Universo Escolar
Marina da Silveira Rodrigues Almeida Graduação em Psicologia pela UNISANTOS, Pedagoga em Educação Especial pelo Centro de Estudos Superiores do Carmo, Fundadora do Instituto Inclusão Brasil, Consultora em Educação Inclusiva e publicou vários livros sobre o tema.

Sexualidade na Sala de Aula - 10/09/2007
Introdução

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A Sexualidade Infantil

Hoje em dia, as crianças, em sua maioria já sabem que o nenê "sai da barriga da mãe". Mas esta é a resposta mais simples e outras perguntas complementares ainda suscitam dúvidas e ansiedade no momento de serem respondidas, principalmente quando questionam "como o bebê entrou na barriga da mãe"?

Além disso, comportamentos infantis que demonstram a sexualidade da criança são muitas vezes difíceis de serem trabalhados, tanto em casa como na escola. Brincadeiras de descoberta sexual, masturbação, atitudes que aparentam homossexualidade são alguns fatos comuns observados no cotidiano infantil e seguidamente são mal compreendidos ou mal conduzidos pelos adultos que lidam com as crianças. Portanto, faz-se necessário um maior entendimento teórico sobre sexualidade infantil para que haja menos inadequações no manejo destes comportamentos.

A sexualidade da criança começa no imaginário dos pais, antes mesmo do nascimento. Todos os pais têm expectativas em relação a seus filhos, conscientes ou inconscientes, e uma destas diz respeito à sexualidade da criança. Esta ao nascer pode corresponder à expectativa ou não e se desenvolverá conforme for a aceitação do sexo da criança pelos pais.

A partir do nascimento podemos classificar a curiosidade sexual de forma genérica em:

1ª curiosidade sexual - auto-descobrimento do corpo
2ª curiosidade sexual - eliminação de excreções
3ª curiosidade sexual - diferenciação dos sexos
4ª curiosidade sexual – nascimento
5ª curiosidade sexual – puberdade
6ª curiosidade sexual – adolescência

Para responder aos questionamentos de ordem sexual das crianças deve-se ter claro que "a criança que tem idade para perguntar, tem idade para ouvir a resposta".

O tom de voz, o olhar, a postura de quem responde devem ser valorizados para que não sejam artificiais nem repressores.

Para satisfazer a curiosidade infantil o adulto deve seguir os seguintes princípios:

  1. Saber por que e de onde vem a pergunta;
  2. Honestidade;
  3. Restringir-se à pergunta feita, sem se estender;
  4. Progredir com base no que a criança já conhece;
  5. Fornecer explicações em linguagem simples e familiar;
  6. Sempre que possível corresponder ao momento em que a criança solicita;
  7. Repetir, se necessário.

Em relação aos comportamentos sexuais observados em sala de aula como beijos, exploração do corpo do colega, jogos sexuais, o educador pode pautar-se sobre os mesmos princípios que usa para outros comportamentos inadequados em aula, ou seja, demonstrar que entende a curiosidade, mas que a escola é um lugar onde se deve respeitar a vontade dos outros e que estão lá para aprender, brincar, etc.

O educador não deve se omitir, ao contrário, deve orientar para brincadeiras e comportamentos adequados, mas sem passar valores morais reprovadores como se a curiosidade fosse algo negativo, "feio" ou pecaminoso.

Alguns profissionais, na tentativa de serem "modernos" estimulam uma sexualidade precoce incentivando danças de músicas atuais erotizadas, namoros entre os alunos, identificação com modelos da mídia, etc..

As crianças e adolescentes procuram corresponder às expectativas dos adultos e acabam se expondo inadequadamente para sua faixa etária e assumindo rótulos distorcidos de seu gênero sexual, tais como: mulher se exibe, usa vermelho, usa baton, e homem é machão, usa calça comprida, usa azul... Estas questões deverão ser debatidas e esclarecidas na escola, mostrando que há uma diferença entre o real e o imaginário social, midiático, familiar, escolar, promovendo desta maneira uma consciência humanizadora e possível.

A sexualidade infantil é inerente a qualquer criança e sua demonstração será particular a cada uma, sendo que aos educadores cabe conhecê-la, respeitá-la, conduzi-la de forma adequada, sem estimulação nem repressão e tendo sempre em mente uma auto-reflexão de sua própria sexualidade.

