Cinema na Educação
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

The Corporation - 08/08/2006
A ambição que destrói o mundo

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Descobri por esse fabuloso documentário chamado “The Corporation” que somos todos responsáveis pelo que se chama “Tirania Intergeracional”. De acordo com esse conceito determinamos de forma despótica os rumos da vida nesse planeta ao gerenciarmos de forma irresponsável e inconseqüente os recursos que por aqui existem. Estamos legando para as próximas gerações de habitantes da Terra um mundo destruído, falido e, para finalizar, doente ou até mesmo morto...

Condenamos pessoas que ainda nem nasceram a viver num estado praticamente irreversível de penúria. Definimos a extinção de espécies vegetais e animais sem nem ao menos nos darmos conta de que estamos fazendo isso. Poluímos a água, o ar e o solo tornando estéreis cada um desses recursos de inestimável valor. Exploramos a mão-de-obra alheia, distante ou próxima de nós mesmos, sem nos dar conta dos grandiosos prejuízos que causamos a crianças, idosos, homens e mulheres que trabalham por salários miseráveis...

E como nos tornamos responsáveis por todas essas atrocidades se nem ao menos percebemos a extensão de nossos atos e a repercussão dos mesmos? Na esmagadora maioria dos casos, não nos damos conta dos acontecimentos ao nosso redor a não ser que de alguma forma isso nos afete diretamente. Estamos alienados, somos insensíveis e ficamos tão presos ao cotidiano de nossas vidas que perdemos a capacidade de enxergar além de nossos próprios umbigos.

Quando compramos uma camisa, um par de tênis ou um automóvel, atos aparentemente banais para a vida de milhares e milhares de pessoas mundo afora não percebemos que podemos estar financiando a continuidade da exploração da mão de obra de pessoas que nada mais têm a oferecer para garantir sua sobrevivência senão sua mão-de-obra barata. E é justamente em busca de oportunidades de maximizar seus lucros e ganhar cada vez mais e mais dinheiro que grandes corporações multinacionais se estabelecem em países em desenvolvimento.

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Ao sermos mobilizados pela mídia e pela propaganda para consumir desenfreadamente até mesmo produtos que não queremos, precisamos ou desejamos, estamos fazendo com que os recursos naturais se esgotem rapidamente sem que isso seja necessário. Estimulamos um desnecessário aumento da produção industrial e, como conseqüência disso, a emissão de poluentes na atmosfera cresce até atingir índices que tornam difícil ou até mesmo impossível a vida das pessoas.

Somos levados a agir dentro de um sistema em que a nossa vida é totalmente definida a partir de diretrizes que são criadas por empresas, respaldadas por governos. Perdemos a autonomia sem que isso fosse perceptível aos nossos olhos. É como se, de repente, tivéssemos realmente ingressado num mundo imaginário controlado por forças exteriores aos nossos próprios desígnios e comandos. Vivemos aquilo que vimos, admiramos e reverenciamos nas telas do cinema a partir de obras como “Matrix”, dos irmãos Wachowsky.

O pesadelo de obras literárias geniais como “Admirável Mundo Novo” (de Aldous Huxley) ou “1984” (de George Orwell) está se configurando na realidade de nossos dias a partir da ação praticamente invisível aos nossos olhos de gigantescas empresas de diferentes nacionalidades e setores de atuação.

Somos levados cada vez mais a agir de forma passiva, aceitando a tudo que nos é imposto ou pedido sem que nos manifestemos ou que percebamos as conseqüências das ações que ajudamos a desencadear. Temos que ser perfeitos cidadãos e profissionais caracterizados em nossas práticas pela excelência de nossos préstimos. Não podemos constituir vozes dissonantes, verdadeiramente críticas, que atentem contra a ordem e a anomalia que se esconde por trás do cotidiano e da normalidade de todos os dias.

Nos tornamos personagens de um filme que já foi produzido e que nos motivou a rir muito de seu personagem central, tão parecido com cada um de nós em sua candura, ingenuidade e ignorância. Somos todos irmãos de sangue de Truman Burbank (Jim Carrey) no fantástico “O Show de Truman”, do diretor Peter Weir. Até quando seremos assim? Será que conseguiremos enxergar pelas poucas frestas que nos permitem arejar nossos pensamentos e entender um pouquinho melhor o funcionamento do mundo em que vivemos?

