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Cinema na Educação

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

A Vida é Bela
O Amor nos tempos da Cólera

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Quando Begnini pulou, vibrando pela conquista do Oscar conquistado por seu filme "A Vida é Bela", os brasileiros sentiram-se um pouco frustrados, afinal de contas entre os derrotados daquela noite encontrava-se o premiadíssimo filme nacional "Central do Brasil". Alguns de nós sentimos uma certa desolação e alimentamos um pouco de raiva daquele italiano sorridente, como se tivessemos perdido a final de uma Copa do Mundo.

Esse sentimento de perda (agravado pelo fato de termos concorrido e perdido em anos anteriores com "O Quatrilho" e "O que é isso, companheiro?") fez com que "A Vida é Bela" fosse durante algum tempo, desconsiderado pelos brasileiros (comentários como "não foi merecido", "o Oscar privilegia aspectos comerciais" ou "o lobby a favor do filme de Begnini foi mais poderoso" tornaram-se comuns durantes os dias que se seguiram a premiação), o que, diga-se de passagem, impediu que muitas pessoas viessem a assistir a essa grande realização do cinema italiano.

Há que se desconsiderar as críticas que se fazem a Roberto Begnini como ator já que ele interpreta a sí mesmo; ele parece ser uma caricatura de alguém quando na verdade está apenas sendo ele próprio. Não que isso tire os méritos desse trabalho ou de outros realizados ou protagonizados por esse ator e diretor italiano, pelo contrário, Begnini é acima de tudo muito engraçado e, suas peripécias interpretativas dão aos filmes nos quais trabalha um sabor próprio das grandes comédias européias, fazendo com que ele ingresse no clube dos atores que se aproximam do estilo do mestre Charles Chaplin (guardadas as devidas proporções no que se refere a obra, época, contexto e capacidade criativa de cada um deles).

O maior mérito de "A Vida é Bela" reside em sua mensagem lírica, muito particular ao cinema italiano através da obra de muitos cineastas (vide neo-realismo italiano dos anos 1950-1960 ou a obra de diretores do porte de Fellini). A história da família de judeus separados pela bárbarie promovida mundo afora pelos nazistas alemães e pelos fascistas italianos poderia, a princípio, parecer-se com a de muitos outros filmes produzidos antes ou depois de "A Vida é Bela", no entanto, o realce dado pelo diretor a relação forte que une pai e filho tocam o coração de todos, mesmo daqueles mais duros ou insensíveis.

Me lembro com clareza da situação em que fiquei quando fui ao cinema assistir esse filme, sentado em minha cadeira por no mínimo mais cinco minutos para me recuperar de todo sentimento e emoção transmitidos pelo filme para o público, no que fui acompanhado por várias outras pessoas (inclusive minha esposa) que por lá se encontravam, paralisadas diante de um espetáculo doloroso e encantador.

O filme conseguiu tocar num tema espinhoso sem provocar grandes convulsões pois apesar de apresentar o aprisionamento e a vida de Guido (Begnini) e Giosué (o menino Giorgio Cantarini) num campo de concentração, em momento algum é ofensivo ou agride o espectador com imagens degradantes de violências praticadas contra os prisioneiros e, além disso, satiriza os oficiais alemães e italianos em algumas ocasiões (o que motivou inúmeras críticas por parte de especialistas em história, que acharam que a forma suavizada de apresentação dos campos de concentração na Itália poderiam confundir uma boa parcela do público).

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Esse filme não tinha a intenção de chocar o público, trazendo a tona denúncias ou incorporando imagens fortes ao cotidiano das pessoas (o que aconteceu, por exemplo, com "A Lista de Schindler"), tentando fazer com que elas se horrorizassem com os acontecimentos daquela época. Um dos ingredientes principais desse longa-metragem consistia em falar sobre a guerra e sobre os dissabores de um conflito como esse, isso é perceptível ao longo das quase 2 horas de projeção, porém, acima de tudo isso estava a questão da família.

O esforço feito pela mãe Dora (Nicoletta Braschi, esposa de Begnini na vida real), se encaminhando para os trens que estavam enviando prisioneiros para o campo de concentração, sem que tivesse sido presa ou forçada, apenas para que pudesse ficar próxima do marido e do filho que para esse destino tinham sido enviados, constitui uma sequência forte, de aguerrimento, de solidariedade e de muito amor.

As formas encontradas por Guido para iludir o filho sobre os propósitos que os levaram a tal infortúnio, mascarando a realidade infeliz na qual estavam inseridos e preservar a inocência e a lucidez do menino são extremamente representativas de sentimentos muito fortes, de laços indissolúveis e de uma marcante proximidade que deveria sedimentar a relação entre todos os pais, mães e seus filhos.

"A Vida é Bela" é um filme contextualizado na Itália da 2ª Guerra Mundial que nos traz uma mensagem de fé e esperança no ser humano, apesar de toda a destruição ao redor dos protagonistas. Diverte, embala os sonhos, faz-nos mais próximos de nossos filhos, acalenta um sonho feliz de vida familiar e nos faz chorar. Nisso lembra muito Chaplin, nessa "montanha-russa" ou "Carrossel" de emoções aliada a pantomina do personagem de Begnini, que tem uma forte reminiscência chapliniana.

Assistir é garantia de fortes emoções. Na escola significa falar de valores que estão em descrédito ou caindo em desuso. Distanciamento entre pais e filhos é situação cada vez mais corriqueira. Estimular o diálogo entre as partes é, a cada dia que passa, mais e mais, uma tarefa nova da escola. Esse filme representa uma das grandes chances de se fazer isso. Que tal uma sessão reunindo pais e filhos na escola?

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Obs.: Que me perdoe o ilustríssimo escritor colombiano Gabriel Garcia Marquez mas, o título desse artigo é quase uma cópia do nome dado a uma de suas obras ("O amor nos tempos do Cólera"), isso me pareceu bastante apropriado em virtude do tema do filme "A Vida é Bela", como fiz trasparecer através do artigo, em que se fala tanto de amor paterno e materno numa época de dor, violência e muito ódio como a guerra.

Ficha Técnica

A Vida é Bela
(La vita è Bella)

País/Ano de produção: Itália, 1997
Duração/Gênero: 112 min., comédia/drama
Disponível:- VHS e DVD
Direção de Roberto Begnini
Roteiro de Roberto Begnini e Vincenzo Cerami
Elenco: Roberto Begnini, Nicoletta Braschi, Giorgio Cantarini, Giustino Durani.

Links

- http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=912
- http://www.adorocinema.com.br/filmes/vida-e-bela/vida-e-bela.asp

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