A humanidade dos Deuses - 09/03/2007
O Livro de Ouro da Mitologia
Minerva era a deusa da sabedoria mas, certa vez, cometeu uma tolice; disputou um concurso de beleza com Juno e Vênus. O fato se passou da seguinte maneira: todos os deuses foram convidados para o casamento de Peleu e Tétis, com exceção de Éris, ou Discórdia. Furiosa com sua exclusão, a deusa atirou entre os convivas um pomo de ouro com a inscrição “À mais bela”. Juno, Vênus e Minerva reclamaram a maçã ao mesmo tempo. Júpiter, não querendo decidir assunto tão delicado, mandou as deusas ao Monte Ida, onde o pastor Páris apascentava seus rebanhos, e a ele foi confiada a decisão. As deusas compareceram então diante dele. Juno prometeu-lhe poder e riqueza; Minerva, glória e fama na guerra; e Vênus, a mais bela das mulheres para esposa; cada uma delas procurando influenciar a decisão a seu favor. Páris decidiu favoravelmente a Vênus e entregou-lhe o pomo de ouro, tornando assim, suas inimigas as outras duas deusas.
(BULFINCH, Thomas. O Livro de Ouro da Mitologia. 32ª ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005)
Os gregos da Antiguidade celebrizaram-se universalmente por sua sabedoria. A principal referência para que esse povo ficasse assim conhecido ao longo da história está associada ao pensamento filosófico desenvolvido por célebres figuras como Sócrates, Platão e Aristóteles (entre vários outros).
Podemos, no entanto, afirmar com convicção, que a sabedoria dos gregos revelou-se antes mesmo do advento dos filósofos. A percepção de mundo anterior ao pensamento analítico, ponderado, reflexivo e indagador dos pensadores gregos baseava-se na mitologia, considerada por muitos estudiosos como apenas um conjunto de lendas ou mitos que tentavam justificar ou explicar de forma sobrenatural os fenômenos e acontecimentos da vida.
Não era o que pensavam, por exemplo, os expoentes do pensamento renascentista, que recuperaram as lições e ensinamentos da mitologia greco-romana e a colocaram novamente em pauta. Através de obras literárias, pinturas ou de analogias filosóficas e científicas, alguns dos principais literatos, artistas e pensadores da Idade Moderna procuraram dar aos relatos mitológicos o valor e a força que deles realmente emanava.
Ao resgatar o início da história que desencadeia a célebre Guerra de Tróia, procuro desenvolver uma reflexão acerca não apenas do valor da mitologia e de toda a sabedoria que essa produção encerra, mas perceber o quanto desejamos nos sentir próximos das divindades e que na realidade, é exatamente o oposto disso que acontece, ou seja, a humanidade percebida nos deuses da mitologia grega é que nos faz perceber o quanto somos pequenos, afeitos a erros, sujeitos a desvios de comportamento ou de caráter...
Pois se até a Deusa da Sabedoria, Minerva, cometeu “tolices”... O que dirá de nós, reles mortais...
Nesse sentido o relato que inicia esse texto é exemplar pois nos coloca diante de algumas situações em que despontam o orgulho exacerbado (ou vaidade), o ódio, a intriga, a incerteza, a corrupção e a inimizade. E é importante que percebamos que essa história, em apenas algumas poucas linhas, foi capaz de nos fazer perceber uma variedade de características demeritórias do comportamento dos “deuses” que qualquer folhetim (leia-se novelas) apresentado em cadeia nacional por nossas redes de televisão parece até mesmo “refresco” diante dessa teia de conflitos estabelecidos...
E quantas não são às vezes em que a “maçã de ouro” com seus dizeres inebriantes nos são atiradas diariamente? Quem nunca foi tentado a entrar numa feroz disputa por um cargo melhor, pela companhia mais atraente, por mais dinheiro em sua conta bancária ou ainda por projeção e destaque pessoal e profissional? Será que alguém entre nós poderia se levantar e “atirar a primeira pedra”?
Um pouco adiante, quantas não são as histórias que conhecemos que nos colocam diante de situações em que as pessoas (entre as quais podemos até mesmo estar incluídos) ofereceram favores, bens, cargos, dinheiro ou qualquer outro benefício em favor de sua vitória numa disputa? Corromper é inerente aos deuses e também aos seres humanos? O que podemos fazer para superar essa chaga que nos assola e prejudica desde tempos imemoriais?
O pior, entretanto, é constatar que nem mesmo os “Deuses do Olimpo”, com todos os seus poderes e também a imortalidade, foram capazes de extirpar de nossas vidas a inimizade e o ódio... Mais do que isso, que foram eles mesmos artífices de inúmeras maldades perpetradas em seu próprio meio e também na Terra...
Será que estamos distantes dessa realidade? E o que fazemos quando poluímos a Terra e condenamos gerações de seres humanos ao ostracismo e a miséria nos anos vindouros... Não será isso apenas uma amostragem do quanto estamos semeando o ódio e a inimizade no mundo de hoje e também naquele que ainda irá despertar?
Não quero apenas as virtudes... Mas creio que todos nós precisamos ser um pouco mais virtuosos e reflexivos para entender que os “pomos de ouro” ou os “potes no final do arco-iris” estão nos condenando a um final dos mais trágicos...
1 suely benedita prudenciatti - lençóis paulista
Adorei este conto,é muito bom aprend
er sempre
08/06/2009 18:15:57
2 Elias Gottardo - Cerro Largo RS
Eu achei muito bom esse texto, parabéns a quem fez!!!!!
19/01/2009 18:44:49
3 Carlos Eduardo Machado da silva - Rio de Janeiro
Não deixe de escrever.
31/10/2008 12:48:22
4 Cleston Jimenes Cardoso - São Paulo - SP
Excelente o texto, principalmente quando nos mostra a humanidade dos Deuses, e como já disse o poeta, de perto, ninguém é normal, acrescento após a reflexão trazida, nem os Deuses.
02/05/2008 23:33:25
5 gisele dos santos teixeira - petropolis
Adorei esse artigo da otimas ideias de como se trabalhar com a filosofia de um modo mais prazeroso e descontraido.Eu particularmente adoro contos gregos e acho que todo mundo deveria saber pelo menos uma historia dos deuses para apliar sua filosofia cotidianas!!!!!!!!
28/04/2007 12:09:01
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