Querida Escola - 01/10/2007
Rosangela Gera
Do trabalho pedagógico desse segundo trimestre pude observar grande motivação e interesse da Laura em tudo que estava sendo abordado, a margarida friorenta, macaco assovia, histórias com sapo e perereca, tudo isso foi comentado por ela em casa.
Sua curiosidade pela ortografia das palavras também tem aumentado e o "ch" e "nh" já foram acrescentados em suas perguntas.
A plena participação da Laura em cada projeto pedagógico desenvolvido pela escola me deixa tranqüila e segura.
Ensinar à Laura o código braile, a partir do esforço pessoal de cada professor em aprendê-lo nesse compromisso exemplar de inclusão escolar é algo digno de nota e que certamente dá ao trabalho que realizam um valor ainda maior.
A escola aceitou o desafio e tenho certeza de que estamos no caminho certo.
A Laura não precisa ir para outra escola num contra turno para aprender aquilo que todos já percebemos que é possível aprender e ensinar.
No seu outro turno pode brincar, aprender música, inglês, nadar e no final da sua educação infantil terá esta escola o mérito de ter ensinado a uma menina cega a ler e escrever em braile, sem que por aí precisasse ter passado um especialista.
Vocês estão dando um pequeno passo na direção de uma grande mudança na educação, estão mostrando na prática que o discurso teórico é tangível e alcançável.
Por acreditar nisso, sou insistente, às vezes rigorosa, (chata mesmo !) mas o fato de querer que fiquem atentos a essa aluna diferente é um empenho que vai além da preocupação de mãe coruja que sou, significa o desejo de que realmente o Castelinho seja uma escola inclusiva, o que significa estar sempre respondendo às seguintes perguntas:
"O
que estou fazendo diferente na sala de aula para aquele aluno apenas
por causa da sua deficiência?
Sou menos ou mais tolerante?
Passo o mesmo
conteúdo?
Cobro os mesmos resultados?
Qual é minha
expectativa?
Transformo o caminho da
explicação para que esse aluno alcance o seu
significado?
Conheço o
suficiente sobre o que estou ensinando?
Enfim, este é um trabalho que se constrói a muitas mãos mesmo, e muitas informações e pesquisas devem fazer parte dele.
Ensinar o mundo, as cores, as sombras, as letras através do tato é um desafio enorme, mas certamente maior do que esse desafio é a nossa alegria de ver a Laura assim tão entusiasmada, tão curiosa pela vida, tão vivaz e esperta, tão criativa e sobretudo tão feliz .
E como a escola é o segundo lugar na vida onde aprendemos as coisas mais importantes, vocês todas têm uma incrível participação em tudo isso .
E o segredo desse sucesso é o amor que demonstram pelas crianças e pelo trabalho que realizam, o que com certeza alimentará o sucesso de todo projeto pedagógico que elaborarem.
Bem, era isso, até a próxima.
Um abraço,
Rosangela Gera.
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