A Semana - Opiniões
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Não há Fair Play no jogo político - 08/08/2006
E o maior perdedor pode ser você...

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Foto-de-um-jogo-de-xadrez
Reflita antes de realizar sua jogada,
o que está em jogo é o futuro do país...

Talvez você ainda nem se tenha dado conta, mas já estamos em plena campanha eleitoral. O indicador mais claro de que isso está acontecendo tem sido a televisão através de seus principais noticiários. Também os jornais e a Internet têm dado cobertura aos principais passos dos candidatos ao comando do executivo nacional e estadual.

Diferentemente de outros anos, em virtude de importantes mudanças na legislação eleitoral, não há mais a panfletagem exagerada, a colagem de painéis publicitários em viadutos ou postes ou ainda os muros pintados a tornar as nossas cidades poluídas visualmente.

Não são permitidos os chamados “showmícios”, aqueles comícios em que os candidatos subiam em palanques acompanhados de músicos, artistas da televisão, comediantes e qualquer pessoa que pudesse ajudá-los a aumentar o público presente na manifestação política que organizaram.

Tenta-se através dessas iniciativas brecar os abusos econômicos por parte dos candidatos mais ricos ou beneficiados por financiamentos de empresários. As novas regulamentações do setor têm sido, num primeiro momento, eficientes. Prestam a população um grande serviço ao evitar que os municípios brasileiros sofram com o lixo, a poluição visual dos “santinhos” e painéis e que, até mesmo, as bocas de lobo pelas quais corre a água da chuva sejam entupidas com o excesso de papel e plástico jogados fora.

Práticas como dar brindes (camisetas, chaveiros, lápis, canetas, bolas, réguas,...) ou auxiliar os eleitores (com transporte, remédios, dentaduras, jogos de camisa, material de construção ou cestas básicas) são terminantemente proibidas e podem levar a impugnação das candidaturas e até mesmo a prisão dos postulantes aos cargos em disputa.

Foto-de-uma-bola-de-basquete
O seu arremesso tem como objetivo a vitória de uma equipe, o que significa,

no caso de uma eleição, a melhoria da qualidade de vida de toda a população.

Por incrível que isso possa parecer, há pessoas que irão até mesmo lamentar as reformas. Conheço casos de indivíduos que se comprometiam em trocar o voto de todos os familiares e até de alguns amigos por auxílio na reforma de sua própria casa ou pelo tão sonhado novo “jogo de camisas” do time do bairro...

Certas pessoas chegavam até mesmo a utilizar sua ascendência sobre a comunidade ou mesmo na igreja que frequentam para barganhar benefícios juntamente a candidatos oferecendo como retorno os milhares de votos de seus “seguidores”.

Tudo isso não é muito diferente dos currais eleitorais, eleitores fantasmas ou das botas que os barões do café ofereciam aos trabalhadores que comandavam em troca do voto em favor de seu candidato de preferência. Estamos em pleno século XXI e os tais currais parecem não ter desaparecido como era de se esperar, daí a necessidade de se criarem tais expedientes legais que restrinjam ou eliminem práticas espúrias como as que citamos.

Os eleitores também devem se conscientizar da necessidade dessas mudanças no processo eleitoral. E não apenas cobrar das autoridades mais ética e respeito pelo patrimônio público e pelas responsabilidades sociais e políticas por eles assumidas. Temos que agir de forma mais correta, digna e cidadã. Quem troca o voto é tão desleal e prejudicial para o processo democrático quanto os políticos que compram esse sufrágio.

Não podemos nos deixar levar pela idéia corrente de que “todo mundo rouba” e que nós não podemos ser os ingênuos dessa história. O mais tolo de todos nós é aquele que pensa estar levando vantagem por embolsar dinheiro ou qualquer benefício material em troca de seu voto.

Para cada centavo dado pelo candidato aos seus potenciais eleitores muitos outros serão literalmente surrupiados da máquina pública após a eleição desse “representante do povo” eleito da forma “mais democrática possível”. Não podemos nos iludir com falsas promessas. A história recente de nosso país, com maracutaias e desvios de vultosas verbas públicas, como no caso dos mensalões ou da máfia dos sanguessugas, somente comprova como custa caro para cada cidadão desse país um voto inconsciente, trocado por favores que pouco ou nada mais são do que migalhas...

