A Semana - Opiniões
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Dilemas de um professor - 30/07/2007
Editorial

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Foto de um homem careca coçando a cabeça

Retorno às aulas amanhã. O que quero ao entrar novamente na escola? Será que tudo vai ser exatamente como foi até o presente momento? De que forma posso modificar o meu universo profissional para que eu e meus alunos nos sintamos mais empolgados e fascinados com as possibilidades do conhecimento? Será que tenho realmente perspectivas melhores para o próximo semestre? O que dizer em relação aos anos que ainda virão? Esperarei respostas e o tempo passará ou tentarei modificar tudo e fazer com que a educação proporcionada por mim e pelos meus colegas flua e modifique o mundo para melhor?

Ouvi dizer que a cada 100 pessoas que se formam para entrar no mercado de trabalho em cada profissão apenas 5 conseguem obter êxito. Será que estou entre as demais 95 pessoas que apenas tocam o barco e simplesmente batem o cartão à espera da aposentadoria?

Espero sinceramente que não. Mas não tenho certeza quanto a isso... O que tenho feito para que o meu ramo de atuação profissional evolua? De que forma tenho contribuído para o progresso da escola onde atuo? Dou aulas durante muitas horas por dia, tenho que planejar minhas atividades, corrijo tarefas e provas, oriento os alunos em projetos, participo de reuniões internas, atendo os pais... Isso já não é suficiente?

Pensando bem, acho que não. Afinal de contas isso é o que todos os professores que conheço fazem e sempre fizeram. E por conta dessa mesmice ou, melhor dizendo, continuidade... As coisas pouco ou nada se alteraram nas escolas em que trabalho ou mesmo naquelas pelas quais passei...

Foto de Giz Coloridos
Que tal um pouco mais de cor na sala de aula?

E quando a situação se modificou? Houve algum momento em que mudanças aconteceram? Puxando pela memória me lembro de algumas situações de mudança. Quase sempre puxadas pelo esforço individual de algum colega que os demais chamavam de maluco... Onde já se viu, trabalhando além do tempo sem ganhar mais nada por isso... Já imaginaram um sujeito dando aulas de um modo completamente diverso das tradicionais práticas que observamos e utilizamos há tanto tempo? Devem estar faltando alguns parafusos em sua cabeça...

Normalmente esses professores traziam recursos, renovavam a linguagem, tinham maior proximidade com os alunos, estavam sempre estudando e andavam para lá e para cá com um livro embaixo do braço. Faziam extensões, pós-graduações, mestrados, doutorados e outros cursos nos horários vagos. Enquanto os demais professores só reclamavam da pesada carga de trabalho ou dos baixos salários... Esses colegas pareciam fazer as 24 horas do dia se multiplicarem...

O que acontecia com eles depois de algum tempo? Eram promovidos, recebiam melhores ofertas de trabalho, tinham seus trabalhos de pesquisa publicados ou apresentados em palestras e congressos, alguns até mesmo recebiam bolsas de estudo ou iam estudar no exterior.

Era comum que eles soubessem utilizar ferramentas novas, como ocorreu em relação aos computadores e a internet, muito antes de todos os demais. Eles pareciam destemidos, seguros, confiantes e sempre com dose extra de energia enquanto a maioria mostrava-se quase sempre entregue, desanimada e cansada.

Talvez esse seja o caminho a seguir... Mais leituras, estudos e atualização... Não ter medo de implementar as aulas... Investir em uma relação mais sólida com os estudantes... Socializar princípios e práticas norteadoras de procedimentos mais eficientes com os demais professores... O problema é que isso dá muito trabalho... Será que eu conseguirei?

Foto de um homem tampando o rosto e uma pilha de documentos na mesa em frente a ele
Não sinta pena de si mesmo... Organize melhor seu tempo e suas atividades!

Afinal de contas são 8, às vezes 10 aulas, por dia! Fora o trabalho que levo para casa. E o salário... Sem grandes perspectivas de melhoria enquanto me aperfeiçôo. Tenho que pensar bem antes de me decidir... Será que realmente vale a pena?

Sabem o que vou fazer? Que tal uma rápida pesquisa na internet para ver se acho informações sobre o que aconteceu com alguns daqueles colegas que ousaram mudar a educação, seus princípios e práticas. Comecemos então pela Thaís, uma professora de artes com quem trabalhei há alguns anos. O sobrenome dela era Almeida... O que? Virou diretora de museu e dá palestras pelo país inteiro? Terminou recentemente um doutorado e foi convidada para dar algumas aulas nessa importante universidade? Que beleza!

