Sua escola é uma orquestra? - 11/07/2007
Editorial
Aproveito o ensejo da revista “Época Negócios”, que em sua mais recente edição (do mês de julho de 2007), traz como matéria de capa uma análise do mundo corporativo e empresarial tendo como base um artigo clássico publicado pelo mais reputado pensador daquele segmento, o norte-americano Peter Drucker, para que possamos repensar a gestão da educação.
No referido texto, Drucker compara empresas a orquestras e estipula que para a pureza e qualidade do som e do concerto acontecerem seria necessário contar com pessoas altamente qualificadas e dispostas a atuarem de forma afinada e colaborativa. Penso que a metáfora em questão não deveria apenas ilustrar um ensaio acadêmico ou uma possibilidade gerencial para as grandes empresas...
Gostaria de ir um pouco além desse lugar comum e pensar que tal perspectiva também pode ser aplicada a outras áreas de atuação humana, como a educação, é claro. Nesse sentido cabe, num primeiro momento, analisar o quesito “pessoas altamente qualificadas” mencionado por Drucker em seu célebre artigo.
Acabei de postar em meu blog “Escolhendo a Pílula Vermelha” (http://escolhendoapilulavermelha.blogspot.com) alguns fatos recentes sobre a educação nacional divulgados nos últimos dias pela mídia impressa. Entre eles destaca-se a informação relativa aos dados de leitura dos estudantes universitários brasileiros. A média anual de livros lidos por estudante em nosso país é de apenas dois volumes... Esse dado é estarrecedor se realmente nos preocupamos com qualidade e excelência...
Especialmente se levarmos em conta que essas leituras são, em sua grande maioria, indicações (ou imposições, atribulações, tarefas, orientações...) dos professores (que por sua vez também lêem menos do que deveriam para exercer suas funções). Outro agravante refere-se ao fato de que as obras lidas são, geralmente, relacionadas exclusivamente à área de estudos desses universitários e que raramente há a busca por materiais que ampliem a cultura geral dos estudantes...
As principais referências informativas para os graduandos do Brasil são a televisão e a internet. Não podemos, obviamente, desvalorizar essas fontes, mas elas não possuem a profundidade e nem dão aos estudantes (em virtude de seu formato, agilidade e inúmeras possibilidades) a chance de refletir, analisar, interpretar ou ponderar as informações apresentadas.
No caso da internet há ainda a “facilidade” do “copiar e colar”, que induz a fraudes acadêmicas e torna os estudantes preguiçosos e pouco propensos a pensar. A televisão, por sua vez, despeja informações e produz conteúdos pensando principalmente em audiência e patrocínios, não há possibilidade de diálogo e troca (elemento que torna a internet mais atraente e estimulante aos olhos da nova geração) e nem tampouco de produção e retorno por parte de quem assiste...
Se não bastasse isso, as pesquisas ainda explicitaram que os estudantes que escolhem a educação como área de formação profissional possuem origem humilde. Isso não teria a menor relevância se não nos induzisse a pensar que, consequentemente, esses futuros professores foram formados por escolas públicas que tem grandes deficiências.
Os próprios noticiários de várias mídias demonstram regularmente os problemas da educação pública nacional. Há (muitas) escolas em que não existem bibliotecas, quadras esportivas ou laboratórios de ciências; Tantas outras carecem de equipamentos de informática e acesso a internet; Em inúmeras faltam equipamentos básicos ou melhoria da infra-estrutura de apoio; Também sabemos das numerosas faltas de professores (estimulados pelo abono das mesmas ou ainda desestimulados pelos baixos salários e pelas condições pouco apropriadas de trabalho, para não dizer insalubres, em certos casos).
Os problemas das bases afetam toda a estrutura e projeto educacional posterior. E se não forem suficientes os erros cometidos na “fundação” e nos “alicerces” educacionais, há ainda dados que demonstram a falta de profissionais para atuar em etapas posteriores, como no Ensino Médio, onde carecemos de aproximadamente 250 mil professores, em especial para as disciplinas de ciências exatas.
Como poderemos pensar em ter uma orquestra afinada, competente e exuberante na educação brasileira se a formação prévia é claramente deficiente?
