Crianças e tecnologia - 12/06/2007
Infância tecnológica
Advogo o uso das tecnologias nas escolas através dos artigos que escrevo para o Planeta Educação e também em meu blog “Escolhendo a Pílula Vermelha” (http://escolhendoapilulavermelha.blogspot.com). Acredito nos recursos que estão sendo incorporados ao cotidiano das pessoas como ferramentas que agilizam os processos e que, consequentemente, facilitam a nossa vida. Não creio que o mundo vá retornar aos padrões dominantes de 10, 20 ou 30 anos atrás, quando não possuíamos todas essas tecnologias ao nosso alcance.
Faço coro com as inúmeras pesquisas e projetos que estão sendo encaminhados e que relacionam educação à tecnologia. Existem grupos de pesquisadores que examinam o uso de softwares especializados, o universo dos games para a aprendizagem, o uso dos e-books em educação, as ferramentas de comunicação instantânea que unem pessoas de diferentes países ou regiões, os portais e sites educacionais, os blogs e sites de relacionamentos, as páginas de instituições científicas e universitárias,...
O que parece unir todos esses estudos e pesquisadores é a certeza de que os computadores e a internet (que ficarão mais rápidos e agregarão várias mídias e possibilidades de uso) vieram para ficar e que daqui em diante nossa história será contada a partir dessas bases, plataformas e da relação entre os homens e a tecnologia de ponta.
Nesse sentido é emblemático o projeto internacional que finca bases em nosso país através do qual se pretende distribuir laptops de cem dólares (valor que, apesar dos incentivos e parcerias relacionadas ao projeto ainda não foi atingido; o custo base desses equipamentos ainda gira na casa dos U$ 175 a U$ 250) para as crianças das escolas públicas.
Os
computadores e a internet estão se tornando onipresentes e
as crianças
acabarão tendo contato com essa tecnologia mais cedo ou mais
tarde.
Será que terão as mesmas oportunidades de contato
com outros
recursos como os livros, os jogos educativos ou ainda de
sociabilização com outras crianças?
Criado a partir do MIT (Massachussets Institute of Technology) e das ações de Nicholas Negroponte há pouco mais de 2 anos, o projeto “One laptop per child” saiu em busca de apoios governamentais que lhes dessem subsídios e mercados carentes onde tal proposta pudesse florescer. Buscaram também associar-se a empresas de tecnologia que estivessem dispostas a conceber, a partir de protótipo criado no próprio MIT, um produto equivalente que tivesse produção e distribuição a baixos preços e atendesse a uma grande demanda.
Os países aos quais se associou Negroponte são nações pobres ou, na melhor das hipóteses, em desenvolvimento. O projeto não tem como foco a produção de máquinas de tal porte para o mercado e nem, tampouco, visa a venda ou a distribuição desses equipamentos nos países mais ricos do mundo. Nações como os Estados Unidos, o Canadá, a Austrália, o Japão ou os países membros da União Européia já possuem escolas informatizadas e ligadas a redes de internet rápidas em praticamente todos os seus distritos e unidades educacionais.
Países como o Brasil, a Argélia, a Índia, a África do Sul ou o México, por outro lado, apesar de claros avanços quanto ao uso da tecnologia nas escolas em determinadas regiões ou cidades, ainda se encontram há anos-luz da realidade dos países mais desenvolvidos. Isso motivou Negroponte e o MIT a realizar o projeto e deu a eles um destino e um caminho a ser percorrido.
No caso do Brasil, a privatização das empresas de telefonia (e a acirrada concorrência entre elas) está gerando o surgimento de condições técnicas adequadas para que ocorra um real avanço no uso de computadores e da internet em praticamente todos os cantos do país.
Crianças
precisam brincar e socializar, subir em árvores e correr
livremente
pelas praças e jardins, criar mundos através de
suas férteis imaginações e
usufruir do mundo físico ao seu redor para que possam
crescer saudáveis.
No entanto, apesar de todos esses projetos e avanços, do interesse e participação do governo brasileiro e até mesmo do surgimento de empresas de tecnologia em território nacional interessadas em também criar computadores de baixo custo para entrar na disputa por esse atraente mercado estatal, há questões pendentes. Cabe, por exemplo, perguntar como será feita a adesão em massa a esses procedimentos, quando isso será aplicado nacionalmente e superará a etapa experimental em que se encontra e se realmente sua aplicação redundará em melhorias para a educação nacional.
