Entrevistando para Saber
Renata Dias Jornalista formada pela Universidade do Vale do Paraíba; Pós- graduada em Assessoria, Gestão da Comunicação e Marketing na Universidade de Taubaté; Coordenadora de Comunicação na empresa Planeta Educação. E-mail: renata.dias@fk1.com.br

Ana Elisa Siqueira - 25/09/2006
Diretora da EMEF Desembargador Amorim Lima

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 Trabalhadora incansável, Ana Elisa Siqueira é assim, uma apaixonada pela educação e pelo trabalho. Emociona-se todas as vezes que fala do projeto inspirado na Escola da Ponte, destacado trabalho desenvolvido na EMEF Desembargador Amorim Lima, localizada no bairro Butantã, na grande São Paulo. 

Há 20 anos na rede municipal de ensino, carrega o símbolo de luta e de uma boa educação para todos. Conheça o percurso dessa mulher de garra.

Qual seu percurso profissional?

Eu estou na rede municipal há 20 anos, entrei bem mocinha. Comecei como professora de Ensino Fundamental e Educação Infantil. Depois pedi afastamento da rede pública para cursar Filosofia. No segundo ano da faculdade apareceu um concurso para Coordenadora Pedagógica da Rede Municipal, eu prestei e passei. 

Resisti um pouco porque pensava em acabar a faculdade. Acabei voltando, depois de certo tempo de indecisão, como Coordenadora Pedagógica. Trabalhei em órgãos centrais e depois vim a ser Diretora.

Qual a sua formação?

Pedagogia. E não terminei Filosofia. Eu sempre trabalhei de 16 a 18 horas por dia. Impossível fazer duas coisas tão intensas e tão fortes. A Filosofia é um curso que demanda muito estudo, muita dedicação, muito mais do que qualquer área do conhecimento, é uma área muito difícil. É o mundo que está lá. Eu tive que fazer uma opção e naquele momento eu optei pelo trabalho.

Quando foi que você decidiu pela Pedagogia?

Não sei bem como foi isso. Acho que foi o percurso que foi sendo construído. Eu me lembro que quando era pequena eu brincava de escolinha, era uma das brincadeiras preferidas. Eu tive uma educação muito feminina, eu estudei em colégio de freira. 

A minha mãe achava bonito ser professora, minha avó era professora. Foi uma coisa de certa forma influenciada e eu optei por fazer pedagogia e me encantei pela questão. Acabei sendo educadora.

Você estudou em Colégio de Freiras, depois foi para Rede Pública. Você sentiu diferença? Existe essa diferença?

Não sei se dá para precisar essa diferença. Não sei se dá para comparar duas experiências tão diferentes: uma como criança e adolescente e outra como adulta, vivendo outra coisa.

Sua carreira foi sempre na Rede Pública?

Sempre, eu nunca trabalhei na Rede Particular. A minha opção foi escola pública, eu fiz PUC (Pontifica Universidade Católica) e essa universidade tem uma formação que eu acho maravilhosa no ponto de vista social, pensada e articulada com as coisas públicas - com a cidadania. Minha formação se deu quanto estudante, e de certa forma é ligada à religião, uma escola católica, também tem essa questão.

O que é necessário para ser um bom profissional na área educacional?

Hoje eu penso que o fundamental é estudar. Outra questão é ter compromisso e crença. Eu acho que não dá para fazer nada em educação se você não tiver fé. Você tem que ter fé na vida e acreditar no homem.

Você acredita que o Brasil ainda consegue uma qualidade de educação para todos?

Acredito. A gente ainda não tem, ainda falta muito. Acho que só vamos ter uma qualidade na educação para todos quando todas as escolas tiverem de fato a mesma perspectiva de qualidade. Tem que ser uma coisa muito mais forte. Não só o discurso de que a “Escola é muito importante”.


Ana Elisa também participa do dia-a-dia dos alunos,
sempre selecionando textos para compartilhar com os alunos

O que você acha que falta para chegar nisso?

Em primeiro lugar eu acho que falta mais empenho das pessoas, de cada um de nós. De todos os brasileiros em pensar que educação que a gente quer, é uma educação de qualidade, seja pública ou privada, isso não importa. 

Que a pública tenha tantas qualidades quanto à privada, principalmente uma escola de Ensino Fundamental, porque é onde a gente pode ajudar a pessoa a querer coisas. Então tem que ser uma escola com essa perspectiva de ajudar as pessoas a sonharem, a garantir que essas pessoas possam sonhar com outra vida ou com a mesma vida, mas de outro jeito.

Hoje você é Diretora da EMEF Desembargador Amorim Lima, e ouvimos falar muito a respeito, um ousado projeto baseado na metodologia de Ensino da Escola da Ponte de Portugal, porque você trouxe este projeto?

Em primeiro lugar não foi eu quem trouxe, não é uma coisa minha, foi uma conquista que a escola teve. Foi a comunidade - que inclui os pais, os educadores e a equipe técnica. Foi um conjunto de pessoas que conseguiu. 

A gente se inspirou na Escola da Ponte e a partir daí estamos construindo uma educação para essa escola. Que tenha outra cara, outro jeito. Uma educação que a gente acredita. Uma dessas crenças é pensar que as crianças possam ser donas do seu processo de aprendizagem. 

Podem saber como aprendem. Saber como a gente aprende é um passo na nossa própria autonomia. Quando a gente aprende como a gente aprende, a gente aprende como a gente é. A gente aprende o que a gente pode e o que a gente não pode. O que a gente é bom e o que a gente não é. Onde a gente precisa de ajuda e onde não precisa. Então isso dá uma outra consciência de si próprio.

