Diário de Classe
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Aula Expositiva - 01/08/2006
Idéias para renovar essa prática tão tradicional

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“Idéias e palavras podem mudar o mundo”
(Professor John Keating, personagem de Robin Williams
no filme “Sociedade dos Poetas Mortos” do diretor Peter Weir)

Já tentaram enterrá-la. Sua existência tem sido criticada insistentemente por um grande número de especialistas. Acredita-se que a vida nas escolas em pleno século XXI pode e deve prescindir de seus préstimos. Sonham alguns com salas de aula totalmente informatizadas onde os professores serão apenas condutores e orientadores do processo de ensino-aprendizagem. Imagina-se até que a aula expositiva seja um empecilho a educação em virtude da realidade em que está inserido o aluno nesse mundo tão farto de novas tecnologias...

Duvide de tudo isso. Acredite que há e que sempre existirá espaço para uma bem preparada e planejada aula expositiva. A despeito dos entusiastas das tecnologias de informação e conhecimento (entre os quais me incluo, com as devidas ressalvas ao uso exagerado dessas novas ferramentas de trabalho em educação), o professor que tem pleno conhecimento dos conteúdos, que domina as técnicas de apresentação oral de suas idéias e que organiza suas aulas e projetos de trabalho com acuidade é e sempre será essencial para a educação.

O que não pode acontecer em relação a essa metodologia é a mesmice e nem tampouco sua utilização exclusiva como prática de trabalho em sala de aula. Durante muito tempo tenho pesquisado e perseguido alternativas de trabalho que tornem a educação muito mais atraente e interessante aos olhos de nossos estudantes. As mudanças pelas quais o mundo passou nas duas ou três últimas décadas mudaram completamente o perfil dos alunos com os quais trabalhamos.

O advento dos computadores, da Internet, dos comunicadores instantâneos, das câmeras digitais, impressoras, telefones celulares, televisores de plasma e LCD, aparelhos de DVD e tantas outras parafernálias eletrônicas que povoam os lares de milhões de pessoas no mundo todo transformaram radicalmente a relação que estabelecemos com a informação e com o conhecimento. Isso teve repercussões ainda maiores entre as pessoas que nasceram durante essa autêntica revolução tecnológica digital que estava acontecendo e que se acostumaram a conviver diariamente com todos esses equipamentos.

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Desafie seus alunos em suas aulas expositivas.

Para os jovens é muito mais fácil aprender a mexer com aparelhos como Ipods, celulares ou computadores. Isso não é somente afirmação de especialistas, qualquer um de nós pode constatar essa realidade no próprio ambiente doméstico quando tiramos da embalagem um desses equipamentos e os colocamos em uso.

Normalmente as crianças e adolescentes descobrem em poucos dias como se opera aquela máquina e quais são suas principais funções. Enquanto isso, as pessoas mais velhas da casa penam para utilizar essas tecnologias mesmo em suas funções mais básicas. É sempre necessário recorrer ao velho e bom manual de instruções em situações como essas para evitar embaraços...

Mesmo levando-se em conta todo o fascínio que essas ferramentas da tecnologia despertam em nossos estudantes não podemos deixar que o poder da palavra e do conhecimento acumulados a partir de anos de estudo e experiência sejam esquecidos ou desperdiçados. Tive uma excelente professora de história no Ensino Médio que foi quem realmente despertou o grande interesse que tenho pela área e que acabou influenciando decisivamente a minha escolha profissional.

Suas maiores qualidades eram a clareza nas exposições orais que fazia, a capacidade de síntese, a habilidade para transpor as informações para a lousa de forma a ilustrar e facilitar nossa compreensão dos conteúdos ensinados. Trabalhava com devoção e paixão pelo conhecimento, aprofundava-se constantemente, estudava e planejava suas aulas e demonstrava consideração pelos estudantes ao atender toda e qualquer dúvida que surgisse.

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Valorize e estimule a participação de seus alunos.

