Não leve gato por lebre... - 22/01/2007
Você realmente sabe como é a escola de seu filho?
Quando estamos em período eleitoral e assistimos aos programas da propaganda gratuita dos candidatos na televisão ficamos indignados com promessas vãs, irrealizáveis e irresponsáveis de boa parte dos candidatos que desfilam pela tela. Já ouvi e li em algumas fontes que os “marqueteiros” responsáveis pelas campanhas dos candidatos orientam seus contratantes a dizer exatamente aquilo que os ouvidos dos eleitores gostariam de escutar quanto a propostas de governo.
Isso faz parte da própria lógica mercantil capitalista que se estabeleceu no mundo desde o renascimento comercial e urbano, na transição do mundo medieval para o moderno (entre os séculos XIII e XVI). Alardear as maravilhas dos produtos e serviços oferecidos por um determinado negociante e por sua firma para conquistar o público e realizar mais e mais vendas constitui um dos alicerces do sistema em que vivemos.
Surge, no entanto, um problema quando a publicidade em torno de uma mercadoria ou serviço vende não apenas as qualidades próprias e inerentes ao produto, mas também uma série de sonhos ou possibilidades que dependem não apenas daquilo que está sendo negociado...
Isso é perceptível aos olhos mais atentos, no que se refere ao mundo político, quando se cruzam as informações dos planos e projetos mirabolantes dos candidatos com as possibilidades financeiras e jurídicas de suas fantasiosas criações. Não são poucos os casos de candidatos a prefeito ou vereador que se comprometem, por exemplo, a construir centenas ou milhares de casas populares, contratar empresas mais eficientes que atuam na área de transporte público ou de coleta de lixo ou ainda empregar diversas pessoas em cargos públicos...
Não permita que o enganem, que o façam de palhaço... Exija seus direitos,
lute por aquilo que é justo, cobre dos políticos e também das empresas que
prestam serviços ou vendem produtos para você... Inclusive das escolas
em que seus filhos estudam...
Ao eleitor leigo e pouco informado todas essas medidas podem parecer simples e facilmente realizáveis quando embaladas e vendidas pelas palavras fáceis dos políticos de plantão. Esquecem-se ou ignoram o fato de que qualquer contratação ou compra feita por uma prefeitura depende de aval financeiro (da existência de dinheiro em caixa para que o negócio possa ser efetuado), de procedimentos de concorrência pública (como as licitações), da aprovação do executivo e do legislativo, das necessidades mais ou menos prementes do município ou do estado,...
E não se iludam aqueles que imaginam que tal atitude relativa aos políticos restringe-se apenas as pessoas mais humildes, que têm menos estudo e menor acesso a informação através de jornais, rádios, televisão ou internet... Tal desmazelo ou despreocupação acontece até mesmo entre as pessoas que têm diploma universitário e acesso aos melhores jornais diários e demais mídias informativas.
Isso é mais claramente perceptível quando transferimos a situação da “compra” de um determinado produto ou serviço da esfera política para a particular e nos atrevemos a olhar com maiores cuidados a questão da educação propriamente dita.
Se atentarmos para a matrícula escolar de nossos próprios filhos em escolas particulares ou mesmo públicas perceberemos o quanto somos iludidos ao fazermos a aquisição desse mais que necessário e fundamental trabalho para a formação de nossas crianças.
Quem são os professores de seus filhos? Qual é a proposta pedagógica
da escola em que eles estudam? Essa unidade escola tem quadras, laboratórios,
computadores e biblioteca? Que projetos estão previstos para as diferentes
séries? Você tem que se informar antes de matricular seu filho, depois não adianta reclamar...
Para começo de conversa, diferentemente do que pensam muitas pessoas a educação pública é cara e custosa para cada cidadão e, em vista disso, demandaria uma cobrança mais rigorosa por parte da comunidade quanto aos serviços que oferece. E não me refiro aqui apenas à necessidade de equipar melhor as escolas, com mais livros, computadores, quadras ou laboratórios (também isso), mas a qualidade do projeto pedagógico, a formação de corpos docentes mais atualizados e qualificados, a contratação de profissionais de apoio para um melhor funcionamento das escolas, a melhor remuneração dos funcionários,...