“The Corporation”, dirigido por Jennifer Abbott e Mark Achbar, pretende ser justamente uma dessas falhas no sistema que nos permitem aspirar a liberdade e a salvação. Documentário construído a partir de um belíssimo trabalho de edição que alterna imagens jornalísticas, depoimentos, trechos de filmes antigos, animações, peças publicitárias e imagens estáticas, “The Corporation” nos coloca em contato com o inimaginável mundo em que nada somos além de “apertadores de botões” que tocam uma poderosa e escravizante máquina ávida por capital rumo a um amanhã que nem sabemos se existirá...

O Filme

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Corporações são como tubarões. Têm objetivos bem definidos, são frias e não param enquanto não atingirem suas metas. O problema é que sua fome é incessante e, portanto, promovem mortes e desgraças sem que tenhamos qualquer idéia quanto a se isso irá parar algum dia...

Não se iluda, a definição dada acima é uma metáfora criada por uma das pessoas que enriquecem cada minuto do documentário “The Corporation” ao socializarem experiências, ações, práticas e acontecimentos que foram por elas vivenciados ou estudados para que entendessem melhor o mundo atual, dominado pelas empresas de grande porte.

Chegou-se a conclusão de que não percebemos mais a interferência frequente e diária dessas empresas em nossas vidas. Não apenas a partir dos produtos e serviços que elas nos oferecem, mas também a partir das “externalidades” que também são por elas legadas ao grande público. Entenda-se que esse conceito refere-se ao custo de suas operações que nos é transferido através da destruição do meio-ambiente, das guerras promovidas para suster seus rendimentos ou ainda pela fome e miséria causada entre os pobres trabalhadores do mundo não desenvolvido.

Corporações são consideradas como pessoas perante a lei. Podem comprar, vender, alugar, acionar judicialmente, sofrer perdas, capitalizar ganhos, incorporar patrimônio e tantas outras ações que as pessoas físicas realizam durante suas existências nesse planeta. Diferentemente de mim ou de você, não têm corpo físico definido e, tampouco, alma...

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Sua principal razão de ser é a obtenção de lucro, mesmo que isso se oponha ao bem estar comum de toda a coletividade humana. Legalmente há subsídios que sustentam esse princípio e que, caso contestados judicialmente, há de legar ao proponente do recurso um enorme rombo em seu orçamento já que se trata de uma causa perdida...

Isso significa que temos que rever a forma como estamos vivendo em nossos países. Não podemos ser escravos silenciosos de um sistema opressor que nos afaga com bens materiais e que compra a nossa cooperação com mais e mais dinheiro sempre que nos mostramos descontentes e ameaçamos iniciar uma rebelião contra modo de produção dominante.

A certa altura do documentário um alto executivo de uma multinacional se diz, em alto e bom tom, impotente para mudar qualquer ação da empresa onde trabalha, mesmo considerando que muitas das práticas contrariam seus princípios e filosofia de vida. Outro depoimento, de um destacado consultor do mercado financeiro, atesta que graves crises, como o ataque terrorista ao World Trade Center, ou guerras, como aquelas que são travadas no Oriente Médio, são um ótimo negócio para os investidores que apostam suas fichas diariamente em ouro, petróleo, indústria bélica, água, alimentos,...

Quando chegamos a um ponto onde não há mais espaço para a sensibilidade ou para a solidariedade, estamos literalmente no fundo do poço e pouco conseguimos ver da luz que ilumina a entrada desse buraco onde fomos parar. “The Corporation” provoca a nossa reação de forma inteligente e hábil, mobiliza nossos sentidos e tenta nos tirar dessa grande letargia que nos encaminha para a morte coletiva do ser e do planeta.

Premiado em festivais, tem a participação de personalidades que estão dentro e fora das empresas e que realmente botam lenha na fogueira. Noam Chomsky, Michael Moore, Naomi klein, Peter Drucker, Milton Friedman e tantos outros enriquecem o debate e falam sobre situações que poucos conhecem ou desconfiam que tenham ou estejam acontecendo. É nitroglicerina pura. Pena que tenha distribuição tão restrita. No futuro talvez venha a ser até mesmo censurado como atentado terrorista...

Para Refletir

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1- Você já parou para pensar o quanto temos que destruir o planeta para obter um dólar de lucro na venda de um produto ou serviço? Já imaginou que a Terra é como uma mina na qual bilhões de pessoas se engalfinham diariamente em busca de seu quinhão de riquezas a esburacar suas já sofridas entranhas? Não, não sou um radical membro de uma dessas conhecidas organizações que querem proteger o meio-ambiente e a pergunta inicial dessa reflexão foi cunhada por um alto executivo de uma grande, rica e poderosa multinacional em depoimento ao documentário “The Corporation”. Nesse sentido ela poderia nortear nossa reflexão e nos mobilizar em busca do custo real por trás de iniciativas humanas de desenfreada perseguição ao lucro. Afinal, para ganhar um dólar quanto tivemos que gastar ou destruir?

