Planeta Educação

A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

A educação precisa de "educadores"
Pesquisa inglesa conclui que o essencial são professores qualificados

Sala-de-aula 

O governo britânico, diz Sir Michael Barber, antigo assessor do ex-primeiro ministro Tony Blair, mudou quase todos os aspectos da política educacional na Inglaterra e no País de Gales, e em muitos casos mais de uma vez.

"As verbas das escolas, a gestão, os padrões curriculares, os sistemas de avaliação, o papel dos governos local e nacional, o alcance e a natureza das agências nacionais, a política de admissão escolar" - pode escolher: tudo isso foi mudado, e em certos casos posteriormente devolvido à forma original.

A única coisa que não mudou foram os resultados. (“O que funciona na educação: as lições segundo a Mckinsey”, artigo da Economist, publicado no Brasil pela Folha de São Paulo no dia 28 de Outubro de 2007).

A afirmação acima foi extraída de artigo publicado pela prestigiada revista inglesa Economist e nos é bastante fortuita. Demonstra que, primeiramente, a Inglaterra está preocupada com a qualidade da educação de suas crianças e jovens.

Também nos permite perceber que mudar tudo o que se refere à educação escolar – dos currículos, passando pela avaliação e chegando até mesmo a gestão das escolas (entre outras alterações) – não significa garantia de resultados melhores nas escolas.

Ao seguirmos na leitura do artigo publicado pela Folha de São Paulo ficamos sabendo também que todas as mudanças realizadas na Grã-Bretanha não significaram “melhora mensurável nos padrões de alfabetização e de domínio de matemática”, isso levando-se em conta os últimos 50 anos...

Somos também informados que todas essas reformas perpetradas no sistema educacional significaram investimentos vultosos por parte do governo inglês. Situação análoga ao que ocorreu em outros países ricos e desenvolvidos como os Estados Unidos e a Austrália.

Nessas nações, como na Inglaterra, os pífios resultados obtidos pelos estudantes locais nos exames internacionais (comparativamente com os de outros países), colocou em alerta as autoridades nacionais responsáveis pela educação quanto à necessidade de rever e, obrigatoriamente, reestruturar seus sistemas educacionais.

Os países de primeiro mundo levam realmente a sério testes como o PISA (Programa de Avaliação Internacional de Estudantes), organizado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), e isso serviu como motivador de suas ações na busca de respostas a um problema premente de sérias conseqüências para o futuro de seus países e habitantes.

Muitas dúvidas na cabeça e, para inúmeras pessoas a solução seria tão simples quanto colocar a mão no bolso e sacar mais recursos públicos para equipar as escolas com o que existisse de melhor em termos de recursos didáticos e instalações, salários e condições mais dignas e incentivadoras ao trabalho dos professores e ainda cursos de atualização dos conhecimentos por parte dos docentes.

Professora-alunos

Escutar é tão importante quanto falar e explicar conteúdos. Valorizar a experiência dos alunos e suas histórias de vida são ações que facilitam e valorizam o ensino.

Chegamos então a uma outra constatação verificada pela pesquisa realizada pela prestigiada consultoria britânica Mckinsey: A maior quantidade de recursos disponibilizada para a educação não é uma plena garantia à melhoria da qualidade do ensino. Seria bem mais fácil e muito melhor que o simples aporte de recursos financeiros pudesse realizar essa mágica.

Mas a realidade tem demonstrado que países em que o investimento é alto, como a Coréia do Sul ou o Japão, tem ao seu lado no topo da lista de países com melhor educação no mundo, nações como Cingapura ou o Chile, que não dispõe de tanto dinheiro para colocar em salas de aula...

Nesse sentido vale inclusive lembrar que a disponibilização de recursos na Inglaterra, na Austrália e nos Estados Unidos é muito maior do que em Cingapura ou no Chile.

É claro que ninguém é tolo o suficiente para abrir mão de recursos que possam melhorar a qualidade dos instrumentos e serviços oferecidos nas escolas.