Eu penso que isso é fundamental e foi uma das coisas que mais me encantou na Escola da Ponte. Outra coisa que me encantou profundamente é o fato de ser Pública. Por exemplo: Todas as pessoas da Escola da Ponte sabem o que vão aprender do primeiro ano até o último que estão lá. Isso é de fato um trabalho cidadão.


Ana Elisa discute com os alunos trabalhos realizados em sala de aula.
Reforçando o trabalho em grupo

Foi um grande desafio?

Foi. Na medida em que fomos estudando a Escola da Ponte descobrimos que era importante ter salas grandes, onde todos os professores trabalhassem juntos e os alunos também. Fomos descobrindo como era importante o trabalho do grupo, dando muito mais sentido para o que a gente sabia de ler o livro (ALVES, Rubem. A Escola com que Sempre Sonhei sem Imaginar que Pudesse Existir, Ed. Papirus). 

É um outro exercício, quando você lê uma coisa e quando começamos a nos inspirar na Escola para tentar fazer uma escola diferente. Foi maravilhosa essa possibilidade. Foi de fato uma benção, porque nos iluminou e nos ilumina todos os dias.

E o projeto hoje é um sucesso?

Eu acho que a gente não pode usar esse termo, sucesso, mas é um projeto de educação de verdade. Não é um sucesso porque é bom, mas é um sucesso na medida em que ele permite que todas as pessoas possam de fato ser pessoas aprendizes. 

Ele devolve para escola essa questão do aprendizado, a possibilidade de aprender e ensinar. Ele coloca a escola no lugar que ela tem que estar em todos os pontos de vista. Até os pais que não tem uma participação tão ativa tem um envolvimento na escola, eles discutem educação. 

Todo mundo discute a questão da aprendizagem, o que a escola esta ensinando e suas qualidades. Nesse sentindo é um sucesso. É um sucesso porque a escola está na pauta da vida das pessoas.

E você teve uma boa aceitação da comunidade e dos alunos depois de implantado o projeto?

É uma coisa que vai e volta. A gente nunca sabe qual o jeito melhor. Então vive-se esse exercício. Tem dias que é muito bom o projeto e tem dias que as pessoas falam que não é tão bom assim. Essa é a grande questão, nada tem uma direção só. Temos que viver.

O projeto traz essa perspectiva do conflito e das diferenças o tempo todo. E de você aprender a lidar com tudo que não é uma coisa só. As coisas são boas e ruins. Como é a vida. Estamos construindo aqui dentro uma clareza muito grande de que o projeto é essa grande questão. É trazer a vida para dentro da escola, e a vida com todas as suas nuances. 

A grande questão é: O tempo todo trabalhar coletivamente, a desse aprender ser o foco principal da escola. Isso que a gente tem como meta todos os dias. E de fazer de fato aqui um espaço de cidadania.

Para que aconteça tudo isso, vocês trabalham também com parceiros, empresas privadas?

Sim a gente tem umas parcerias. E isso foi uma necessidade que o projeto foi trazendo porque é impossível que a prefeitura possa dar conta de todas as coisas. Então um jeito da gente cada vez mais ser autônomo e cidadão a gente vai atrás daquilo que a gente quer e acha importante.

Isso foi um exercício maravilhoso de toda escola, poder se abrir para sociedade, para gente ter diálogo. Então a gente tem parcerias com empresas. De certa forma uma rede de possibilidade que a gente tem que ir criando para o projeto existir. Como é a rede da vida. A gente não vive sozinha.

Entrevista: Renata Dias

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5 COMENTÁRIOS

1 ivanilde carvazoni - Lençois Paulista
isso que dá animo ,estimula mais ainda a gente a chegar lá tb....que é o que o nosso páis precisa de concreto...e chegaremos sim!
12/05/2009 19:24:35


2 Mayanne - Iracema
Oi, eu fui eleita presidente do Grêmio, eu queria saber algumas dicas para levar o projeto pra frente!
07/04/2009 11:35:23


3 hayanna fonseca - mirador ma
na minha opinião eu achok os professores devemm tomas um aatitude contra a seu salarioooo pq os professores sao mas importantes , quanto qualquer outra pessoa , pois sao eles que ensinao ao medico ao juiz, ao presidente se nao fosse você acha que iriam ter alguma coisa nada disso tudo que temos ou vamos ter e devido ao professor e nem por isso els largam sua profisaoo. esse é meu palpite
10/02/2008 12:36:35


4 NERIAN CRISTINY NOGUEIRA - SAO PAULO
Estamos lisonjeados de poder compartilhar com seu trabalho via on line, porém vivenciar um encontro seria maravilhoso, agende-nos visto Parada Pedagógica Dia 24 de setembro de 2007, se possível nosso trabalho de creche conveniada com a Prefeitura do Municipio de Sao Paulo estaria ainda mais enriquecido. A equipe ASBEM II esta antecipadamente agradecida.
13/09/2007 12:00:56


5 Leandro Matos de Oliveira Secretario-geral do Gremio estudantil leo kohler - Terra Boa - Parana
meu nome e leandro matos e sou secretario geral da minha escola envio essa menssagem porque quero dizer que em minha escola tem projetos otimos e se quer saber mais sobre eles pesquisem nos prosimos dias no saite da escola
05/06/2007 13:43:05


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