2- O que é desenvolvimento sustentável? Que tal perseguir a definição desse conceito com seus estudantes a partir de depoimentos, livros, revistas, jornais ou Internet? Mais do que simplesmente um conceito estamos falando de uma prática que pode nos ajudar a salvar o mundo e também a humanidade...

3- As “maçãs podres” mencionadas no início do filme são grandes corporações norte-americanas envolvidas em escândalos que abalaram o mercado financeiro. Há também denúncias relativas a exploração do trabalho em países pouco desenvolvidos, venda de produtos que causam malefícios aos animais e aos humanos, destruição do meio ambiente,... Assistam o filme e enumerem os casos apresentados relacionando-os aos enormes prejuízos causados. Informem-se pela imprensa a respeito de histórias semelhantes que aconteceram no Brasil e em outras partes do mundo apenas nos últimos meses ou semanas...

4- O que podemos fazer? Que tal buscar a palavra de especialistas, estudiosos, membros dos governos e países, da ONU, das ONGs e também da população? As pessoas sabem o que está acontecendo? O que elas pensam a respeito de tantas e tantas denúncias? Precisamos de respostas, o nosso tempo pode estar acabando sem que tenhamos condições de fazer nada...

Ficha Técnica

The Corporation

País/Ano de produção: Canadá, 2004
Duração/Gênero: 144 min., Documentário
Direção de Jennifer Abbott e Mark Achbar
Roteiro de Joel Bakan e Harold Crooks
Elenco: Mikela J. Mikael (narração), Noam Chomsky,
Michael Moore, Jane Akre, Ray Anderson, Maude Barlow,
Chris Barrett, Peter Drucker, Samuel Epstein, Naomi Klein, Milton Friedman.

Links

- http://www.comciencia.br/200405/resenhas/resenha2.htm
- http://parceiros.cineclick.com.br/cinemateca/ficha_filme.php?id_cine=11898
- http://www.cineplayers.com/filme.php?id=2161

Avaliação deste Artigo: 4 estrelas
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19 COMENTÁRIOS

1 Antonio - Belém
Assisti o filme na faculdade, a Profa. de Poluição Ambiental passou. Penso que retrata a realidade egoistica do ser humano, que visa alimentar seus desejos pessoais, atropelando a dignidade de outrem. Este filme, deve servir para despertar as consciencias de quem lidera as corporações.
30/10/2012 08:38:47


2 Juliana - São Roque SP
O filme mostra uma realidade que nós não conhecemos, e que achamos que não acontece, e que grandes logotipos estão envolvidos nesse tipo de exploração e degradação. E que nós mesmo ajudamos a sustentar esse tipo de absurdo!
05/09/2012 11:06:26


3 flavio r da silva - ferraz
manero muito bom ,parabns
30/08/2010 12:55:21


4 Rodrigo28 - Rio de Janeiro
O documentário é excelente e multidisciplinar aos profissionais de educação. Capaz de exaltar nossos valores ou proporcionar frustrações àqueles que não possuem toas as informações históricas que grandes CORPORAÇÕES viveram para hoje serem foco dos holofótes. A respeito do filme, é LEGAL a aquisição do material comercializado, pois o DVD é Duplo o primeiro é o filme e o segundo as cenas sem cortes... muito mais interessante mas para entendimento de quem tenha assistido o 1º DVD Fácil aquisição pela internet, comprei o meu pelo site Submarino. Boas aulas, vamos contribuir por um mundo melhor.
25/06/2010 12:51:49


5 Rodrigo28 - Rio de Janeiro
O documentário é excelente e multidisciplinar aos profissionais de educação. Capaz de exaltar nossos valores ou proporcionar frustrações àqueles que não possuem toas as informações históricas que grandes CORPORAÇÕES viveram para hoje serem foco dos holofótes. A respeito do filme, é LEGAL a aquisição do material comercializado, pois o DVD é Duplo o primeiro é o filme e o segundo as cenas sem cortes... muito mais interessante mas para entendimento de quem tenha assistido o 1º DVD Fácil aquisição pela internet, comprei o meu pelo site Submarino. Boas aulas, vamos contribuir por um mundo melhor.
25/06/2010 12:51:24