Se não bastasse isso, temos também que repensar a gestão de nossas escolas. Os maestros das orquestras escolares devem ser os diretores e os afinadores dos instrumentos são, é claro, todos os seus assessores diretos, desde os orientadores educacionais e coordenadores pedagógicos até os funcionários da limpeza. Os professores, por sua vez, compõem o conjunto que toca os instrumentos a partir das precisas orientações da batuta do maestro e que contam com todos os demais colaboradores para que seus instrumentos estejam prontos e afinados.
Aos maestros, ou seja, aos gestores da escola, compete então criar condições de funcionamento das escolas que primem pela eficácia e também pela eficiência. Termos esses que devem ser compreendidos como complementares e diferentes e que, obviamente, expressam necessidades diversas no contexto educacional.
A eficiência deve ser auferida nos resultados, ou seja, a partir da constante análise e interpretação dos dados das escolas. Estudos permanentes sobre temas como: o que é, como funciona, quais são os processos comuns, quem trabalha, como trabalham, que clientela é atendida, quais são os objetivos comuns e os específicos, que estrutura existe ou o que pode ser aperfeiçoado na educação servirão como bases ou matrizes de projetos e práticas inovadoras ou renovadoras nas escolas. A eficácia, por sua vez, refere-se a aplicação dos processos, projetos e ações pensadas a partir da análise permanente de todos os dados e que resultem na melhoria da educação e, mais especificamente, do processo de ensino-aprendizagem.
Ao conhecer os auditórios, sua acústica, os instrumentos, o público ao qual se direciona o concerto e ainda a realidade do local (cidade) onde se realizará a apresentação, os artistas e o maestro se preparam com adequação e certamente poderão fazer com que o seu show seja inesquecível para quem os assiste e escuta. Não basta, entretanto apenas isso, a avaliação do evento a posteriori, com a análise de cada pormenor, da limpeza das instalações, passando pelos recursos técnicos disponíveis e atingindo até mesmo a postura e o respeito da orquestra em relação ao seu público (entre vários outros quesitos), deve reorientar cada passo de toda a equipe para os próximos concertos.
E é nesse sentido que iremos ressaltar um mero “detalhe” ao qual atentou Peter Drucker em seus escritos originais pensados para o mundo empresarial e que são igualmente primordiais para todos os outros segmentos de atuação humana. Trata-se da questão do espírito de colaboração. De nada adianta termos virtuoses musicais, empresariais ou educacionais se não tivermos entre eles a necessária sintonia e cooperação.
Grandes empresas, escolas ou orquestras que não trabalharem de forma colaborativa tendem a fracassar mesmo que tenham tudo o que necessitam para triunfar e, por outro lado, ainda que nem tudo esteja disponível para compor o melhor dos quadros em qualquer instituição ou empreendimento humano, se houver a união dos esforços e talentos por parte de todos os participantes, o êxito será o resultado final...
1 Luciana - Itaperuna
Com certeza, a sintonia e a união dos envolvidos na educação é fundamental. Mas há necessidade de diálogo, de DEMOCRACIA.
Pensar é difícil. Incomoda a muitos. Falar, se expressar, ter opinião, convicções, então, incomodam muito mais. Sendo assim, é melhor ficar calado? Não pensar, não gostar de sua profissão (mesmo vindo de classes mais humildes)? O que fazer?
É preciso ter RESILIÊNCIA. Existem muitas possibilidades, no entanto, os líderes de qualquer esfera, não desejam ter trabalho para buscar soluções.
Considero que ganhamos mal sim, mas ficar desempregado é pior. Como lutar, então, para valorizar o profissional da educação? Mostrando que o diploma não ensina tudo, trocar idéias com os colegas, também, qualifica. Ler jornais, revistas e livros variados; assistir escrever, planejar aulas, simulados etc, também, fazem parte do crescimento profissional. Enfim, não fazer nada e ficar só reclamando, apenas ajuda na manutenção desse sistema educacional excludente.
Bom é o que penso. Há como ter sintonia, mas é preciso ter consciência.
14/07/2007 21:02:03
2 Zilma B Faustini - Bauru
Achei ótimo o seu artigo,pois além de gostar demais de orquestra,músicas executadas por elas,entendo e concordo plenamente com suas colocaçôes.Estarei incentivando qs professoras para que conheçam também o texto escrito por você.Um abraço Zilma
13/07/2007 19:33:02
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