Contava a história dando a ela o sabor e o caldo necessários para que todos nós ficássemos atentos e participássemos de suas aulas. Tudo isso aconteceu no início dos anos 1980 e, como você já deve estar pensando, não tínhamos computadores, Internet e nem mesmo televisores e videocassetes em nossas salas de aula. Os recursos eram a lousa, os livros e cadernos, os estojos com seus lápis e canetas e principalmente a imaginação, o estudo e o planejamento dos professores.

Do mesmo modo como me encantei com as aulas de história de nossa grande professora Maria Januária Vilela Santos, tantos outros contemporâneos de estudos acabaram se afeiçoando a matemática, a geografia, ao inglês, ao português, a biologia,... E em todos os casos o grande artífice dessa obra ou ainda o querubim que atingiu nossos corações e nos fez apaixonados por essas áreas do conhecimento foram os professores.

Hoje em dia já surge a preocupação com o surgimento das novas gerações de professores que são totalmente dependentes da tecnologia e que, sem o auxílio de projetores, computadores, powerpoint ou Internet não são capazes de realizar seu trabalho com a qualidade que deles se espera. Não estou aqui advogando em favor de um retrocesso ou agindo de forma saudosista. Lembro apenas que apesar de toda a tecnologia que existe no mundo temos que ser capazes de nos localizar no mundo a partir da leitura das estrelas no céu...

Lembro sempre dos grandes navios de carga ou militares que singram os mares e que, a despeito de todos os modernos equipamentos de que dispõem devem sempre ter a bordo pessoas que saibam utilizar bússolas, quadrantes, astrolábios e que também saibam se localizar sem o auxílio dos GPS, contando apenas com as constelações e consagrando os mapas que direcionaram os célebres viajantes em suas rotas rumo ao desconhecido durante a modernidade...

Nesse sentido penso que temos que alternar aulas em que utilizamos a tecnologia com aulas em que somos os protagonistas, sem esquecer, é claro, que em ambos os casos é possível inserir os dois componentes. Para que isso aconteça temos que, primeiramente acompanhar com o máximo de proximidade os lançamentos e novidades em livros, textos, artigos e estudos relacionados a nossa área de estudos e trabalho.

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Atualize-se e planeje suas aulas prevendo a
participação e as dúvidas de seus alunos.

Atualização é essencial em qualquer área do conhecimento. Isso não deve, obviamente, se tornar uma obsessão. Até mesmo porque vivemos num mundo tão voraz e acelerado que nem mesmo se tivéssemos todo o tempo do mundo disponível para realizar essa pesquisa permanente seríamos capazes de acompanhar tudo aquilo que se produz em uma determinada área do conhecimento.

Para que sua aula expositiva seja pertinente é necessário organizar os esquemas mentais que irão orientar sua prática em sala de aula. Selecione textos. Faça uma leitura acurada e precisa dos mesmos. Destaque as idéias importantes. Trabalhe sempre com mais de uma obra de referência em cada aula. Amplie a discussão trazendo opiniões e conceitos que entrem em choque e que motivem polêmica e discussões.

Mesmo sendo a sala de aula um palco onde teoricamente você é o protagonista, aprenda a dividir as atenções chamando seus alunos para participar opiniões, dividir seus conhecimentos. Nunca despreze a experiência anterior de seus estudantes, eles podem e devem auxiliar constantemente o desenvolvimento de uma aula expositiva. A partir de suas histórias de vida há muitos e muitos ensinamentos que irão reforçar (e muito) os conhecimentos do próprio professor. Diga-se de passagem que a humildade intelectual é uma das maiores virtudes que um profissional da educação deve ter...

Apesar de ser uma aula expositiva não deixe de contar com o apoio de trechos de textos, mapas, imagens relacionadas ao tema trabalhado, trechos de filmes, artigos de jornais ou revistas, músicas, reproduções de obras de arte e/ou qualquer outro recurso que possa reforçar suas idéias.

