Seminários, Oficinas e Palestras para educadores funcionam? - 09/05/2007
Coluna Diários de Classe
Assisti uma palestra em que o especialista que se apresentava declarou logo no início para os presentes que não acreditava que eventos daquela natureza fossem eficientes, ou seja, que ele afirmava já de antemão não crer que tais encontros trouxessem melhorias reais para quem participava como ouvinte.
O aparente contra-senso ou a evidente contradição pareceram a princípio chocar alguns presentes, mas a frase acabou perdendo um pouco de seu impacto logo que o palestrante iniciou suas explanações, respaldado por um belo aparato tecnológico e por recursos áudio-visuais que encantaram a platéia. Seu carisma foi igualmente importante para que aquela jornada tivesse comentários muito favoráveis entre os educadores que o assistiram...
Mas a tal frase de impacto, de caráter aparentemente explosivo, que condenava de antemão o que estava apenas se iniciando naquele recinto, acabou esquecida para a maioria dos que ali estavam... Menos para mim!
Eu iria me apresentar logo em seguida, também na condição de palestrante especializado em educação. Tenho feito esse trabalho já há algum tempo e creio que bons frutos surgiram, tanto para mim quanto para as pessoas com quem tive contato. Não creio que o meu trabalho seja melhor, igual ou inferior ao do especialista que me antecedeu (nem tampouco em relação a outras pessoas que atuam no ramo, mesmo quando penso nas “estrelas” do segmento, que em minha humilde opinião, carecem de maior humildade para ganharem mais credibilidade).
Temos temas, estilos e propostas diferentes; nossas concepções de educação coincidem em alguns aspectos mas diferem em algumas outras; a história de nossas vidas e o contexto de trabalho no qual estamos engajados (ou em que já estivemos) são marcantes para definir rumos muito diferenciados para nossas apresentações e projetos profissionais.
Respeito o trabalho alheio, mas não sou obrigado a concordar com o que pensam as outras pessoas. Isso me faz lembrar Voltaire, um dos iluministas franceses, que afirmava categoricamente que podia não concordar com nada do que ouvira de outrem, mas que defenderia até a morte o direito de livre expressão das idéias alheias. Penso assim também. No que tange ao tópico desse artigo, diretamente relacionado à afirmação do palestrante que me precedeu, acho que ele tem razão... Até certo ponto!
Quem realmente se dispõe a colocar a mão na massa? As transformações que desejamos para a educação demandam não apenas acesso as informações sobre como realizá-las, mas principalmente vontade e empenho para sua implementação.
Sua razão reside no fato de que a maioria das pessoas que participa até gosta das apresentações, se inebria com as mesmas, pensa até em usar o que está sendo ali discutido ou apresentado, aplaude ao final da apresentação, faz comentários favoráveis durante o coffee-break e também ao final dos trabalhos... Mas raríssimas vezes se dispõe a usar efetivamente em seu trabalho na escola o que lhe foi trazido como informação e novidade sobre o seu ramo de atuação. Nesse sentido aquele palestrante estava corretíssimo!
Por outro lado, minha experiência pessoal, tem me levado a crer que há algumas pessoas que “compram” essas novas idéias, envolvem-se com as mesmas, levam adiante os projetos, os personalizam, implementam e até mesmo os melhoram e crescem com essas realizações.
São, infelizmente, pouquíssimos os heróis que embarcam na canoa que cruza o rio das almas e que se arriscam a enfrentar os caminhos e descaminhos que lhes são apresentados na outra margem, mas eles existem. Vivemos um tempo em que a acomodação é, via de regra, o rumo que tem sido escolhido pela maioria das pessoas para suas vidas.
Os problemas, as dificuldades e os desafios relacionados a rotas alternativas, mesmo sabendo-se que elas vislumbram um horizonte melhor logo adiante, num futuro a médio ou longo prazos, assustam os conservadores e os fazem sempre recuar diante dessas viradas de mesa. Exemplo claro disso é a reação dos professores quanto ao projeto “Cinema na Escola”, através do qual tenho visitado alguns municípios levando oficinas e palestras sobre o tema.