A questão de convocar os pais para conversar sobre a sexualidade do aluno deverá ser investigada caso a caso:

  1. Qual o propósito desta convocação?
  2. O que vou contribuir?
  3. O que espero dos pais?
  4. Por que isto me incomoda?
  5. Há sincera preocupação ou pré-conceito disfarçado?
  6. Por que acredito que ser heterossexual é o correto, aceitável?
  7. Por que o homossexualismo me incomoda? Etc.

Na dúvida procurar algum profissional da escola para discutirem o assunto, antes de convocar os pais. Lembre-se de que qualquer forma de discriminação é crime previsto na Constituição Federal.

Homossexualidade

Eis um tema delicado, a ser cogitado com prudência, cautela, e ampla reflexão, na atualidade de nossas experiências evolutivas.

A homossexualidade se define pela tendência da criatura ter preferência sexual para relacionar-se e conviver com outra criatura de seu mesmo sexo.

Esse impulso, na ciência do comportamento, ainda não encontra explicações razoáveis ou justas na área da psicologia, por que essa ciência ainda não está inteiramente realizada.

Neste sentido a orientação da libido de uma pessoa em direção a um objeto do mesmo sexo, ou em direção a um objeto do sexo oposto, não tem diferença essencial qualitativa ou normativa, isto é, esta ou aquela orientação não é mais ou menos adequada, normal ou patológica do que outra.

Escreve Freud (1905) nos Três Ensaios sobre a Sexualidade:

"O afeto de uma criança por seus pais é sem dúvida o traço infantil mais importante que, depois de revivido na puberdade, indica o caminho para sua escolha de um objeto sexual, mas não é o único. Outros pontos de partida com a mesma origem primitiva possibilitam ao homem desenvolver mais de uma linha sexual, baseada não menos em sua infância, mas também no ambiente, nas relações, na história individual, etc. estabelecendo condições muito variadas para sua escolha de objeto sexual." (...) "As inumeráveis peculiaridades da vida erótica dos seres humanos, assim como o caráter compulsivo do processo de apaixonar-se, são inteiramente ininteligíveis, salvo pela referência à infância e como efeitos residuais da infância".

É interessante assinalar que a homossexualidade tanto quanto a heterossexualidade são comportamentos e, enquanto tais, não significam necessariamente identidades.

Freud tinha uma noção clara dessa questão e, não obstante as dificuldades e os aspectos, patológicos ou não, relacionados com os comportamentos sexuais, jamais considerou homossexualidade como algo patológico em si. Pelo contrário, o que com ele a psicanálise desenvolveu, independente das várias escolas de pensamento analítico, foi uma visão que procurou, como em qualquer outro comportamento humano, relacionar sua raiz à origem corporal e material da mente, ou seja, ao mundo da infância.

Assim no seu ensaio "Sobre a Psicogênese de um Caso de Homossexualismo Feminino" (1920) Freud escreve:

“Não compete à psicanálise solucionar o problema do homossexualismo. Ela deve contentar-se com revelar os mecanismos psíquicos que culminaram na determinação da escolha de objeto, e remontar os caminhos que levam deles até as disposições instintuais”.

Portanto a Psicanálise contribui para o individuo redefinir sua vida, sua auto-estima, seu posicionamento no mundo mental e adaptação ao mundo social.

Se a raiz é infantil, quando se trata de um adulto, ou mesmo de uma criança ou adolescente, a árvore já nasceu, cresceu e sua folhagem abre-se para algo que ainda não se perfez. Tudo que é vivo é inconcluso, imperfeito, não terminado, incluindo o modo de comportar-se não sendo possível uma intervenção quer seja analítica, escolar, moral, nos restando compreensão e empatia. Caso estes sentimentos não apareçam provavelmente à relação quer seja com o aluno x educador ou analista x paciente será truncada, provavelmente não haverá crescimento humano.

É útil considerarmos a sutil diferença de tratarmos qualquer pessoa por sua orientação sexual e transformá-la na identidade do sujeito: ele é gay, ela é lésbica, etc.

Criamos um estigma de identidade, assim "(...) um adjetivo pode se tornar um nome e o possuidor de uma pulsão homossexual é então chamado um homossexual. Aquilo que era apenas uma pulsão dentre outras foi transformado, pela magia das palavras, em uma identidade, um estado, um distúrbio, uma doença, uma perversão".

Não existe nada que possa “explicar” a homossexualidade e, portanto, não pode existir teoria unitária quanto à etiologia, a dinâmica ou tratamento.