Dramatize suas aulas. Se puder faça aulas de teatro para reforçar essa prática. Isso permite que você dê aos conteúdos a alma e o encanto que em muitos casos faltam e que fazem com que os estudantes acabem se desinteressando pelo seu trabalho.

Para finalizar, nunca deixe de demonstrar todo o amor que você tem por sua área do conhecimento e também pela educação. Quando as pessoas com as quais você está trabalhando percebem o quanto é importante para você esse trabalho, elas também acabam dando muito mais valor a sua profissão, a sua matéria e, consequentemente, ao curso que você está ministrando.

Em todas essas orientações e sugestões de trabalho com aula expositiva cabe ressaltar que o educador não deve jamais deixar de ser quem realmente é. Tenha personalidade, nunca abdique de sua essência e, acima de tudo, tenha orgulho de ser quem é e de fazer o que faz. Altivez é palavra de ordem em qualquer profissão, principalmente em educação...

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14 COMENTÁRIOS

1 Elaine P. Rocha - Barbados, Eastern Caribbean
Caro Joao Luis, Tambem fui aluna da professora Januaria, entre 1983 e 1985 na UNITAU. Muito por influencia dela, fui adiante depois da graduacao. Fiz especializacao em Educacao Popular, depois Mestrado em Historia pela PUCSP, Doutorado em Hit. Social pela USP e um outro mestrado na University of Pretoria South Africa. Hoje leciono em nivel superior ha 21 anos! Ainda me lembro da paixao da professora. Acho que um pouco dela segue comigo, assim como imagino qe um pouco de mim viaje por ai com meus alunos. Excelente artigo!
08/01/2012 21:36:05


2 Maiko - Taubaté
A professora Maria Januária apesar dos seus quase 70 anos, ainda é a melhor professora do curso de História da Universidade de Taubaté,na opinião da maioria dos alunos. Foi escolhida como paraninfa da turma de 2004, na qual eu me inclui e, chorando, fez o discurso mais belo que já ouvi. Não sou contra o uso de tecnologia, ao contrário, procuro sempre fazer o seu bom uso na sala de aula. E tenho obtido bons resultados. Mas...se eu fosse como a Drª Junuária, certamente não precisaria de nada disso...rs Quem sabe um dia...
29/11/2009 01:32:21


3 Marco Aurelio Oliveira Gois - Santos SP
Caro João Luis Sou professor mestre em História e também tive aulas com a grande professora Maria Januaria Vilela Santos. Acredito que não é necessário declarar mais nada.
18/09/2009 08:46:39


4 marina adriana de santis coneglian - lençois paulista
sempre achei que aulas na pratica ,expositiva fazem os alunos participarem com muito mais interesse sou prof. da educaçaõ infantil e as crianças tem o maoir interesse .
18/05/2009 14:13:50


5 josue - são gonçalo
gosteiideias e palavras podem mudar o mundo sim!!!vamos pensar e se houvese um blecaute,ou um apagão,devemos sim saber como e viver sem a tecnologia!!e necessaria ,mas não imprescidivel par a educação!!!
15/03/2009 14:42:41


6 LEILA - CAXIAS DO SUL RS
ADOREI A MATÉRIA! EU SOU PROFESSORA DE 3ª E 4ª SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL, ESTE ANO COMECEI A USAR MEU NOTBOOK EM SALA DE AULA PARA COMPLEMENTAR OS CONTEÚDOS . ESTOU ENCANTADA COM O ENTERESSE DE MEUS ALUNOS E O RESULTADO DA APRENDIZAGEM TAMBÉM. MINHA ESCOLA NÃO TEM INTERNET É UMA ESCOLA MUITO BOBRE EM MATERIAL ESCOLAR, MAS EU BAIXO PELO O YOTUB DOCUMENTÁRIOS E COMPLEMENTO MINHAS AULAS. A TELA DO NOTBOOK É PEQUENA, MAS ELES SE AGRUPAM SENTADOS NO CHÃO E ESCUTAM COM MUITA ATENÇÃO. MEU SONHO AGORA É COMPRAR UM DATASHOU PARA ENCREMENTAR MELHOR AS MINHAS AULAS, MAS SABE NÓS PROFESSORES ESTADUAIS AQUI NO RIO GRANDE DO SUL GANHAMOS MUITO POUCO, MAS DEPOIS QUE EU TERMINAR DE PAGAR MEU COMPUTADOR QUE FIZ EM 24X, VOU COMPRAR O DATASHOU, SE DEUS QUISER. PROFESSORA LEILA
19/10/2008 22:08:21


