Aprender com as Diferenças
 

Para-Pan ou Para Quem? - 21/08/2007
Pessoal

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A Rede Saci publicou o que foi o começo da discussão. Como surgiram muitos outros comentários em vários grupos eu estou colacando aqui todos os que recebi. É longo, mas vale a pena ler até o final.
Agradeço à Marta Gil por me enviar comentários do grupo Educadores e à Célia Kalil pelas mensagens do grupo da Federação.

Fábio Adiron
Inclusão: ampla, geral e irrestrita.
A discussão original está em Para-pan ou para quem?

Comentários de Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva.
http://www.saci.org.br/index.php?modulo=akemi¶metro=20214

Marta,

Se há uma competição, é para alguém ganhar. Haver perdedores é problema de falta de entendimento dos participantes. Já comentei que, na “Psicology Today" de setembro de 1987, li um artigo interessantíssimo de um camarada que trouxe o filho para competir em natação no Rio de Janeiro. 

Foi quando ele entendeu que os brasileiros de fato acreditam que o segundo lugar é o primeiro entre os perdedores. Não deveria ser assim. A competição deve ser, antes de contra qualquer pessoa, a favor de si mesmos. Eu sou extremamente competitivo. Perder é algo que ainda requer racionalidade minha para que não me fira. 

Com o passar do tempo e do entendimento, percebo que melhorar a minha própria marca sem pensar muito nos outros é que deve nortear meu comportamento esportivo. Se somos nadadores, devemos nadar para melhorar nosso tempo e, se fizermos parte do infinitésimo da sociedade que tem nível olímpico, devemos ir para as olimpíadas, independentemente da nossa condição física. 

Se criarmos modalidades esportivas novas, que sejam modalidades, não esportes específicos. Em outras palavras, o basquete sobre cadeira de rodas é uma modalidade como outra qualquer, se praticada em todos os continentes, deve ser uma a mais nas olimpíadas, não encarada como adaptação do basquete.

Por que os nadadores cegos, só por levarem um toque para saber que devem fazer a virada olímpica, precisam competir separados? Em que aquela varinha tocando-lhes a mão os favorece? Numa competição, não deve haver favorecimento, não evitarem-se as dificuldades. São justamente elas o significado da superação. 

Se um chega à medalha olímpica, nenhum outro terá chegado na mesma prova, donde se conclui que o vencedor será sim um ícone de superação. Não sei se me faço claro mas as pessoas tendem a não entender bem o significado de competir.

Marta,

Todos sabem da minha posição radicalmente contrária aos jogos para-isso ou para-aquilo. Dei uma entrevista muito longa a respeito disso na revista "Cavalos", que sairá neste mês. 

Isso, além de todos os malefícios de getificação a que já nos referimos é, antes de tudo, uma fonte de renda para as instituições que treinam essas pessoas e outra maior ainda para os organizadores dos jogos porque, ao invés de usar as instalações uma só vez, usa duas com o mesmo investimento. 

Só mesmo quem nunca lidou com negócios não entende isso. Outro dia, com mais tempo, volto à minha tradicional catilinária sobre esse comportamento execrável das instituições, pois, não fora por elas, esses jogos nefandos jamais teriam existido.

Marta,

Pode ter a certeza de que não sou o único a pensar assim. No Pan, houve uma japonesa naturalizada americana, que lutava judô, e manteve o fato de ser cega em sigilo até entrar no tatame, caso contrário, seria empurrada ao Parapan. Ela não conseguiu uma medalha, mas chegou às semifinais. 

Será que ela precisava receber uma "paramedalha" para sentir-se realizada? Será que os que foram eliminados nas eliminatórias deveriam procurar deficiências para participar do parapan? Em minha opinião, ela entendeu o espírito olímpico, que não é ganhar a qualquer custo, mas dar o melhor de si. 

