Cinema na Educação
Wall Street - Poder e Cobiça
Qual é o seu preço? Você está à venda?
Nenhuma cidade encarna com tanto brilho e propriedade o status de metrópole capitalista como Nova Iorque. Seu metrô movimentado, os portos por onde desembarcam produtos, os prédios elevados quase nas nuvens, o batalhão de executivos que caminham pelas ruas e avenidas da “Big Apple” e até mesmo as canções que evocam sua grandeza são alguns símbolos dessa vocação para o dinheiro e os lucros que vemos nessa cidade norte-americana.
Mas entre todos os poderosos símbolos do capitalismo ianque e, particularmente de sua maior e mais conhecida cidade, destacam-se Wall Street e a Bolsa de valores. Cenário de crises intensas vividas ao longo da história, em especial do famoso “crack” da bolsa em 1929 e também de inúmeras histórias de sucesso e gigantescos lucros, como temos acompanhado mais recentemente com a valorização fabulosa dos papéis das empresas do segmento de tecnologia de ponta, como a Microsoft ou, ainda mais presentemente, do Google.
E o que mobiliza e direciona todos a Nova Iorque e a Wall Street? O dinheiro, é claro. Todos querem estar onde os maiores e mais importantes (e vultosos) negócios são fechados. Os Estados Unidos desde há muito tempo é visto por milhões de pessoas como sendo a terra da promissão. Os próprios governantes e cidadãos daquele país sopraram aos ventos por muito tempo a idéia de que seu país seria a terra escolhida por Deus para colher os melhores e maiores frutos que a Terra poderia oferecer aos seres humanos.
Hoje, em virtude do terrorismo e da pobreza que ainda atormenta a existência das populações de seus pobres vizinhos a proposta já não é mais a mesma... Fecham-se as fronteiras, impede-se a entrada de imigrantes, criam-se inúmeras barreiras para quem queira ingressar no mercado de trabalho local, desvalorizam-se certas nacionalidades e etnias,...
Mas a idéia de Terra Prometida já faz parte do imaginário coletivo mundial e o fluxo de pessoas que ainda tentam entrar nos domínios de Tio Sam continua alto. E naquele imenso território há os destinos prioritários e preferenciais para quem entra no país. Los Angeles, San Francisco, Detroit, Chicago, Dallas, Boston, Seattle, Washington (D.C.) e tantas outras cidades cresceram em importância, tornaram-se centros econômicos e políticos destacados dos Estados Unidos, mas nenhuma delas conseguiu (ou conseguirá) atingir o status e a respeitabilidade no mundo dos negócios que Nova Iorque atingiu...
Wall Street é, por sua vez, a Meca local para os investidores, empresários e capitalistas em potencial que queiram chegar aos tão almejados dólares. É lá que estão as “verdinhas”...
Milhões são movimentados no mercado de ações e envolvem produções e resultados financeiros de ontem, hoje e amanhã de empresas presentes em todos os continentes e países. Negociam-se os papéis e, indiretamente, o destino de empresas, produtos, pessoas e até mesmo de governos e países...
De café a petróleo, de bovinos a hardware, de biocombustível a refrigerantes, todos os produtos e serviços que nos habituamos ou precisamos consumir diariamente são alvo de agitados e energéticos corretores e empresas especializadas na compra e venda de ações. Todos querem chegar lá, ou seja, atingir o doce sonho de contas bancárias milionárias (ou bilionárias, como temos visto mais recentemente).
E como chegar lá? De acordo com o personagem Gordon Gekko (Michael Douglas), o importante no negócio é ter acesso às informações, no momento correto, para que os melhores e mais lucrativos negócios possam ser fechados. A mais importante mercadoria do mercado não é, portanto, petróleo, tecnologias de ponta, tabaco, trigo ou Coca-Cola e, sim, a informação...
E nessa guerra pela informação, usando um pouco do conhecimento gerado por Maquiavel, mesmo que de forma distorcida e sem profundidade, não importam os meios a serem utilizados para se atingir tal finalidade, em todos os casos, na luta dos mercados financeiros, o que realmente vem ao caso são os lucros e o sonante depositado nas contas dos investidores...
Talvez essas lições tenham sido tão repetidas, como verdadeiras ladainhas ao longo do tempo que, consolidaram-se como verdades absolutas e acabaram transformando o dinheiro em objeto de culto por parte não apenas dos investidores, empresários e governos, mas praticamente de toda a humanidade...
A sedução das “verdinhas” praticamente dita o ritmo das atividades mundiais, a especulação deixou de ser apenas mais uma febre, se tornando uma verdadeira epidemia e, com isso, qualquer valor ético, religioso, humanitário ou de qualquer outra natureza que se oponha a obtenção dos polpudos rendimentos por parte dos empresários e investidores tem que ser destruído, desmobilizado, tirado de cena,... Será que é esse mundo mesmo aquele em que queremos viver?
