Os Titãs tinham Razão - 17/10/2006
Emílio Figueira
E por estar formado em Psicologia, pensando como um psicólogo, automaticamente fui identificando todos os mecanismos psicológicos que ela descrevia.
Principalmente como ela pode promover esse nosso processo de “emburrecimento”, roubar o nosso tempo, tirar-nos de outras atividades. Muito mais do que isto, como a televisão pode prejudicar a nossa saúde mental.
A origem da palavra Televisão é uma junção do grego tele (distante) e do latim visione (visão). Ela é talvez a nossa maior herança do século XX e sua tecnologia. Popular no mundo inteiro, estar presente nas mais remotas regiões, vilas com suas vantagens e as desvantagens. Fonte principal da informação.
Os povos diariamente escutam e prestam atenção a uma seqüência curta da notícia que lhes forneça com a informação e os sustentos necessários informados durante o dia por meio do Telejornalismo, programas que duram entre segundos e horas, divulgando notícias dos mais variados tipos, utilizando imagens, sons e — geralmente — narração por um apresentador (chamado de âncora, no jargão profissional). Às vezes, outros programas podem ser interrompidos por plantões de notícias em casos muito importantes e urgentes.
Quem não pára o que estiver fazendo para prestar a atenção quando toca a música do Plantão da Globo? Quem produz a programação da televisão, programas de conversa (talk-shows), seriados, telenovelas, telejornais, debates, documentários, desenhos animados, filmes, adulto, apropriam-se de conhecimentos da Psicologia com certa competência.
Utilizam-se principalmente muito de um mecanismo chamado Condicionamento Operante ao comportamento associado às suas conseqüências. Esse comportamento foi esquematizado pelo psicólogo Burrhus Frederic Skinner (1904-1990), conceito central de sua teoria conhecida como Behaviorismo.
O Condicionamento Operante é composto por um estímulo seguido por um comportamento que dará um resultado que, a partir de então, definirá a sua freqüência. Trazendo isso para o assunto desta crônica, os programas utilizam-se técnicas, recursos, ganchos (para usar a própria linguagem deles) para segurar o telespectador.
É o que Skinner chamou de Reforçamento, ato de fortalecer uma reposta com a adição de uma recompensa, aumentando a probabilidade de que a resposta seja repetida – aqui fidelidade de audiência, sendo injetado informações e desejos nos inconscientes das pessoas, viciando-as sempre nas mesmas opções.
As mentes de muitos ficam tão contaminadas que, sem perceber e de maneira mecânica, estão sempre assistindo as mesmas coisas nos mesmos horários.
Podem até estar assistindo algo mais interessante e no horário de costume, surge a grande necessidade de mudar o canal para a mesmice. É um vício que não percebemos. Às vezes, esse condicionamento é tão acentuado que assistimos sem nem prestar atenção ao conteúdo.
Outras ficamos tão vidrados, que a televisão mina nossas forças, não conseguimos levantar para cumprir nossos deveres ou fazer outras atividades de lazer; preferíamos assisti-la em vez de ter um dialogo com o próximo. Em muitas visitas, ela continua ligada como atração principal da sala. Se a televisão não for ligada, temos incômodos mentais, algo nos falta.
Muitos especialistas dizem que a televisão fez povos fisicamente inativos. Seguidores e escravos das modas e costumes ditados por ela.
A partir desse condicionamento, telejornais, outras produções, telenovelas e a publicidade, induzem-nos disfarçadamente a comportamentos, plantam idéias em nós e principalmente as chamadas Propagandas Ideológicas quando as pessoas não percebem que estão sendo doutrinadas. Um exemplo clássico foi o que aconteceu durante o período nazista, na Alemanha de Hitler.
Suas errôneas idéias básicas - perseguição aos judeus, um patriotismo exagerado – introduziam nos alemães, atitudes de desprezarem outros povos a ponto de desejarem dominá-los. Propagava-se um fanatismo pelo ditador Hitler.
Os meios de comunicação – jornais, rádios, cinemas e poucas estações de televisão da época -, eram utilizados para que a população adorasse Hitler quase como a um deus.
Nas propagandas ideológicas a doutrinação é feita na base da distorção dos fatos, histórias parcialmente verdadeiras ou inteiramente mentirosas para convencer as pessoas de alguma idéia. Exemplo mais próximo a nós, no Brasil do tempo dos militares, o povo também não sabia das torturas que aconteciam nas prisões.
Os meios de comunicação de massa não têm por a característica principal se dirigir ao raciocínio das pessoas, pois a razão discute, pesa o que é vantajoso e o que não é. Eles, sabiamente, dirigem-se à parte emocional do ser humano, ao seu mundo de sensações e de fantasias.
