Aprender com as Diferenças
 

Orientando um deficiente visual no uso do computador - 31/01/2007
Luciane Maria Molina Barbosa

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O primeiro contato do deficiente visual com o computador é um momento cercado de múltiplos sentimentos, misturando insegurança com curiosidade, despertando medo e ansiedade, e acima de tudo uma vontade imensa de conquistar a independência para realizar tarefas comuns ao dia-a-dia, mas que para ele, até então, não seriam possíveis sem a mediação de um vidente, o que tornam suas ações restritas.

O computador precisa ser apresentado em sua totalidade, não como algo intocável, cuja fragilidade não permite explorações, mas como um objeto que esteja a serviço do homem, uma ferramenta que mereça ser tocada, ser experimentada em suas diversas características físicas ou operacionais.

O deficiente visual não precisa ter medo do computador e, para isso, o professor/mediador pode tentar criar um clima de descobertas, propiciando esse contato e essa aproximação, bem como estabelecer uma relação de segurança e confiança entre ambos: usuário/mediador/equipamento.

A partir do reconhecimento da estrutura física do computador, um diálogo torna-se fundamental, para traçar metas, objetivos, finalidades, procurando compreender o porquê e o para quê esse novo conhecimento se aplica no dia-a-dia desses usuários.

Muitas ações são essenciais e dependem da etapa de aprendizado que esse educando se encontra, podendo aliar escrita/leitura do código Braille às funções do software ou apenas inserir o comando de voz a quem já domine a língua escrita ou, ainda, substituir o visual pelo áudio no caso de adultos já familiarizados com o mundo digital. E, uma outra oportunidade seria a utilização do computador para alfabetização/reabilitação no caso de experiências sem sucesso com o código Braille. Em quaisquer situações o uso do teste do teclado é insubstituível, e em certos casos podemos introduzir algumas marcas específicas no teclado, como etiquetas em Braille.

Conhecer a posição das teclas, identificar o som que cada uma produz (maiúscula e minúscula), até mesmo medir a força/pressão dos dedos para teclar é algo de extremo valor no início do aprendizado em informática. Posteriormente podemos navegar em seus menus, apresentando as opções do programa, leitor de documentos, editor de texto, jogos, entre outros. Gradativamente iremos ampliando essas explorações de acordo com o grau de dificuldade e com o desempenho de cada um diante das novas ações que estão sendo implementadas. O leitor de documentos é um dos aplicativos de maior importância para a familiarização da voz (pronúncia de palavras, leitura de frases, pontuação).  Nessa etapa surge uma enorme dificuldade para compreender o que se fala, podendo diminuir as dúvidas de acordo com o uso. Quanto mais se escuta mais comum a voz se apresenta e a leitura surge com naturalidade.

O editor de texto é outro momento para explorar a digitação, assim como diferentes funções dentro do aplicativo.

Jogos e utilitários podem servir como apoio a construção dos conhecimentos em Dosvox. Uma outra observação pertinente ao tema, é a de que, no Dosvox, podemos utilizar diferentes caminhos para se chegar ao mesmo lugar, tornando-o ainda mais dinâmico. Basta esquecermos um dos caminhos que logo recorremos a outro pra substituir a lacuna que o esquecimento causou.

O computador pode e deve ser visto como uma ferramenta cognitiva que facilita a estruturação do trabalho, viabilizando a descoberta, oferecendo condições propícias para a construção do conhecimento.

Assim, a "informática" não deve ser vista como uma substituição do professor como mediador de um processo. É uma ferramenta que precisa ser utilizada a favor desse processo de ensino/aprendizagem e não contrário a ele. Estamos vivendo essa transição e, o "deficiente visual" também tem a oportunidade de estar cada vez mais próximo desse recurso, participando dessa evolução.

O acesso à informação pelo deficiente visual, até o surgimento de um sistema que possibilitasse sua interação com o computador, estava restrito ao uso do Sistema Braille, método essencial na etapa de alfabetização, na qual o contato com a palavra escrita, sua forma gráfica e distribuição no papel são essenciais para o processo. Porém o isolamento do deficiente visual, sobretudo adultos em processo de escolarização, reabilitação e profissionalização estava limitado aos seus pares, em que o Braille só permitia a comunicação entre os que o dominavam ou, através de transcrições dependendo de terceiros para atingir tal finalidade.

