Você é o que você come... - 03/10/2007
Cuidado, a obesidade nos espreita...
"...a obesidade hoje é considerada uma epidemia. Pode-se mesmo afirmar que é o problema mais candente de saúde pública (nos EUA) que enfrentam, custando ao sistema de saúde aproximadamente U$ 90 bilhões por ano. Três em cada cinco americanos sofre de excesso de peso; um em cada cinco é obeso. A doença antes conhecida como diabetes, com início na fase adulta, teve que ser renomeada como diabetes tipo II, já que ocorre agora com freqüência entre crianças. Um estudo recente no Journal of the American Medical Association prevê que uma criança branca nascida no ano 2000 tem uma chance em três de desenvolver diabetes. (...) O problema não se limita aos Estados Unidos: as Nações Unidas registram que, no ano 2000, o número de pessoas que sofriam de supernutrição - 1 bilhão - ultrapassou oficialmente o número dos que sofriam de subnutrição - 800 milhões." (Como os americanos ficaram tão gordos, artigo escrito por Michael Pollan, disponibilizado na revista Época Negócios, nº 4, de junho de 2007).
Atuo
como professor de história da gastronomia no Senac de Campos
do Jordão há mais de 5 anos. Como tenho 40 anos
de idade, assisti a modificação dos
hábitos alimentares da humanidade, mais especificamente a
partir daquilo que vivemos no Brasil, quase que copiando o modo
americano de vida constantemente, durante todo esse tempo. Ao me
debruçar sobre os livros, artigos, reportagens e materiais
na internet sobre a alimentação atual, me deparo
com a constatação de que vivemos uma crise
alimentar... Gerada pela superprodução de
alimentos... Que está ocasionando uma epidemia de
supernutrição...
Isso não quer dizer que a subnutrição,
um grave e ainda grandioso problema tenha sido solucionado. Os
índices são alarmantes quando falamos de fome e
das doenças causadas pela péssima
distribuição das riquezas no planeta, em especial
nas regiões mais subdesenvolvidas, como no continente
africano.
O que nos causa apreensão, no entanto, é que
enquanto milhões padecem em virtude da fome, tantos outros
milhões sofrem pelo consumo excessivo e desregulado de
alimentos em outras regiões do globo, com maior destaque
para o que ocorre nos Estados Unidos.
Somos
inteligentes ou não para sabermos o que devemos consumir e
em que quantidades para evitar tais problemas? Pergunto-me ainda se
não seria possível que parte dos excessos
alimentares cometidos nos EUA e em outras nações,
inclusive no Brasil, não poderiam desencadear movimentos em
favor de uma reeducação alimentar a partir das
escolas que tivesse plena colaboração das
famílias?
Penso ainda que nossos excessos poderiam também desencadear
movimentos de solidariedade com o envio de excedentes das
produções de alimentos para as
nações onde a questão é a
fome e a subnutrição como
doações ou, pelo menos, com preços
abaixo daqueles que são cobrados regularmente nos mercados
internacionais...
O acompanhamento médico em casos de ganho excessivo de peso
entre crianças e adolescentes é de fundamental
importância para que medidas necessárias e
adequadas quanto ao controle da obesidade sejam tomadas.
Pode ser apenas utopia ou idealismo excessivo crer que transformações dessa natureza sejam possíveis, mas ainda assim gostaria de apresentar a idéia para, quem sabe, com o auxílio de muitas outras pessoas, criar abaixo-assinados e mobilizações em favor desses propósitos. O que não podemos é permitir que pessoas adoeçam e morram nesse mundo em que vivemos nas duas pontas de uma cruel balança, ou seja, de fome ou pelo consumo excessivo de alimentos que ocasiona diabetes, obesidade,...