O melhor dela levou-a as semifinais, assim como o melhor de outros atletas sem deficiências aparentes só os levou às eliminatórias. Muitos para-atletas para-profissionalizaram-se para viver de e ganhar para-medalhas em jogos para-olímpicos. Em outras palavras, passaram a ser deficientes profissionais. Isso é inclusão? Ao contrário, isso é a exclusão institucionalizada que deve ser combatida com unhas e dentes.

Marta,

Como dizia Lincoln, "Podem-se enganar todos por pouco tempo; poucos por todo o tempo; mas nunca todos o tempo todo". Um dia, as pessoas iriam entender o engodo que os jogos para-olímpicos e derivados são. Só acho que essa percepção não terá efeito em curto prazo porque, entre pessoas com e sem deficiência, esses eventos rendem milhões. 

Para você ter uma idéia, somente a Caixa Econômica Federal contribuiu com R$38.000.000,00 para o comitê para-olímpico, sem contar a verdadeira fortuna alocada para o para-pan. O negócio é grana, muita grana, que poderia ser realmente usada na inclusão real e definitiva das pessoas com deficiência.
Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva
Outcome S/C Ltda.

Comentário de Eduardo A. Bausas Jr.

Caríssimos, Bom Dia!

Quero deixar uma contribuição para essa pequena discussão do Para Pan. Sou estudante de Educação Física e na universidade possuímos um projeto de extensão denominado "Atividade Física Adaptada".

Neste projeto, desenvolvemos atividades desportivas para a prática de atividades físicas voltadas para a pessoa com deficiência. Temos o basquetebol sobre rodas e o atletismo. 

Ambos participam atletas com lesão medular, amputações, paralisia cerebral e cegos. Participamos dos principais eventos esportivos, aqui de São Paulo - no caso do basquetebol sobre rodas - e em alguns outros estados vizinhos, dentro de nossas possibilidades.

Bom, o que quero dizer é que vocês estão completamente com a razão. A sociedade ainda não esta "preparada" para aceitar as diferenças. 

E os comitês organizadores destes eventos continuam com a política que é estabelecida no mundo todo - no esporte só estão os melhores. 

Já questionei com comissões técnicas a respeito da participação da pessoa com deficiência, mas a resposta obtida foi a mesma: "- ... não podemos colocar todos para participar, não podemos gastar dinheiro com quem não trás resultados, etc. e tal...". 

A questão está aí. É cultural que no esporte somente os melhores estarão presentes. No esporte de "alto rendimento" - como é denominado - não existe vaga para quem não está no topo. Eu realmente não sei como resolver esta questão. 

No projeto que desenvolvo aqui na universidade, procuro trabalhar com o ser humano em todos os aspectos. Não são somente atividades físicas que os mesmos realizam, procuramos desenvolver e auxiliar também com as atividades de vida diária, conversar sobre sexualidade, trabalho, educação, entre outros. Mas quando o negócio é competir, a perspectiva é diferente. 

Dentro destas competições não tem essa de que "o importante é participar", e sim "ganhar sempre". Se não ganhar, não agrada patrocinadores, não agrada o comitê, não é visto pela sociedade (mesmo ganhando poucos são reconhecidos...). 

Porque o Pan não realiza suas competições juntamente com as da pessoa com deficiência...? Acredito que a resposta deve estar com os patrocinadores deste evento, com as emissoras de TV, e por aí vai. 

Enquanto houver a prática do lucro em toda e qualquer atividade humana, sempre será assim. Ou então que exista algo que possa regulamentar essas atividades, mesmo assim não sei se é este o caminho. Gostaria muito de ouvir algo de alguém que estude esses temas. 

Abraço a todos!
Eduardo A. Bausas Jr.
Educação Física - UNESP/FCT - Presidente Prudente

Comentário da Professora Rosita Edler de Carvalho

Venho me questionando porque os movimentos pró-inclusão ainda não se manifestaram pela duplicidade de olimpíadas. Por que essa discriminação? Parece-me mais assintosa do que as que combatemos nas escolas, pela enorme visibilidade que tem.