7 Karine -
Muito bom! Estou no 3º ano de curso normal, e tenho que apresentar um seminário com o tema "Aula Expoisitiva". Nele, tenho que aplicar uma aula expoisitiva de ens. fund. e depois explicar aos meus colegas o que é uma aula expositiva. Esse artigo me ajudou muito.. Estou pensando até em lê-lo em sala de aula... BeijOs...
07/04/2008 19:00:41


8 valquiria - piracicaba
Éssa prática pedagógica é ótima, tudo que se torna visual é mais fácil de assimilar e a participação dos alunos acontecem espontâneamente e as aulas se tornam atrativas. Essa matéria é rica e produtiva, parabéns aos educadores que fazem dessas aulas momentos de aprender se tornarem prezerosos!!!!!!!
13/03/2008 21:38:01


9 celia maria de moraes rodrigues - sao paulo
a ideia e totalmente inovadora,esta na hora de acabar com o tradicionalismo.adorei a materia vou coloca-la em pratica.
24/02/2008 10:57:43


10 Edilson Melo - Santarém
É fato notório a necessidade de se renovar o modo de ministrar aula hoje em dia. No entanto, o profissional sofre com a falta de tempo e recursos audiovisuais, principalmente dentro do contexto da escola pública. Também sou adepto dos novos meios utlizados para educar e aprender (como a internet) e acredito que tais meios irão, não substituir, mas ajudar o professor a se tornar mais dinâmico. Em resumo, parece haver uma necessidade de se mudar a didática nas instituições formadoras para que o profissional saia, se não conhecedor pleno desses novos modelos, pelo menos bem adaptado a eles.
22/01/2008 13:29:30


11 JOSE DAMASIO - Guarabira
Excelente Artigo,no entanto,na rotina do educador é difícil o tempo necessário para um bom planejamento de uma aula expositiva.A dificuldade está presente em todos os níveis da educação brasileira,porque muitas vezes o profissional necessita trabalhar os três períodos para sobreviver.
27/08/2007 21:13:20


12 Idalina Soares - Gurupi- TO
Este artigo retrata a nossa realidade no que diz respeito disciplina e aprendizagem. É preciso amor com autoridade, segurança no que faz, proporcionar aulas interessantes e diferentes para atrair a atenção do nosso aluno de forma a buscar eficácia na aprendizagem.
25/08/2007 22:39:29


13 edna bonette - palestina
Simplismente maravilhosa essa matéria.Eu procurava por algo assim , para ter argumentos na minha pesquisa.PARABENS!!!!!!!!!!!!!!!!!
24/06/2007 11:47:17


14 Wellinghton Moreno - Ilhéus - Ba
Achei de grande valia esta reportagem,pois eu AINDA acredito q através da educação podemos transformar realidades.E para isto faz-se necessário q/ o profº reveja suas práticas, afinal é o profº quem vai "animar" ou "desanimar" toda a sua turma p/ o saber Qdº comecei c/ esta prática:dramatizar minhas aulas, chamar a turma à participar realmente das mesmas, muitos achavam q/ não era aula.Porém senti q/ através dessa metodologia, se é q/ posso assim dizer,meus alunos aprendiam muito mais e jamais esqueciam os conteúdos, pois eu os tornava mais prazerosos e por isso mesmo: SIGNIFICATIVOS.Me sinto feliz, pois vejo q/ não sou louco, muito menos "enrolado".Parabéns!! Adorei a matéria!
11/03/2007 16:02:54


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