Há homossexualidades e suas etiologias, suas dinâmicas e suas aparências são tão variadas quanto aquelas da heterossexualidade.

Aqui podemos ressaltar as contribuições de Bion (1980) quando enfatiza a relação entre capacidade de sonhar, capacidade para pensar e o mundo bruto das sensações e das emoções que poderão ou não estar comprometidas. Cabe ao educador explorar estas áreas através dos conteúdos pedagógicos A capacidade de pensar é determinante para o aprendizado sendo o resultado das transformações possíveis entre experiência corporal/sexualidade, criação e experiência estética.

Bibliografia

Papai, Mamãe e Eu – Conversando sobre Sexo para Crianças de 2 A 6 Anos.
Marta Suplicy - Editora FTD

Professor e Psicologia Aplicada na Escola.
Vivien Rose Bock - Editora Kinder

Guia de Orientação Sexual - Diretrizes e Metodologia.
Marta Suplicy e Colaboradores - Editora Casa do Psicólogo

Uma Vivência de Amor - Falando de Sexo 6 a 9 anos.
Gilbert Tordjman e Claude Morand - Editora Scipione

As Crianças querem Saber e Agora?
Maria das Graças F. Augusto, Moacir Costa, Sandra M. Paladino - Editora Casa do Psicólogo

Sexo e Juventude - Como discutir a Sexualidade em Casa e na Escola.
Carmem Barroso e Cristina Bruschini - Editora Cortez

Educação Sexual: Debate Aberto
Carmem Barroso e Cristina Bruschini - Editora Vozes

Educação Sexual - Uma Proposta, Um Desafio.
Maria Amélia Azevedo - Editora Cortez

Homossexualidade em Perspectiva
Willian Master e Virginia Johnson - Editora Civilização

Conversando sobre Sexo com Adolescentes.
Marta Suplicy - Editora FTD

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9 COMENTÁRIOS

1 Mauricio M. Batista - TaiobeirasMG.
Marina, Nos dias de hoje cada instante somos surpreendidos com as curiosidades de nossos filhos. Tenho um filho de 4 anos e ao ver a propraganda na TV do programa AMOR E SEXO , ele veio me perguntar o que é amor e sexo. Confesso que até então não sei como responder a ele, venho brincando, dizendo que vou responder depois . Mas, ele é muito atento e todos os dias me cobra a resposta. Como responder para uma criança de 4 anos? Se possível me ajude. Desde já a gradeço e a parabenizo pelo artigo acima.
07/09/2009 22:36:06


2 Rosane - Joinville
Entrei no site para buscar reposta p/meu filho de 09 anos: se você parar de tomar seu remédio p/não engravidar, como que o bebe vai entrar na sua barriga? E fiquei sem saber como responder, pois, não sou pedagoga, nem piscóloga e para idade dele não sei até onde devo ir.Qdo pedi a busca, apareceu este site, portanto, subentendese que haveria uma resposta.Frustrante.....
30/06/2009 22:55:50


3 liliane castro - sao paulo
e maravilhoso esse artigo,pois tenho q apresentar um seminario da faculdade, e ese artigo e muito claro para a apresentaçao q eu terei que apresentar,por ser uma orientaçao e tambem como trabalhar certos preconceitos q existem na sociedade e na escola. obrigada por ter me ajudado.
25/04/2009 22:45:08


4 Ana Cristina - Aramina
Este artigo está muito elucidativo, ajudandonos a trabalhar o assunto nas escolas com os jóvens
02/10/2008 17:01:18


5 luci arcanjo - salvador
amei todo que li, serviu para me orientar de como trabalharsobr o tema
30/10/2007 21:01:57


6 Dulce Aparecida Molina - Campinas-SP
Muito bom o seu artigo, serviu para experiência como educador e também como ser humano
19/10/2007 11:26:45


7 Sara - Cubatão
Eu como mãe que tenho uma filha na idade de 3 anos pra mim foi bem proveitoso esse artigo.
28/09/2007 21:54:02


8 luisa - foz do iguaçu
esse e um otimo artigo para alunos pais e professores parabens pelo bom impreendimento
28/09/2007 02:42:07


9 maria cleuza dias goes - osvaldo cruz-ap
Excelente artigo, de grande proveito para professores que trabalham com adolescentes das séries iniciais e orientações isentas de preconceitos.Parabéns!
13/09/2007 06:27:55


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