Mais verbas podem resultar em bibliotecas, laboratórios de ciências, salas de aulas equipadas, ambientes de informática plugados a internet, salários melhores, cursos de atualização,... O que se está dizendo é que essas medidas são apenas “perfumarias” se não forem realizadas outras três alterações verdadeiramente essenciais...

...as escolas precisam fazer três coisas: obter os melhores professores, extrair o máximo deles e intervir quando os alunos começam a ficar para trás.

Isso talvez não pareça exatamente uma recomendação “sem precedentes”: as escolas com certeza já devem agir dessa maneira. Mas a verdade é que não o fazem. (“O que funciona na educação: as lições segundo a Mckinsey”, artigo da Economist, publicado no Brasil pela Folha de São Paulo no dia 28 de Outubro de 2007).

O mais interessante nisso tudo é que o elemento central de toda e qualquer alteração no que tange a educação é o corpo docente.

Tanto os professores, citados diretamente no texto da publicação, e que se constituem nos “pivôs” da qualidade na educação, quanto os gestores das escolas, que devem ser capazes de identificá-los, de cobrar dos mesmos o máximo empenho e intervir quando as coisas não estão dando certo, são os elementos-chave da mudança rumo à qualidade.

 O problema é que, como a própria matéria destaca, imaginamos que isso já deva estar sendo feito. E é isso que muitas vezes nos é repassado como informação a partir das próprias escolas e profissionais que nelas atuam. Isso mesmo quando os resultados de testes nacionais e internacionais nos dizem exatamente o contrário.

E, é claro, nesse caso, o que se aplica a Inglaterra ou a qualquer outro país desenvolvido, também acaba acontecendo no Brasil.

Mas, infelizmente, não está. A gestão não é profissionalizada no sentido da plena e objetiva administração dos recursos humanos e materiais disponíveis nas escolas e nas redes de ensino.

A formação para a função é deficiente e não há aprofundamento através de estágios ou escalas progressivas de crescimento profissional na educação brasileira. Nossos gestores educacionais são equipados com algum “verniz” acadêmico para o exercício de suas funções e só... É muito pouco...

Professor-alunos

O professor precisa variar metodologias, utilizar todos os recursos a seu alcance e principalmente se relacionar com respeito e sabedoria com seus estudantes.

Temos que valorizar seu esforço e boa vontade. Isso realmente não falta. No entanto a educação e o país pedem mais, muito mais... Da mesma forma, entre os professores, os cursos de graduação por eles freqüentados deixam muito a desejar em sua maioria.

Não trabalham de forma privilegiada a questão das metodologias, filosofias, história da educação e principalmente a relação humana que se desenvolve em sala de aula. Os estágios são cumpridos apenas para que a carga horária seja complementada e o diploma possa ser expedido e validado.

Ao terminarem os cursos, e em grande parte da história de vida da maioria dos professores antes do final da graduação, esses professores já estão em sala de aula.

E como não tem a devida formação e orientação, acabam apenas reproduzindo conteúdos e revivendo práticas de profissionais com os quais se identificaram ao longo de sua formação.

Consumidos pelo cotidiano acabam não lendo, fazem poucos cursos (muitas vezes apenas por obrigação), não realizam a ponte entre o universo dos alunos e das escolas com a realidade e o mundo e, em suas aulas, apenas reproduzem, ano após ano, os mesmos saberes livrescos (em muitos casos, repetindo falas de materiais didáticos de qualidade duvidosa).

E a que conclusões chegou a pesquisa da Mckinsey? Vamos a ela e, sinceramente esperamos que esse importante fechamento seja aproveitado por todos...

As conclusões da Mckinsey parecem mais otimistas: obter bons professores depende de como você os seleciona e treina; lecionar pode se tornar uma carreira para os melhores formandos mesmo que não sejam oferecidos salários milionários; e, com as políticas corretas, as escolas e os alunos não estão condenados ao atraso. (“O que funciona na educação: as lições segundo a Mckinsey”, artigo da Economist, publicado no Brasil pela Folha de São Paulo no dia 28 de Outubro de 2007).

Obs.: O artigo “O que funciona na educação: as lições segundo a Mckinsey” estão disponíveis no link http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2810200712.htm (somente para assinantes UOL ou Folha de São Paulo).

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