O Filme
Buddy Fox (Charlie Sheen, em um de seus melhores momentos no cinema) é um jovem e ambicioso corretor que atua numa empresa mediana do segmento em Wall Street, Nova Iorque. Mas Buddy não quer ser apenas mais um corretor e sabe que a empresa em que trabalha não irá lhe proporcionar as melhores e mais promissoras oportunidades. O crescimento tem que ser rápido, os números de sua conta bancária têm que dobrar, triplicar ou quadruplicar no mais curto espaço de tempo e, aparentemente, os atalhos para chegar lá são poucos e os gurus que o ajudem a chegar aos tão desejados dólares são aparentemente inatingíveis...
E Fox acredita que suas chances reais de crescimento encontram-se no mega-investidor Gordon Gekko (Michael Douglas, em irrepreensível atuação que lhe valeu um merecidíssimo Oscar). Gekko é visto por Fox como o messias que o ensinará os caminhos para chegar aos melhores negócios no mercado de ações... Mas Gekko é quem quer se aproveitar do jovem e de sua ambição desenfreada para aumentar sua fortuna. Para atingir esse objetivo ensina ao novato corretor que o mais importante nesse ramo de atuação é informação de qualidade, fresca, pronta para indicar caminhos que ninguém ainda tomou, fazer fortunas em especulação da noite para o dia...
E como obter essas informações antes dos demais competidores do mercado de ações? Pelas vias legais todos têm as mesmas chances, ou seja, é uma corrida muito mais disputada e imprevisível quanto aos resultados a serem obtidos. Que tal então partir para apostas mais altas e desafiadoras? É nelas que encontramos as pistas que levam ao baú dos tesouros do mercado de ações... Espionagem comercial e industrial são os caminhos mais curtos ensinados por Gekko a Buddy Fox. Os riscos são grandes, a ilegalidade é notória nessa forma de atuação, mas os rendimentos e lucros ao final são muito maiores e a agilidade com que o dinheiro cai nas contas não encontra similares em nenhuma parte do mundo...
“Wall Street – Poder e Cobiça”, filme de 1987, dirigido pelo talentoso e polêmico Oliver Street, traz não apenas grandes atuações de seus protagonistas, mas principalmente uma história envolvente, rica e intrigante sobre o submundo dos negócios no mercado de ações. A interpretação de Michael Douglas como Gekko é tão convincente e impressionante que, poucos são aqueles que depois de ver o filme conseguem sair imunes a seu discurso que prega o lucro a qualquer preço... Não percam é uma lição para quem quer entender o mundo sem limites em que vivemos nos dias de hoje...
Para Refletir
1. Quais são os valores que ensinamos para nossos filhos e alunos nos dias de hoje? Quais são os valores prezados e trabalhados pela escola em que seu filho estuda? Como são tratados assuntos como ética, dignidade, respeito e a relação que estabelecemos com o dinheiro no mundo de hoje? Inúmeras são as pessoas que passaram a cultuar o dinheiro e a adotar o mantra de Gekko em “Wall Street – Poder e Cobiça” e dos empresários e investidores do mercado de ações. É questão primordial pensar sobre o tema para definir (ou redefinir) o amanhã de cada indivíduo ou, pensando um pouco mais longe, de todos nós...
2. Que tal promover projetos em que se busque a história, a definição, uma compreensão mais aprofundada e ainda os parâmetros que regulam a relação entre os homens e o dinheiro. A busca dessa informação tem que ter o propósito de esclarecer, fundamentalmente, que no final das contas, dinheiro não pode e não deve ser visto como objetivo de vida para ninguém e que, no fundo, “as verdinhas” nada mais são do que um meio de troca e não a pedra fundamental da existência humana...
3. Não considero o lucro e a busca da prosperidade como pecados ou chagas capitais, mas ganância e ambição desenfreada constituem abusos e como tal, promovem uma série de conseqüências nefastas a partir do momento em que entram em cena. O maior de todos os erros consiste em acreditar que o lucro tem que ser atingido a qualquer custo e que, para isso, é “permitido” até mesmo desrespeitar os direitos básicos dos cidadãos e passar pessoas, empresas, governos e países para trás...
4. “Wall Street” tem várias passagens em que se discute a relação entre os homens e o dinheiro. Trabalhe com seus alunos uma pesquisa sobre quais seriam as mais significativas e que idéias e valores são apresentados e discutidos nas mesmas. (Como dica importante para essa atividade vale lembrar que o personagem Carl Fox, protagonizado por Martin Sheen, pai de Buddy Fox na trama e também do ator Charlie Sheen na vida real, personifica o contraponto a ambição desenfreada de Gordon Gekko, o magnata investidor interpretado por Michael Douglas).
Ficha Técnica
Wall Street – Poder e Cobiça
(Wall Street)
País/Ano de produção: EUA, 1987
Duração/Gênero: 126 min., Drama
Indicação Etária:14 anos
Direção de Oliver Stone
Roteiro de Oliver Stone e Stanley Wiser
Elenco: Michael Douglas, Charlie Sheen, Martin Sheen, Daryl Hannah, Sean Young, Terence Stamp, Hal Holbrock, James Spader, Chuck Pfeiffer, Franklin Cover, Tamara Tunie.
Links
http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=6448
http://www.adorocinema.com/filmes/wall-street/wall-street.asp
http://www.cinemaemcena.com.br/ficha_filme.aspx?id_filme=2914&aba=detalhe