadora – que sempre entendeu a construção dos conhecimentos como parte de uma ação coletiva, que integra família, escola e os próprios estudantes num esforço conjunto de criação de condições para a efetivação do ensino-aprendizagem.

O foco nos professores foi, no entanto, o maior e a mais trabalhosa ação desencadeada pela autora/orientadora. E para começar esse trabalho, foi proposta uma reflexão acompanhada de leituras e questões sobre a competência e compromisso docente. Foram encaminhadas aos docentes perguntas como:

- Qual a função do professor?
- O que é ter competência como educador?
- O que é ter compromisso com a educação?

E a que conclusões chegou a autora? Quanto a questão primordial levantada pelos professores e que gerou o seu livro, ou seja, no que tange a indisciplina, que a superação da mesma só se dá com a melhoria da qualidade do ensino por meio das próprias ações dos professores, com o apoio das famílias, da direção e em busca do interesse e participação dos estudantes.

Mesmo sabendo ser difícil esse trabalho, não podemos desistir e nem esperar. Não podemos deixar que a educação silencie e domestique os alunos, que impeça seu desenvolvimento criativo e participativo em sala de aula. A educação deve valorizar a organização coletiva, que contribua para a construção da autonomia e para o pleno desenvolvimento intelectual dos educandos para que, a partir daí, se conquiste a tão almejada sociedade democrática.

Avaliação deste Artigo: 4 estrelas