Vejam as propagandas de cigarros ou bebidas: mulheres e homens bonitos, carros velozes, cavalos, aviões, asas-deltas, luxo, riqueza, liberdade, emoção, aventura, beleza, dinheiro – dando-nos a sensação que fumar ou beber é ser feliz num mundo de sonhos que todos almejam. Esses meios mesmo apresentando um mundo idílico, perfeito, sem contradições, não tem o controle absoluto de nossa subjetividade.
Mas utilizam-se da persuasão como um mecanismo de convencimento que poderá ou não ultrapassar as bases racionais dos conteúdos divulgados.
Ou utilizam recursos de bases irracional, explorando nossa emotividade associada ao conteúdo cognitivo. Eu poderia falar muito mais sobre essa linguagem de sedução. Em épocas de eleições, os políticos beijam as criancinhas para fazer propaganda de si mesmos como um bom sujeito e de competência política.
Além dos interesses comerciais, há também ideológicos. Cada meio de comunicação, mesmo em uma democracia, pode apoiar um candidato e ter uma idéia diferente a passar para os eleitores.
Na imprensa escrita essa linha de idéias é passada mais claramente nos chamados editoriais, sem assinatura de ninguém, onde aparece o pensamento do jornal a respeito das noticias dadas. Na notícia, o jornal e a televisão podem passar disfarçadamente uma idéia.
Mantendo-se uma falsa imagem de imparcialidade, não dirão diretamente: “votem em fulano!” Mas usarão truques: quando, por exemplo, estiver contando para os telespectadores o dia dos candidatos, o apoiado terá um tempo maior, será mais focalizado com uma frase bem interessante.
Omitem pontos positivos dos outros candidatos, mostrando-os em momentos em que eles estejam dizendo alguma bobagem. Uma noticia pode ser contada de varias maneiras, tendo, nas entrelinhas, idéias diferentes a respeito dos assuntos.
O ideal mesmo é que para saber toda a verdade a respeito de um fato, teríamos que ler dois ou três jornais diferentes e assistir a duas ou três estações de televisão. Mas a correria e cobranças do dia-a-dia não nos permitem parar e fazer essa análise de conjuntura.
Talvez um dos perigosos programas de televisão para a saúde mental sejam os Programas de Jornalismo Policial. Verdadeiros espetáculos circenses (não querendo ofender os reais profissionais do circo!) onde os apresentadores parecem chamar os telespectadores de imbecis de tanto que gritam, pulam e exibem-se como se fossem os verdadeiros donos da verdade.
Pior que isto, pegam a desgraça e o sofrimento alheio e fazem deles o maior sensacionalismo. Em um misto de espetáculo e fatos ruins, vão implantando coisas negativas nas mentes das pessoas. Essas sem perceberem, estão tendo o inconsciente cada vez mais recheado de medos e pavores.
Sensações que as aterrorizam no dia-a-dia; sentem a todo instantes estarem sujeitos a ser as próximas vítimas das desgraças assistidas na televisão. Isso para algumas pessoas torna-se até patológico, temem contatos sociais, não sair mais de casa com medo de.
Mas por outro lado, os telespectadores desses programas policiais também me lembram os antigos romanos que iam ao Coliseu divertir-se vendo pessoas serem devoradas pelos leões. Só que hoje, sentam em seus sofás e assistem confortavelmente a desgraça alheia.
O que há de bom nisso? O que ganham de bom com isso? No início dos anos 1990, o filósofo e professor de literatura Luiz Vitor Martinello, em um protesto solitário contra a dominação dos meios de comunicação de massa, proibiu sua família de assistir a Rede Globo.
Dias depois em uma das nossas conversas de mesa de bar, disse-me: “Emílio, eu proibi a Rede Globo na minha casa. Mas eles ainda não perceberam que a partir do momento que fechei um canal condicionado, abrir-lhes a possibilidade de conhecerem todos os outros e ter principalmente um leque de opções e escolhas!” Bravo, meu eterno mestre…
Fonte: Blog do Emílio Figueira (http://blog.emiliofigueira.com/2008/09/26/os-titas-tinham-razao/#more-54)
1 conceição miranda - Salvador
Olá,
Considero o preconceito, seja lá de que origem for, uma violência aos direitos humanos. Esse artigo nos traz uma amostra do que ocorre verdadeiramente no oriente. Tinha uma visão muito romantica dessa parte do mundo, jamais esperei que houvesse algo semelhante no universo oriental.
30/07/2007 10:44:03
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