O mais interessante em tudo isso é perceber que, em virtude dos modernos meios de comunicação, ficamos sabendo dessas questões e somos informados de novas pesquisas e dados acerca da alimentação praticamente todos os dias. Institutos de pesquisa, universidades, grupos governamentais de todos os países, sites da internet (especializados ou não) e publicações de grande tiragem e alcance têm, literalmente, “bombardeado” a população com inúmeras reportagens e artigos sobre o assunto.
E o que fazemos? Modificamos os nossos hábitos alimentares? Reeducamos nossas crianças? Incentivamos a prática regular de atividades físicas por parte de adultos sedentários ou de idosos? Cobramos as autoridades por mais investimentos em escolinhas de esporte para as crianças e adolescentes? Ou será que estamos simplesmente cruzando os braços e deixando o tempo passar, como se nada estivesse acontecendo, ou como se isso não estivesse comprometendo o futuro de gerações inteiras...
O recente lançamento de mais um filme (Nação Fast Food) acerca dos malefícios da alimentação em lanchonetes, com base em comidas gordurosas, que aumentam drasticamente as taxas de colesterol ou triglicérides, em condições muitas vezes insalubres ou desconhecidas de produção e manuseio, dentro de um ritmo industrial de produção é apenas mais um alerta e um indício de que precisamos repensar a alimentação contemporânea, em especial no mundo ocidental.
Nesse sentido a escola tem papel decisivo, através de todas as disciplinas, em projetos que envolvam professores de ciências, matemática, história, geografia, português, artes, educação física e línguas estrangeiras. A cada um deles caberia utilizar textos, filmes, músicas, fotos, reportagens e livros acerca do tema para que o mesmo ficasse cada vez mais claro, transparente e vívido entre as crianças e os adolescentes. Uma campanha de porte nas escolas poderia e deveria envolver as famílias – orientando para o estabelecimento de dietas variadas, com legumes, verduras, cereais, carnes magras, laticínios, frutas e ainda revalorizando hábitos e práticas saudáveis de convívio a mesa e também de brasilidade (com a recuperação de receitas típicas e próprias de nossa cultura).
Penso que, além disso, as escolas precisam criar projetos esportivos que façam nossas crianças jogar vôlei, basquete, futebol, handebol ou ainda lutar judô, nadar, correr, pular,... Esporte ajuda a manter a forma, disciplina os praticantes e evita o ócio improdutivo que leva muitas crianças e jovens a se envolver com questões marginais, como as drogas...
“Fast
Food Nation” é mais uma
produção cinematográfica que, como
“Super Size Me”, denuncia irregularidades e abusos
cometidos pelas redes de lanchonetes especializadas nesses produtos e
tenta alertar a população quanto a necessidade de
uma reeducação alimentar.
Há movimentos internacionais que estimulam essas práticas, como o Slow Food, que literalmente se contrapõe ao Fast Food e as lanchonetes ao mesmo tempo em que incentiva a celebração das refeições, como movimentos que reúnem as pessoas e as levam ao diálogo, a amizade, a uma mastigação adequada, ao sabor dos alimentos e a uma digestão melhor daquilo que foi consumido.
Sei que algumas pessoas devem estar lendo o texto e imaginando que no ritmo acelerado do mundo em que vivemos tudo o que escrevi parece irreal e distante. A essas pessoas resgato o conselho de um médico que me atendeu quando estava com stress, há alguns anos.
Disse-me o clínico geral que sabia que não seria possível que eu parasse de trabalhar, desistisse de compromissos assumidos (como os cursos que fazia na época), deixasse de me preocupar com a família ou ainda que parasse de pagar as contas, mas que ao invés de sempre andar em ritmo acelerado, subindo escadas a todo o vapor, preocupando-me demasiadamente com o tempo, eu deveria andar em ritmo normal, tranquilamente, subindo ou descendo escadas, alimentando-me com equilíbrio, degustando o que comesse, guardando alguns momentos do dia para mim (praticando exercícios, exercitando meus prazeres como a leitura ou o cinema, convivendo com a família, vendo os amigos,...).
Desacelere. Viva com mais intensidade e sabor. Seja feliz!
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