A Semana - Opiniões
Faça a coisa certa...
Temos que nos unir para combater a corrupção
O Brasil tem muitos problemas. A baixa qualidade da educação, o deficiente sistema de saúde pública, a violência disseminada, a crise nos aeroportos, estradas esburacadas que precisam de manutenção, a altíssima carga tributária que incide sobre os cidadãos,... Se fôssemos enumerá-los todos certamente gastaríamos um tempo razoável. Mas, se tivéssemos que eleger, entre os vários problemas que assolam a nação, qual deles seria, em sua opinião, o mais grave e sério?
Enquanto educador poderia direcionar minhas atenções às questões que afligem nossas crianças, salas de aulas, escolas, professores e demais envolvidos com o processo de ensino-aprendizagem. Nesse sentido teríamos que nos debruçar em estudos que viabilizassem uma melhoria acentuada na qualidade da educação no mais breve espaço de tempo. E inúmeras soluções seriam listadas, como já vem ocorrendo, por especialistas e estudiosos (entre os quais me incluo), para que nossa educação efetivamente progrida, corrija seus erros e permita aos estudantes uma formação para o pleno exercício de seus direitos e deveres.
Há várias pessoas que acreditam que qualquer solução para o país passa pela redistribuição da riqueza. Não discordo nem um pouco desse raciocínio. O Brasil é, conforme demonstram pesquisas internacionais, uma das nações mais injustas no que se refere à divisão do bolo de riquezas aqui gerado anualmente. O combate à pobreza, a extinção dos focos mais acentuados de miséria, a criação de projetos sociais que promovam e assistam as populações mais carentes seria, então, a maior de todas as prioridades. A fome é mais que uma premência para essas pessoas e, pensam os defensores dessa corrente, que temos que colocar comida na mesa, gerar emprego, incluir essas pessoas no mercado consumidor,...
Tantos outros dizem que se a população é doente e padece com inúmeras enfermidades, como poderia assumir compromissos escolares ou de trabalho? Nem mesmo se alimentar corretamente conseguem pessoas que estão infectadas com dengue ou com qualquer outra doença contagiosa que assola as periferias e até mesmo as maiores metrópoles. Com o sistema público de saúde ineficiente que possuímos, como conseguiremos, de fato, combater epidemias, promover campanhas de prevenção, cuidar de pessoas acidentadas ou ainda realizar atividades educativas que ajudem a conscientizar as pessoas quanto as medidas a serem tomadas para evitar novas enfermidades?
E assim poderíamos continuar. Pensando problema atrás de problema, buscando causas e conseqüências, diagnosticando a situação até que conseguíssemos articular planos “miraculosos” que, ao menos nos sonhos, extirpassem tais males do país...
Infra-estrutura nacional deteriorada... Os buracos nos cofres públicos gerados pela corrupção causam o surgimento de crateras nas estradas do Brasil...
É claro que seria fantástico se ao menos um desses graves dramas que assolam o cotidiano dos brasileiros fosse solucionado, mas pouco ou nada adiantaria tal feito se levarmos em conta que todas essas situações estão interligadas, ou seja, que uma interfere direta ou indiretamente com a outra...
Exemplificando, podemos tornar a escola brasileira a melhor do mundo e, certamente isso irá interferir no cotidiano, melhorando muito as possibilidades do país, mas como fazer isso realmente acontecer se muitas crianças nem ao menos se alimentam antes de ir para a escola ou ainda se vários desses alunos vão para as aulas doentes... Que rendimento poderíamos esperar dos mesmos?
Ou ainda... Há crianças que não conseguem chegar às escolas, pois as vias de acesso estão deterioradas ao extremo... Estradas esburacadas por onde não passam ônibus ou automóveis, ou ainda escolas que ficam muito distantes de regiões mais periféricas e isoladas e que, por isso, não conseguem acolher todos os alunos para realizar o ensino.
O que fazer então? Há algum problema que tenha tamanha dimensão que sua existência interfira em todos os demais? Certamente que sim. E qual é essa chaga maldita? Trata-se da corrupção.
Pensemos mais pausadamente sobre o assunto... O desvio de verbas públicas obriga as autoridades a reporem os buracos deixados nos cofres públicos de alguma forma... Como essa situação tem sido sanada? Aumentando a carga tributária, criando novas taxas (como a CPMF, que surgiu Provisória e os governantes tentam fazer da mesma Permanente). Trabalhamos aproximadamente cinco meses para pagar impostos no Brasil. Trata-se de uma das maiores cargas tributárias do mundo, equivalente a de países com a Noruega, a Suécia ou a Dinamarca... A diferença é que lá os impostos são transformados em serviços públicos qualificados... Não à toa esses países são considerados os mais desenvolvidos e justos socialmente de todo o mundo... E o Brasil?