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A jogada é sua, por isso prepare-se da melhor forma possível para

conseguir os resultados desejados e a vitória almejada. Vote conscientemente.

Em política não existe fair play como no esporte. Há um enorme contingente de pessoas se candidatando ao legislativo estadual e federal que pretendem se apropriar de uma cadeira nas assembléias ou no senado para usufruir das benesses do cargo. Além dos salários, mordomias, verbas adicionais, carro oficial, passagens de avião, nomeação de funcionários (que acabam sendo usadas em vários casos em favor de familiares ou amigos) e jetons, muitos favores adicionais são dados aos políticos que conseguem se eleger a partir da ação de empresários inescrupulosos em busca de importantes figuras políticas que promovam seus negócios na esfera pública estadual ou federal.

Não podemos nos desiludir e achar que em política tudo é sujo ou que nenhum candidato merece nossa consideração e respeito. Há pessoas que têm projetos, idéias e que realmente parecem dispostas a atuar em prol do benefício público. Temos que separar o joio do trigo e encontrar pessoas que tenham um histórico de ações e práticas relevantes para suas comunidades.

Idoneidade pode parecer uma qualidade em falta no mercado, mas não podemos apagar nossa lanterna enquanto não acharmos alguém que realmente mereça o nosso precioso voto. Nesse sentido é essencial que não apenas nos informemos através dos santinhos e dos dados que nos são fornecidos pelos próprios candidatos (afinal de contas nenhum deles vai falar sobre seus defeitos e erros; pelo contrário, irão enaltecer apenas suas realizações e sucessos).

Se puder acesse a Internet, leia jornais, assista os noticiários da televisão, ouça as rádios que estão dando cobertura e, por mais que isso possa parecer tortura, dê uma olhada nos programas políticos que serão veiculados em rede nacional dentro de alguns dias. Analise a trajetória política anterior do candidato e, até mesmo, procure saber aspectos da vida pessoal e profissional extra-política dessas pessoas.

Foto-de-uma-bolinha-de-beisebol
Acertar o buraco depende apenas de suas próprias forças.

Faça o melhor que pode por um amanhã mais justo e melhor para todos.

Converse com familiares, amigos e colegas do trabalho. Peça informações sobre os candidatos e queira saber de outros que tenham propostas interessantes. Não vote apenas porque conhece a pessoa ou pelo fato dela ser do seu município ou região, tenha em mente que a ficha da pessoa tem que ser respeitável e que suas propostas sejam realizáveis e interessantes para você e para todas as pessoas de sua cidade, estado e país.

Não se iluda com o marketing político. Tente ir além das aparências e da superficialidade que a propaganda dos partidos e dos candidatos apresentam na televisão, nos folhetos ou no rádio. As plataformas de campanha dos candidatos têm que pensar alternativas que proporcionem melhorias em todas as áreas essenciais para a sociedade, da educação a habitação, dos transportes públicos a saúde, da comunicação a segurança, da ciência e tecnologia a economia,...

Também não considere sua participação encerrada após a digitação de seu voto consciente na urna eletrônica. Temos que participar mais ativamente da vida política de nossa nação. Cobre os parlamentares que elegeu quanto as propostas que fez durante a campanha através de cartas, e-mails, petições, abaixo-assinados ou até mesmo organize grupos de pressão que visitem as assembléias ou o senado federal em busca de respostas as cobranças feitas...

O fato dos políticos não agirem dentro do necessário fair play não significa que tenhamos que aderir ao jogo sujo que muitos deles realizam. Temos que utilizar as leis e as regras existentes em nosso país para fazer valer uma prática e vivência política mais honesta e civilizada, onde a corrupção possa ser combatida e os envolvidos em escândalos punidos. Quem merecer cartão vermelho tem que ser expulso de campo e afastado da política pelo tempo que for necessário...

O que não podemos deixar acontecer é que o jogo seja jogado apenas por eles e que prevaleçam as deslealdades e a virulência que tanto prejudicam a população e que não estão sendo combatidas como deveriam. Somos “animais políticos”, como disse um filósofo, mesmo quando não participamos ou nos declaramos apolíticos. Temos que entender que ao não nos manifestarmos estamos praticamente dando de bandeja o ouro ao bandido, a chave do galinheiro para a raposa...

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