Visite a escola pública em que seu filho está matriculado. Observe as instalações, verifique a limpeza, converse com os diretores, conheça os professores, pergunte sobre o projeto pedagógico, faça as necessárias críticas, elogie se perceber pontos positivos na instituição, visite os laboratórios de ciências e informática, peça para conhecer a biblioteca e o acervo disponível,...
Esteja atento às mudanças que se mostram prementes e cobre da direção da escola e das autoridades municipais que medidas sejam tomadas nesse sentido. Entre em contato com os outros pais de alunos e criem uma forma de interagir, trocar idéias e manifestar suas opiniões em favor de uma escola melhor para a comunidade a qual pertencem. Seus filhos lhes serão muito gratos por isso. A cidade na qual vivem será melhor para essa e muitas outras gerações se essas práticas se estabelecerem e se tornarem correntes ao longo dos anos.
No caso das escolas públicas cabe ainda aos professores, coordenadores, diretores e demais funcionários também atentar para as melhorias necessárias e cobrar das autoridades públicas as medidas e verbas a serem aplicadas em seus locais de trabalho.
A escola incentiva a leitura? E a pesquisa, é estimulada? Esportes e
artes fazem parte da grade curricular? Ensinam-se línguas? Como é
a relação que se estabelece entre os estudantes e a tecnologia? Pergunte,
pergunte e pergunte... Só assim irá saber como é realmente a escola de seus filhos...
Nas escolas particulares deve-se repetir o exercício das escolas públicas para que os pais tenham um diagnóstico preciso das condições reais das instituições nas quais estão matriculando seus filhos.
No caso das particulares há, em relação ao ensino público, o agravante da concorrência desmedida que leva essas escolas a partir para agressivas campanhas publicitárias através das quais alardeiam todas as suas vantagens, resultados e pontos positivos para conquistar mais matrículas.
Não se deixem iludir pelas propagandas. Antes de se decidirem por qualquer escola (especialmente por aquelas que mais incisivamente apelam para a publicidade), visite diferentes unidades de ensino, converse sobre os projetos pedagógicos, compare a proposta das escolas com a sua filosofia de vida e os planos que tem para a vida de seus filhos e procure conhecer o estabelecimento a partir do depoimento de outras pessoas que têm seus filhos ali matriculados.
Também não permita que a política de preços de uma escola seja o principal quesito para a definição de sua escolha. Você não está comprando um par de sapatos ou um fogão, o que está em jogo nesse caso é o futuro de seus filhos... Nesse sentido desconfie de preços muito reduzidos na comparação com os concorrentes, de isenção de taxas de matrícula ou de descontos promocionais a partir da concessão de bolsas.
Os custos que desaparecem nesse momento podem ser agregados aos valores dessas escolas como taxas de material, custo de apostilas ou com a cobrança por serviços tais quais escolinhas de esporte, aulas de xadrez, cursos adicionais de línguas,...
Há ainda as escolas que pertencem a grandes redes e que se utilizam de dados de todas as unidades associadas para propagandear o seu sucesso em exames vestibulares com o intuito de convencer seus potenciais clientes de que o acesso de seus filhos a tal escola lhes garantirá o sucesso na disputa pelas melhores vagas nas universidades brasileiras...
O melhor desempenho de uma criança ou adolescente na escola não está associado ao nome da escola ou aos resultados divulgados pela mesma como sendo comprovação de sucesso garantido... A escola ideal não existe, o que encontramos no mercado é o maior engajamento das instituições com a educação e, consequentemente a criação de possibilidades maiores de bons ou ótimos resultados por parte dos estudantes não apenas em provas ou exames, mas na vida...
E para que isso aconteça é determinante que os pais acompanhem de perto a vida escolar de seus filhos, estimulem sua vida cultural e esportiva, participem das atividades e reuniões dos colégios em que matricularam suas crianças e que, é claro, tenham sido criteriosos na escolha dessas escolas para que não acabem literalmente levando “gato por lebre”...
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