O dinheiro desviado por qualquer funcionário público poderia estar salvando vidas, ajudando a educar muitas crianças ou ainda poderia alimentar e gerar emprego para inúmeros cidadãos pobres do país...
Se apenas diminuíssemos o impacto da corrupção que causa enormes rombos no orçamento de municípios, estados e da própria nação, aos níveis de países onde o controle é eficiente e ostensivo – como o Canadá ou a Austrália – isso significaria um montante de recursos disponíveis para aplicar que tornaria todos os serviços públicos nacionais dignos de figurar entre os melhores do planeta. Não estou falando de extirpar por completo essa maldita praga chamada corrupção, pois mesmo nos países mais ricos e evoluídos social, cultural e politicamente ainda existe esse problema, se bem que em dimensões praticamente insignificantes (ainda mais se compararmos com o nosso país).
A questão da corrupção no Brasil não se refere apenas ao setor público, onde inúmeras maracutaias maqueiam os contratos entre o setor público e o privado, fazendo com que um serviço ou um produto que custaria cem reais seja vendido aos governos por duzentos, trezentos ou quatrocentos reais (quando não dólares ou euros) para se pagar propinas aos responsáveis pela contratação de tais empresas.
O mal é endêmico e afeta também a iniciativa privada. Não são incomuns casos de empresas em que funcionários ou setores inteiros atuam em favor de seus próprios interesses e em detrimento do conjunto de empregados e dos próprios empresários ou investidores. Evidentemente quando são pegos a medida mínima tomada pelas empresas em questão é a demissão por justa causa, mas em muitos casos o ocorrido se estende por tão longo período que os envolvidos conseguem fazer um pé de meia, criar seus próprios negócios, sair das empresas e ainda rir das mesmas quando se descobrem irregularidades que podem levá-las a falência...
O caso em questão é grave demais e isso se deve ao fato de que “levar vantagem em tudo”, utilizando do famoso “jeitinho brasileiro” e mostrando-se “esperto” aos olhos dos demais virou lei. Isso já está estabelecido culturalmente e, a desmontagem ou desarticulação dessa forma de pensar que já está assentada no inconsciente coletivo brasileiro exige verdadeira lavagem cerebral que atinja principalmente a próxima geração de compatriotas, ou seja, nossos filhos e netos (isso sendo bastante otimista).
O combate à corrupção passa por uma mudança nos valores que prevalecem no país e exige verdadeira lavagem cerebral, ou seja, a chaga não apenas se institucionalizou nos setores público e privado, mas virou parte da cultura dominante no país. Quem participa é “esperto” e que é honesto passa a ser considerado “bobo”, “ingênuo”,...
Para tanto teríamos que criar um forte, coeso e consciente movimento nacional em prol dessa causa. Isso modificaria muito do que vemos ao nosso redor, por exemplo, promoveria alterações no conteúdo veiculado através da televisão, da internet ou de qualquer outro veículo de comunicação de massa. Ao invés de vermos nas novelas e filmes exemplos de pessoas que cresceram enganando os outros ou ainda roubando as empresas em que trabalham, lesando os cofres públicos teríamos essas pessoas pagando por seus crimes e não fugindo impunes do país e de suas autoridades, saudadas de longe com gestos obscenos e deploráveis...
Da mesma forma, as instituições teriam que ser mais fiscalizadas e cobradas pela população. Não podemos, por exemplo, ter um dos congressos nacionais mais caros do mundo como possuímos no momento. Pagamos mais para nossos parlamentares do que os norte-americanos, os italianos ou os espanhóis. Países que são muito mais desenvolvidos e ricos do que o Brasil... Para onde vai todo esse dinheiro? Que projetos de valor estão realmente sendo aprovados? Que questões estão consumindo tempo e recursos sem que isso redunde em benefícios para a população? Quanto desse dinheiro financia campanhas ou benesses pessoais para os congressistas?
O sistema de três poderes teria que funcionar para que cada um dos poderes fiscalizasse e cobrasse os demais. Mas para isso dar certo, só se todos fizerem pressão e se comprometerem com o que é justo, digno, ético e a favor da cidadania...