Por outro lado, as informações via áudio são falhas no sentido em que não se possibilita navegar no texto letra a letra, saber como as palavras são escritas, retornar e avançar com rapidez um determinado trecho.

Para isso, o Dosvox veio trazer a liberdade e independência que o deficiente visual precisava, autonomia esta que está sendo conquistada, aprimorada e reconstruída dia-a-dia com as constantes transformações tecnológicas, pois num momento em que o mundo se encontra conectado constantemente com a informação o deficiente visual ganha seu espaço não só para a conquista de sua comunicação, mas uma forma eficaz de inclusão escolar, profissional e social, podendo ele interagir com o mundo, ir além dos limites que sua visão alcança...

É ampliar suas possibilidades não apenas de interação homem/máquina, mas, sobretudo da interação entre todos nós!!!

Construir e reconstruir espaços acessíveis sejam eles dentro ou fora do ambiente educativo, tem como objetivo atingir um número cada vez maior de pessoas.

Devemos priorizar as múltiplas maneiras que os Deficientes Visuais apresentam de perceber e relacionar-se com o mundo, não evidenciando as deficiências, longe da super proteção e aproximando-se de uma maior valorização do ser humano. Percebemos, nessa longa caminhada, os desafios e obstáculos que temos que vencer dia-a-dia, porém não estamos sozinhos...

Trabalhar com Educação Especial/Inclusão Escolar é algo muito gratificante, até porque vivi e vivencio isso na prática e, a partir dessas experiências, aliadas à  uma formação teórico/prática, tenho a missão de transformar as dificuldades em superação.

Luciane Maria Molina Barbosa - Formação em Pedagogia, Habilitação em Sistema Braille, Cursos em Soroban e Matemática Adaptada e Informática para Deficientes Visuais. Atuação direcionada a Alfabetização de Deficientes Visuais com Jogos Pedagógicos Adaptados; Reabilitação e Apoio Escolar, Atividades relacionadas à Profissionalização. Ministra Palestras enfocando aspectos fundamentais para a Inclusão do Deficiente Visual no Espaço Educativo. Saiba mais acessando:  www.braillu.com

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18 COMENTÁRIOS

1 Genilda - Guarabira
Boa Noite, amei seu artigo e gostaria de saber mais sobre como trabalhar com deficiente visual na informática, pois trabalho com oito alunos cegos e seria muito bom se me enviasse mais informações de como ajudalos, já que todos são adultos e precisam de estimulos para continuar, embora a escola não tenha tantos recursos assim. Por isso, peço ajuda... Obrigada e aguardo retorno. Genilda
04/04/2013 21:02:06


2 Amanda Motta - Sao Roque/ Sp
Oi boa noite, adorei seu artigo. Eu faço técnico em informatica e tenho que fazer um programa e pensei em fazer um que ajude deficientes visuais e já que você trabalha e sabe as dificuldades gostaria de uma opinião. Que tipo de programa facilitaria a aprendizagem de um deficiente com o computador? obrigada!
10/03/2013 19:54:41


3 Maria José de Oliveira Vasconcelos - Cabeceira Grande MG
Parabéns por esta iniciativa, meu marido perdeu a visão e necessita de um computador que tenha comando de voz p preencher as horas de solidão, pois eu preciso trabalhar ele fica mt só. Me ajude a conseguir um computador.
15/07/2012 16:27:15


4 Albenia - Santa Luzia do Norte
Olá tenho um casal de amigos que são deficientes visuais, e são muito ativos, mais do que algumas pessoas que não tem esta deficiência. Então eu tive a idéia de ensinálos informática, tenho muita habilidades nesta área e eu meu irmão administramos uma escola de informática. Achei este artigo muito bom, gostaria se possível de receber mais algumas informação sobre o assunto em questão. Se puder mandar informações como: Se existem computadores adaptados para este tipo de deficiência, softwares e etc. Desde já agradeço pela atenção. Albenia Praxedes
26/04/2012 13:47:19