E o Pedro Luís? Louco por matemática foi um dos primeiros a se aventurar no reino dos computadores e da tecnologia. O que? Ele é assessor do Secretário de Educação e coordena os projetos de instalação de novos laboratórios e metodologias relacionadas ao uso da tecnologia nas escolas em nosso estado? Além disso está completando seu doutorado? Foi premiado por empresas privadas por projetos envolvendo escolas e as tecnologias de informação e comunicação... Fantástico!

O que será que aconteceu com o Lucas? Deixe-me digitar o nome dele completo... Lucas Alvarenga Filho... Ah! Esse não foi muito longe mesmo tendo se dedicado tanto aos estudos e ao aperfeiçoamento de seus procedimentos em sala de aula. Ele é professor de ensino médio ainda hoje. Fez extensões e terminou há pouco tempo o seu mestrado e ainda está em sala de aula, mas... Espere um pouco...

Foto de uma pessoa com braços erguidos no topo de uma montanha
Qualquer vitória depende essencialmente de você mesmo!

O que é isso? Ele publicou livros e artigos sobre novas metodologias de estudo e pesquisa em geografia... E esses materiais estão sendo recomendados pelo próprio ministério da educação... Deixe-me ver em que escolas ele trabalha... Apenas em duas, sendo que uma delas é uma universidade federal onde ele também é pesquisador... Deve estar ganhando muito bem...

Para me certificar quanto ao caminho que devo seguir deixe-me ver por onde anda a Ana Luíza. Ela trabalhava com língua estrangeira. Dominava o inglês como poucos que conheci. Se isso não bastasse ainda estudava espanhol e tinha planos de aprender outra língua. Ana Luíza Monteiro... Tradutora e intérprete de uma importante editora multinacional estabelecida há anos no país! Professora do departamento de letras de uma prestigiada instituição privada de ensino! Colaboradora da revista Educação de Qualidade!

Bom, acho que não tenho mais o que pensar, não é? Está na hora de entrar no grupo dos 5% que fazem a diferença em suas áreas de atuação profissional... Ou melhor, penso que devemos mesmo é fazer com que esses 5 se tornem 10, 15, 30 ou mais... Que tal? Vamos nessa?

Obs.: Esse texto conta apenas histórias fictícias baseadas na experiência de pessoas reais com as quais tive ou tenho a felicidade de conviver.

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4 COMENTÁRIOS

1 Eduardo Buys - Rio de Janeiro Cidade Maravilhosa
Prof.João Luís, cheguei ao Portal nas busca por imagem que ilustrasse um texto de minha autoria no Blog do Varejo www.varejototal.zip.net , e a encontrei aquí. E, mesmo na pressa, não pude deixar de apreciar a sua página e o seu editorial `dos cinco por cento`. Sempre pautei minha vida exaltando a educação como `escada` para uma vida melhor e, hoje, já no `conselho dos anciões` estou me praparando para dar aulas. Não podendo avançar mais agora, mas voltando aos percentuais que tanto agradam este engenheiro aquí, se a `peneira` da vida só permite subir 5, temos que lembrar que dos 100 dos que chegaram lá passaram pela educação. As notórias exceções Lula, Bill Gates, Steve Jobs... só fazem confirmar a regra. Saudações, Eduardo Buys
20/03/2009 08:42:34


2 Maria Eugenia Bezerra de Paiva - Fortaleza
Sou professora e também compartilho deste grupo dos 5. Tenho certeza que meu trabalho é realizado com responsabilidade e compromisso. Acredito na educação e não suporto pessoas que trabalham simplesmente para receber o salário no final do mês. Estudar, pesquisar, ler sempre!
07/09/2007 21:34:13


3 Márcia Aparecida Honório Pinafo - Panema - Paraná
Ao ler o artigo tiver a impressão que o professor que continua dando aulas na educação básica foi castigado por não investir na profissão, ou então que o bom professor é só aquele que está nas universidades e em grandes projetos.
07/08/2007 12:33:30


4 andré - franca
a mensagem que recebi é de motivação para continuar meus estudos para futuramente sair de uma sala de aula na periferia, de valor nenhum já que o texto acima não se preocupou em valorizar o professor com inúmeras incertezas, mas que ainda se mantém na profissão talvez por querer simplesmente ser professor... Será que para todos não é possível ser feliz na profissão, estar sempre motivado sem deixar os educandos tão necessitados de amor ao conhecimento?
01/08/2007 09:48:23


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