Há muitos educadores (ou melhor dizendo, pseudo-educadores) que acreditam que simplesmente basta disponibilizar os filmes para os alunos, pedir relatórios ou fazer algumas perguntas sobre o recurso para a tarefa que tal “projeto” já está acontecendo. Nesse sentido torna-se (na opinião desses professores) totalmente inócuo assistir uma palestra sobre o gênero, trazida por um estudioso do assunto, com vasta experiência no tema, que irá disponibilizar algumas técnicas ou metodologias de trabalho...
Trabalho com filmes na escola desde que iniciei minha carreira em educação. Sempre procurei pensar o recurso (e suas possibilidades) e criar alternativas de trabalho que tornassem sua utilização mais eficiente, enriquecedora e interessante nas salas de aula em que estive presente. Ao assumir a função de editor do Planeta Educação, recém-saído de um mestrado em que me debrucei com maior atenção sobre o tema e que deu origem a uma dissertação avaliada por doutores do Mackenzie e da USP, especializados no tema, com nota máxima, comecei a escrever com grande freqüência sobre o tema.
Ao assinar a inscrição para um evento o participante deve estar imbuído do espírito de aprendiz e embarcar nessa viagem com o intuito de aprender e de utilizar as novas ferramentas que lhe forem entregues.
“O Cinema na Escola” foi a primeira coluna que criei para o Planeta Educação e é a mais acessada entre todas as contribuições que estão sendo produzidas para o portal. São quase 200 (duzentos) artigos sobre filmes, metodologia, reflexões e técnicas de trabalho com o recurso. Acredito que, respaldado por toda essa produção e trabalho (que estão em constante atualização), pesquisa e leitura, empenho pessoal e busca pelos resultados do projeto auferidas através dos acessos a coluna do Planeta, seja pertinente, interessante e valioso participar de uma palestra ou oficina sobre o tema com esse estudioso. Não acham?
No entanto há inúmeros professores que faltam as apresentações apesar de estarem inscritos e mesmo sabendo que a sua participação implica no fechamento de vagas para outros educadores (normalmente essas oficinas e palestras têm vagas limitadas). Há ainda muitos que participam do evento mas que na realidade só estão ali para ganhar certificados, cumprir horas de trabalho, fazer média com as secretárias de educação ou simplesmente para colocar a conversa em dia com alguns colegas de outras unidades...
Situações como essas fazem com que a afirmação proferida pelo outro palestrante no início de sua apresentação possa ser considerada correta. Mas, como mencionei, há o outro lado da moeda que me faz confiar e acreditar nesse trabalho...
O fato de receber e-mails, de perceber o crescente acesso aos artigos e pensatas que apresentamos no Planeta Educação e, mais recentemente, de criar uma ferramenta alternativa que complementa e dá continuidade aos trabalhos e discussões propostos a partir de oficinas e palestras, aprofundando-os e arrematando-os ao mesmo tempo em que damos mais incentivo, informação atualizada, temas para discussão e possibilidades de contato e interação entre professores, estudantes e público em geral – aumenta as perspectivas positivas que temos quanto a eficácia desses encontros com educadores.
Através do trabalho que venho realizando com o Blog "Escolhendo a Pílula Vermelha" (http://escolhendoapilulavermelha.blogspot.com), creio estar realizando esforços que considero necessários para que essas pessoas destemidas e ousadas sigam em frente e cruzem o rio... E, quem sabe, que outras se sintam instadas a também embarcar nessa viagem... E em que consiste esse projeto?
Ao criar esse canal de comunicação queria fazer com que a opção pela “pílula vermelha” (em clara alusão ao filme “Matrix” e que também está relacionada ao título de uma de minhas apresentações “Escolhendo a pílula vermelha ou a pílula azul”) fosse maior entre os professores que participam das oficinas e palestras e também por parte de quem entra no Planeta Educação.
O Blog “Escolhendo a Pílula Vermelha” procura dar continuidade aos temas e trabalhos realizados em palestras e oficinas, ao mesmo tempo em que amplia a discussão dos textos apresentados no Planeta Educação. Tudo isso adicionado a possibilidade de interação própria dessa ferramenta tecnológica.
