Ottmar Teske Sociólogo. Diretor do Instituto de Pesquisa em Acessibilidade da Fundação Universidade Luterana do Brasil – IPESA/FULBRA, Coordenador Acadêmico do programa Cantando as Diferenças.
Um Preconceito Eficiente
Artigo do sociólogo Ottmar Teske sobre o projeto de Estatuto da Pessoa Com Deficiência, de Paulo Paim.
Recentemente li um
artigo, do respeitado escritor e autor de diversas obras Frei Betto.
Ele inicia seu artigo, publicado no dia 08 de novembro de 2007, o qual
está disponível na Internet, com uma pergunta:
“A sociedade civil se organiza e busca atuar de forma
independente para conquistar seus direitos?”
Eu penso que SIM, quando o assunto está relacionado ao
Estatuto da Pessoa com Deficiência, de autoria do Senador
Riograndense, Paulo Paim.
Digo SIM, pois sou testemunha e acompanhei de perto o movimento das
pessoas com deficiência nessas últimas
décadas. O mesmo vem trabalhando para o fortalecimento da
sua cidadania. E para isso vem organizando debates que instrumentalizem
suas lutas.
Hoje o Movimento das Pessoas com deficiência é um
dos poucos que construíram Três Ferramentas que
vem aprimorando a Democracia. São os seguintes:
1. O Texto da Convenção Internacional –
ONU.
2. Estatuto da Pessoa Com Deficiência
3. As Políticas Públicas com Acessibilidade
Universal.
O texto da convenção foi elaborado
através das mãos das pessoas com
deficiência de todos os países membros da ONU.
No Brasil o Governo Federal apoiou para que os encontros pudessem
acontecer no país, contribuindo, para o momento que estamos
vivenciando na Câmara Federal que é
daRatificação da Convenção
Internacional.
O Estatuto da Pessoa com Deficiência, aprovado no Senado
Federal, é resultado de 1.168 encontros em todo o Brasil,
articulados pelas pessoas com deficiência em parceria com
Universidades, Igrejas (saliento a importante aliança e a
grande participação no ano passado - 2006 - da
Campanha da Fraternidade que participou na
construção desse Estatuto que foi aprovado no
Senado), Sindicatos, Assembléias Legislativas dos Estados,
Câmara de Vereadores, Partidos Políticos e
entidades de Pessoas com deficiência, Conselhos Estaduais e
Municipais das Pessoas com deficiência e outros movimentos.
Iniciaram-se esses debates com 56 artigos e após quatro anos
de discussão está com 287 artigos.
Após essa caminhada, o estatuto está resgatando
tudo o que já foi construído de
legislação, decretos, portarias e normas visando
o aprimoramento das leis e sua adequação as
normas internacionais.
As Políticas Públicas com Acessibilidade
Universal apresentadas para o Estado, Sociedade e Governos pelas
pessoas com deficiência devem ser olhadas como alternativa
também para os idosos, anões,
crianças, mulheres grávidas, obesos entre outros
com dificuldade DE locomoção.
Essas propostas discutidas na sociedade objetiva garantir o Acesso das
Pessoas, pois mais cedo ou mais tarde todos teremos a necessidade e o
direito dessas políticas.
Portanto, devemos reconhecer a importância desses
três instrumentos para o fortalecimento da democracia, porque
as pessoas com deficiência foram os protagonistas,
legitimando os três processos.
Esses encontros, objetivavam aperfeiçoar e democratizar
todas as informações, historicamente guardadas e
escondidas do movimento das pessoas com deficiência, para que
esses não pudessem ter acesso ao conjunto de leis
já existentes nessa área.
O Estatuto nada mais é do que um Instrumento de Luta nas
mãos da Sociedade, para de fato tornar possível a
Acessibilidade Universal como Direito de Todos.
Por isso surge um questionamento! Ser contra o estatuto é
ingenuidade ou preconceito?
Ingenuidade, quando as pessoas não conhecem o assunto e
desejam ter razão sobre o mesmo a partir do senso comum.
Preconceito se conhece, mas não participaram do processo de
elaboração do mesmo, ou por que tem outras
intenções privadas, ou não desejam
mesmo contribuir para o aperfeiçoamento da
democratização do saber.
Concordo com a idéia de que o conhecimento é
produzido através das diferenças, individuais,
sociais e culturais.
Sou testemunha, quando vi o Estatuto sendo conversado nas Aldeias
indígenas, nos quilombos, nos Sindicatos, em
reuniões nos Partidos políticos, com as pessoas
com deficiência, cegos, surdos, pessoas com
deficiência visual, pessoas com deficiência
auditiva, pessoas com deficiência física, mental,
com síndromes, professores, técnicos e familiares
aliados a causa, se reúnem e conversam sobre as
possibilidades de acesso e Reconhecimento Político.
Penso que essa movimentação toda, em todo o
Brasil, em defesa do Estatuto da Pessoa com Deficiência, de
autoria de um Senador Negro e um Cego articulador desse Estatuto, em
sintonia e com os movimentos sociais acima citados, estão
trabalhando pela Independência do Brasil, quando
propõe a socialização dos saberes e
poderes legais e políticos.
O Estatuto da pessoa com Deficiência continua aberto para o
aperfeiçoamento e com certeza, se o Estatuto é
deficiente, é por alguns agentes políticos ainda
não se engajaram para torná-lo Eficiente.
A sociedade brasileira clama e tem Esperança de traduzir as
conquistas da Constituição, de forma
rápida e prática. É importante
salientar que todos os decretos e todas as conquistas
históricas, no momento que o Estatuto for aprovado,
transformam-se em Leis, sem nenhum retrocesso.
Os interesses individuais e técnicos não podem
subordinar a Razão Social, produzidos pelos Movimentos
Sociais. Se eu não fosse testemunha, de tantos encontros,
milhares de pessoas envolvidas, talvez pensaria ingenuamente e
preconceituosamente sobre esse tema, mas aprendi muito nessa caminhada
e nessa movimentação do povo, para fora dos
Gabinetes.
Isso me fez enxergar que essa peça legal é
fundamental para o Brasil, num momento que estamos avançando
politicamente no que se refere à
democratização e
socialização dos saberes e na busca da
participação popular e isso deve incomodar muito
os que sempre usufruíram desses instrumentos
particularmente, preconceituosamente eficientes.