6 Leonice Savi - Guarulhos
O documentário faz exatamente uma lavagem cerebral e com certeza muda nossos valores !!! Nos faz pensar nos dois lados da moeda ... Agrega valores ... mas também revolta!!! Afinal o que estou fazendo ???? Quando também participo de tudo isso !!! Há muito para se fazer ... mas jamas poderemos recuperar nosso planeta e nossas verdadeiras riquezas.
06/04/2010 00:17:02


7 Renato - São Paulo
O filme legendado está disponível na íntegra no Youtube divido em partes. Segue link de uma playlist que eu criei para ver o filme todo http://bit.ly/4YqGuP
02/01/2010 12:29:39


8 Elke Soraya Soares Rocha de Oliveira - Santana/AP
Muito propício, principalmente para aqueles que, como eu, são profissionais da Administração. É interessante perceber o quanto somos ignorantes e cegos à realidade corporativa que nos cerca. Mais interessante ainda, é a chance que temos de combater tais injustiças usando apenas de nosso conhecimento crítico e poder de atuação. Valeu pessoal.
20/03/2009 15:23:23


9 Wika - São Carlos
O documentário é excelente. Fala a respeito de ideologias, do consumismo, de como através do marketing agressivo, um dos inúmeros instrumentos do capitalismo, passamos a acreditar que temos necessidades de certos produtos que não são importantes para a nossa sobrevivência. No entanto, que o impacto de tais depoimentos e imagens, não oblitere a nossa consciência, criando a ideologia do preciso fazer alguma coisa agora. Ideologia é sempre ideologia, não se pode justificar, mesmo sendo para o bem.
16/02/2009 09:05:29


10 Elizabeth - Belo Horizonte MG
Excelente análise,quando assistimos um filme como este a impressão é que vivemos engessados, sabemos que estamos sendo coniventes. Entretanto não conseguimos mudar. Novas atitudes requerem mudanças de hábitos que nem todos estão dispostos a fazêlas. Acredito que o primeiro passo para mudanças é a conscientização e o segundo passo é a determinação em evitar ao máximo o consumismo desenfreado refletir se o que se quer é realmente necessário.
12/02/2009 17:54:08


11 Lilian Vinhas - São José dos Campos
Parabéns pelo artigo que não só aborda mas também reflete acerca das questões levantadas por este brilhante e necessário documentário, A Corporação. Assisti ao filme ontem e estou ávida por divulgar o que aprendi a mais e mais pessoas.
22/04/2008 15:07:33


12 Paulo Cesar Neves - VILA VELHA
Por incrivél que pareça naõ assiti ainda o filme, a pesar de possuílo, fiquei conhecendo ele aqui no site, e sai atrás do mesmo, e nada de encontrar, depois de algum tempo proucurando em locadoras e lojas, decido proucurar na internet, onde conseguir baixa-lo no emule, tanta a versaõ original, quanto a legendada. Sei que pirataria e criem e gera inumeros problemas, mas creio que em se tratando de filme esclarecedor como esse esse crime se torna digamos que aceitavél. Recoemndo tb um bom filme revelador, o nacional quanto vale por e por quilo.
31/03/2008 19:52:41


13 Tatiane - Recife-PE
Tenho que assistir este filme, mas não estou achando. Alguém sabe onde posso encontrá-lo?
25/03/2008 12:29:49


14 Manoel Messias dos Santos - São Paulo
Tenho que assistir este filme até quarta feira, mas não estou achando. Alguém sabe onde posso encontra-lo?
10/11/2007 18:11:33


15 Gardenia - Recife
Eu assisti este video na universidade, sugerido na disciplina de Metodologia do Ensino de Estudos Sociais. Achei o filme muito bom, e mt esclarecedor... Nos faz abrir os olhos... Desalienar!
26/10/2007 01:54:16


16 Glaucio Rodrigues de Moraes - São José dos Campos
Olá... Assisti o filme no colégio em que estudo... gostei muito do filme e também da análise feita neste site... Espero que a cada dia mais e mais pessoas assistam ao filme e possam ter um posicionamento como o apresentado nesta análise. Gostei muito, parabéns... Obs: O filme foi apresentado como proposta de trabalho interdisciplinar no Colégio Engenheiro Juarez Wanderley, em São José dos Campos.
26/09/2007 13:39:36


17 Ulysses Paiola - Recife (PE)
A análise foi muito bem elaborada, parabéns pelo trabalho.
17/09/2007 11:54:09


18 Paulo Solano - Curitiba-PR
Como conseguir o filme ? Preciso passar para meus 400 alunos do ensino médio ! Alguém pode me ajudar a ajudar ?
13/09/2007 00:29:19


19 joana - cuiabá
o filme
11/04/2007 12:10:46


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