Com o encaminhamento do projeto do Blog “Escolhendo a Pílula Vermelha” (http://escolhendoapilulavermelha.blogspot.com) tenho a intenção de debater com maior rapidez do que através dos artigos, os temas da educação, a relação das tecnologias com o trabalho em sala de aula, apresentar alternativas culturais que podem enriquecer os projetos educacionais que pensamos e realizamos, pensar as políticas públicas para a educação, analisar eventos e fatos de interesse, conectar a sala de aula com realizações das ciências e das artes e, em especial, ter a possibilidade de conversar com os professores sobre todos esses assuntos através dos comentários que são enviados.
Penso que através desse novo canal de comunicação com os educadores teremos maior eficiência e melhores resultados quanto a aplicação dos saberes e conhecimentos que estamos trazendo através do Planeta Educação e das oficinas e palestras que realizamos. É mais um desafio, e se trata de uma tarefa de proporções hercúleas, mas não tenho dúvida alguma quanto ao valor da iniciativa. Até mesmo porque gostaria de acreditar que poderá ajudar muitas pessoas e, quem sabe até mesmo outros profissionais, a reverter a idéia de que eventos como oficinas e palestras são inócuos...
1 Edmundo Lisboa de Araujo - Aracaju-SE
Concordo plenmente com o texto lido,mas há uma preocupação muito grande por parte dos dirigentes da educação nese país, quando os resultados do ideb foram baixissimos, precisamos nos somarmos nessas discursões e temas para podermos melhorar e descobri onde está o erro. Sou Coordenador do ensino fundmental de um munícipio do estado e gostaria de receber e-mail com palestra e temas de mudanças nas sala de aula, par este ano teremos que realizarmos capcitações,voces podriam participar delas ok. um abraço
13/01/2008 08:42:01
2 NEUZA MACONI - LE~ÇÓIS PAULISTA/SP
Adorei o texto, concordo plenamente com você; sempre que posso participo de palestras e procuro colocar em prática, mesmo que demore prá gente ver o produto de nosso trabalho.
11/07/2007 16:56:24
3 Cristina Zaragoza - Caçapava-SP
Excelente texto! Eu concordo com suas colocações professor, e tenho a mesma opinião. Sempre que posso participo de palestras, acho muito importante, por ser um momento de maior interação com os mestres e trazer suas idéias e estudos para a nossa prática enriquece nosso trabalho que deve ser de constante reflexão. Obrigada por sua contribuição.
02/07/2007 09:54:20
4 Vandir Duarte de Lima - Marília- SP
Olha, parabéns pelo texto, penso que, se uma pessoa pelo menos, entender e praticar aquilo que ouviu na palestra já deve motivar o palestrante. Lembremo-nos que um educador consciente repassará o conteúdo, se adaptado ou não para seus alunos e uma cascata de trnasmissão de ensino estará sendo instalada. Obrigado
29/05/2007 10:00:30
5 Elian Maria Bantim Sousa - Coelho Neto-MA
Prof. João Luís,
Tive o privilégio de conhecer o site Planeta Educação e em especial sua coluna, Diário de Classe. Esse artigo me fez lembrar de um sábio palestrante Psicanalista e Pedagogo que tive a oportunidade de ouvir recentemente.
Tenho plena convicção de que Oficinas, Seminários e Palestras têm efeitos benéficos quando colocados em prática. São momentos prazerosos nos quais temos a oportunidade de partilhar um pouco da nossa experiência como profissional.
Sinto-me triste porque na maioria das vezes esses momentos são tidos por muitos profissionais como utópicos. Mas penso: como utópico se a graça da transformação está em nossas mãos?
Um forte abraço
Profa. Elian Bantim
27/05/2007 20:24:01
6 alcileia - bauru
Adoro ler os textos da pílula vermelha..
16/05/2007 09:28:53
7 Danilo Zanutto - SJC
Parabéns a equipe, gostei muito desta janela de avaliação, muito bom.
09/05/2007 16:15:37
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