5 Mariana Santos Barbosa - São Vicente
Ola Luu, parabééns pelos seus artigos postados na net. Você realmente é o maximo em conhecimento. Parabéns, por sempre estar me ajudando nos meu trabalhos da faculdade. Beijos querida
15/06/2011 13:25:02


6 ari fucano - iacangasp
aonde encontra uma maquina para deficiente visual, se tiver um contato por favor me informe, desde ja obrigado ari fucano
30/05/2011 12:52:57


7 monique - mesquita
Boa Noite! gostaria de saber onde encontro um computador para deficiente visual pois minha mãe é deficiente visual é ela tem muito interresse em aprender a tc e navegar na internet moro no rio de janeiro fico no aguardo OBG!
19/03/2011 20:00:48


8 cleube maria da silva barros - macapa
gostaria de saber onde que ocorrera o curso de braile em macapa e como posso me inscrever.
08/10/2010 20:03:15


9 Ari Vieira - Praia GrandeSP.
Professora, muito bom o texto, explicativo e vai me ajudar muito no curso que estou elaborando.
28/08/2010 17:42:20


10 Inês Costa - InhumaPI
Amei a sua matéria. Tenho um aluno de apenas 4 aninhos que é deficiente visual.Ja tenho treinamento de como trabalhar, mas quando se estar iniciando, tudo que aparece em relação ao que se vai trabalhar é muito bem vindo. Gostaria de mais informaçoes sobre o método alfabetizador, se for possível.Agradece, Ines Costa.
11/05/2010 22:17:10


11 Erika Feres - São Paulo
Parabéns pela matéria! Gostaria de mais informações para ajudar o filho de uma amiga de 18 anos que está desmotivado por não ver perspectivas de futuro. Obrigada, Erika
17/03/2010 09:03:22


12 como consigo desconto na compra de um computador - capitão de campos
estou fazendo uma pesquisa, que um amigo que é dificiente visual, preciso de sua ajuda de onde comprar um conptador especifico e se consigo um descontro. você pode me orientar.
05/03/2010 11:08:00


13 verlane célia - macapá
Bom dia, adorei muito seu artigo e gostaria de saber mais sobre a informática para deficientes visuais, pois trabalho no nucleo de tecnologia do centro de apoio ao cego em macapá. Aguardo informações, por favor. Há se puder indicar onde posso fazer cursos de capacitação na área ficarei muito agradecida.
29/09/2009 10:16:18


14 Léa Paraense de Oliveira Serra - Belém/Pará
Tive conhecimento desse artigo através de um comentário no Portal Educared e, com certeza, será muito útil na minha prática como professora, no momento em que estou criando um blog da disciplina Sociologia, pois tenho alunos deficientes visuais. Agradeço muito. Léa Paraense Serra
24/02/2009 20:43:53


15 Delamare Martins do Carmo Filho - GuaratinguetaSP
Oi Luciane, li seu artigo sobre orientação do DV no site Planeta Educação e confesso Achei sua matéria simplesmente fantástica e gravei em meus documentos para eu ler e reler varias vezes. Me apaixonei pelo texto, menina. Ah, sou colunista de um site de São José dos Campos e ficaria muito feliz em fazer uma entrevista com voce para expor uma matéria sobre o uso do DosVox. Delamare MC Filho
02/07/2008 19:22:59


16 Elaine - São Paulo
Boa Tarde Tenho uma amiga que têm um filho de 46 anos é especial e ele está quase cego e minha colega já faz mais de 10 anos que esta a procura de uma escola gratuita para deficiente visuais,por acaso vocêis poderiam indicar alguma próxima a zona norte? Desde já obrigada aguardo a resposta Elaine
29/05/2008 17:14:22


17 silvia helena chaigar - pelotas
gostei da matéria,mas tenho dúvidas de como pode-se scanear e ler no doxvox e tb como entrar na internet pelo mesmo sistema. Obrigada. sivia
19/03/2008 16:37:06


18 Tânia Cristina Moreira Silva Amaral - Três Lagoas M.S.
Boa Noite! Adorei seu artigo gostaria de saber mais sobre o deficiente visual na informática, pois trabalho com eles tenho 2 cegos totais. Me de mais informações, amei. Tânia Amaral.
24/06/2007 19:00:15


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