Penso que seria mais coerente um único Pan, com as categorias de jogos organizadas de modo que todos estivessem participando no mesmo período.

Na academia de ginástica que freqüento, o professor comentou, sem saber de meus vínculos, que agora viriam os jogos daqueles "coitadinhos" e que seria uma "caridade" prestigiá-los. Bem, dispenso dizer como reagi e procurei de público, externar meu constrangimento. Mas, compreendo que ele "falou pelo coletivo", pois é assim que o Parapan está no imaginário das pessoas!

Disponho-me a participar de movimentos que lutem pela não segregação de nossos atletas para que possam fazer suas competições, tal como programadas no Parapan, mas no mesmo tempo dos demais. Penso que essa idéia pode ser analisada e, insisto, parece-me menos polêmica do que as que são debatidas na área educacional.

Professora Rosita Edler de Carvalho

Comentário de Gil Pena.
A todos,

Eu concordo com a Rosita (que, aliás, anda bem sumida). O para-pan (ou as para-olimpíadas) é forma de exclusão. Em corridas rústicas, de rua, como a São Silvestre, Maratonas, os atletas comuns, os de Elite, os cadeirantes, cegos e outros, competem na mesma prova, em categorias diferentes. 

São provas transmitidas pela televisão, e a participação deles não ganha notoriedade, o que para mim é bom, já que notória é a discriminação. Nas olimpíadas, ou pan-americano tinha de ser assim, eles tinham de participar de acordo com as suas categorias, mas dentro da competição de que todos participam.

Gil Pena

Comentário da Marta Gil.

Fábio, Oi!

Concordo plenamente com suas ponderações!

Estou achando muito legal que essa visão sobre o caráter excludente das Para está se ampliando, ao menos em partes da sociedade. Como você sabe, sou otimista e vejo essa mudança de entendimento de forma positiva. Sei que é gradual, mas entendo que é assim mesmo.

Marta Gil.

Comentário de Celia Kalil.

Fiquei imaginando a repercussão e porque os jogos Pan não podem ser em conjunto com o Para. Seria realmente um avanço na luta pela inclusão social. Imaginem Todos celebrando a Diversidade, em jogos, mesmo competitivos, mas que emanam esforço, talento, espírito de equipe e orgulho em ser brasileiro..., Poderíamos encaminhar esta proposta ao Ministro, para que possamos defender esta idéia no próximo Pan, quem sabe.
Celia Kalil.

Aprendendo Down.

Comentário de Antonio Carlos Sestaro.

Olá Célia e demais,

Estou voltando do RJ onde aconteceu a reunião do CONADE juntamente com um Seminário da CORDE sobre Esporte como forma de Inclusão. Na mesa de abertura várias autoridades: Presidente do Comitê Paraolimpico Nacional, Internacional, das Américas e mais não sei de onde.

Na última reunião do CONADE, quando foi colocada a situação do “PARAPAN” fiz minha crítica e até manifestei minha não vontade de estar indo ao RJ, pois não acredito em Inclusão quando ainda tem a tal de "parapan". Bem vários foram os argumentos, espaço físico, tempo etc. nada me convenceu. 

Após a mesa de abertura no RJ, pedi a palavra e questionei a mesma coisa junto aos "Presidentes”. Qual a razão de "dividir" as competições entre os atletas. 

Qual a razão de "segregar" os atletas com deficiência. Bem a resposta do Presidente do Comitê Paraolimpico Brasileiro, Senhor Vital foi ridícula, chegou a dizer que os atletas com deficiência não querem "ser mais um nas competições" e sim querem ser "estrelas".

Foi uma tragédia a fala. Nem sei se foi essa a razão, mas no dia seguinte estava previsto a sua participação na reunião do CONADE e o mesmo não apareceu. Devemos sim lutar para que qualquer movimento, qualquer situação seja voltada pela INCLUSÃO.

Antonio Carlos Sestaro.

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