Devemos ainda questionar a partir de que etapas do processo de ensino-aprendizagem ocorrerá a utilização desses laptops e quais são os recursos disponíveis em tais equipamentos. Temos que saber ainda qual será a correlação de forças entre o uso dessas tecnologias com os conteúdos trabalhados na programação regular das escolas e as demais práticas e estratégias de ensino aplicadas pelos professores. Ainda cabe perguntar como se efetivará a preparação dos educadores para a utilização desses equipamentos e recursos.
Pessoalmente acredito que o uso da tecnologia não deva acontecer antes do 5° ou 6° ano do ensino fundamental. Nessas etapas iniciais da formação de nossas crianças, considerada como a mais importante pela maioria dos estudiosos do processo de ensino-aprendizagem, creio ser necessário que os alunos utilizem recursos que os coloquem em contato direto com o mundo que os cerca e não com o universo virtual.
Através
da escola e em especial nos primeiros anos de
educação é que
se criarão os vínculos fundamentais entre as
crianças e o
conhecimento em suas mais diversas formas – como a
literatura,
a música, a dança, os esportes, o cinema, o
teatro,...
Sou cobrado quanto a esse posicionamento por meus pares na universidade e mesmo no Planeta Educação, tão afeitos e afoitos estão todas as pessoas com as quais convivo pelo uso e êxito da tecnologia nas escolas e na sociedade como um todo. Penso, porém, que as crianças devem ter contato com jogos e brinquedos educativos, com a natureza, com as brincadeiras de roda, com esportes, com as artes, com os livros, com os filmes, com a música e, principalmente, com outras pessoas (especialmente da mesma idade) para se socializar.
Não acredito que a tecnologia nos isole e nos torne escravos como podem pensar alguns mediante as afirmações que estou fazendo. Os equipamentos e recursos que criamos não têm esse poder. Se nos tornamos cativos e legamos mais tempo ao uso desses instrumentais do que a nossos familiares, amigos e colegas de trabalho isso se deve muito mais a opções que fazemos pessoalmente. Os anos iniciais das crianças nas escolas têm que, entretanto, dar subsídios materiais – do mundo físico – para que os infantes compreendam a essência e a base de existência na qual estamos inseridos.
Se o uso dos computadores e da rede mundial de computadores iniciar-se tão precocemente podemos estar condenando essas gerações de estudantes a, daí sim, aprisionar-se de tal forma no mundo virtual, que pouco ou nada daquilo que existe fora dele lhes será cativante ou interessante. Há uma forte atração e interesse por parte das pessoas em geral no que tange a essas ferramentas, em especial entre os indivíduos que nasceram já dentro de uma realidade em que eles são praticamente onipresentes.
É claro que isso deve ser utilizado em favor da aprendizagem, penso apenas que antes dessa etapa inicial de estudos e aprendizagem é de crucial importância dar a esses estudantes condições de se apegar aos demais recursos e instrumentais que possuímos e criar laços de respeito, consideração e estima uns pelos outros e também para com a natureza que nos cerca.
Há pessoas que podem advogar em favor do uso dessas tecnologias ainda nessas etapas iniciais da formação humana para que a capacidade de abstração entre as crianças aconteça o quanto antes. Pode até ser que isso ocorra prematuramente a partir da utilização dos computadores em projetos educacionais na educação infantil e nas primeiras séries do ensino fundamental. Será, porém, que isso não acarretará prejuízos e atrasos ao aprendizado relativo ao mundo material, a sociabilização e ao encontro com o meio-ambiente?
1 natonio carlos da silva - maceio
As tecnologias já faz parte do cotidiano da criança, principalmente quando se refere a uma criança de classe média. A escola deve inserir no currículo escolar uma disciplina que possa incluir esses alunos ao mundo globalizado.
10/11/2008 16:16:42
2 Aliene - Belém
Concordo. Criança precisa ser criança e brincar com crianças. Vou usar essa pagina como base no meu tcc. Obrigado.
02/09/2008 10:32:00
3 Aline Cristine P. Ribeiro - Bauru
Esse artigo me intrigou. Fiquei pensando se realmente a tecnologia deve entrar no mundo dos pequenos ou não...Acho inevitável, ela já entrou no mundo deles. Porém concordo plenamente quanto a dar a eles bases materiais sobre o mundo. Mas também acredito que um pouquinho da tecnologia, dos computadores, do dvd, vai fazer muito bem, se nós os educarmos para o uso saudável, refletido e crítico desses meios. Não creio em deixá-los fora disso tudo, mas em formá-los para usar os meios criticamente.
Abraço!!!
20/06/2007 21:12:14
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