Por que o mundo precisa do Super-Homem? - 31/07/2006
Sonhando com um mundo mais justo
Como vocês devem estar imaginando tive a oportunidade de assistir ao novo filme do Super-Homem, lançado nos cinemas brasileiros justamente no mês das férias escolares. Aproveitando o breve recesso que tive, levei minha família ao cinema em busca de lazer, relaxamento e acima de tudo bom divertimento. Não tinha a intenção inicial de conseguir material para compor um texto. Estava verdadeiramente descompromissado...
A sessão, como é de se esperar em período de férias, estava com um público muito bom, formado em sua maior parte por famílias ou adolescentes e jovens. Todos munidos de seus saquinhos de pipoca, refrigerantes e demais petiscos próprios das salas de cinema de hoje em dia.
Depois de alguns minutos em que nos foram apresentados os trailers com alguns dos próximos lançamentos, iniciou-se o filme. O nosso herói de plantão, Super-Homem estava retornando de uma longa jornada ao seu planeta de origem, tendo ficado ausente da Terra por 4 ou 5 anos. Durante esse período muita coisa aconteceu e, principalmente, a sensação de insegurança aumentou.
Além das guerras em pontos isolados do planeta e que repercutem de diferentes formas em nossos jornais, também tivemos o atentado as torres gêmeas do World Trade Center e ao Pentágono, atingindo os pontos nevrálgicos da economia e da política norte-americana, ou sejam, Nova Iorque e Washington.
Isso mudou completamente a forma como vivemos mesmo que não tenhamos nos dado conta de todas as repercussões, a não ser da mais imediata, ou melhor, dizendo, da sensação de que não existe mais nenhum lugar no mundo em que estamos realmente seguros. Além disso, sabemos que a desconfiança e o desconforto em relação a pessoas de diferentes origens étnicas e culturais exacerbaram-se.
Somos todos seres humanos. Por que precisamos brigar?
Precisamos nos entender para construir um mundo
mais
justo,
fraterno e digno para a humanidade como um todo...
Turbantes, traços fisionômicos latinos, cor de pele negra ou amarela, roupas exóticas, línguas desconhecidas e tantas outras características imediatamente tornaram-se sinais que nos alertam para a presença do perigo. Mesmo que essa paranóia seja evidentemente fruto da obsessão da mídia em nos apresentar aquilo que é diferente do nosso modo de vida como sendo nocivo ou pernicioso, acabamos sofrendo forte influência e nos deixando levar por essas considerações.
Até mesmo o Super-Homem, em sua luta pelo bem e pela paz na Terra parece ter sido deslocado para essa nova realidade. Não que em seu novo filme o combate travado por ele seja feito em relação a terroristas provenientes de países árabes, traficantes latino-americanos, contrabandistas orientais ou rebeldes socialistas africanos.
No último filme do personagem o inimigo continua sendo seu tradicionalíssimo oponente, Lex Luthor (numa personificação memorável de Kevin Spacey). O que nos lembra o clima pós-atentados de 11 de setembro de 2001 é a sensação de que estamos vulneráveis e que podemos ser destruídos a qualquer momento, sem qualquer aviso prévio.
A morte ronda a todos nós, sem distinção. E não é difícil entender porque estamos tão assustados. Basta ler os noticiários e perceber que não há mais alvos prioritários como bases militares ou aeroportos da força aérea, embarcações da marinha ou arsenais de guerra. As maiores baixas são de crianças, jovens, idosos, mulheres ou homens civis.
Até quando o espectro da morte e da guerra irá rondar o planeta?
São pessoas que tentam levar suas vidas normalmente, trabalhando todos os dias para alimentar suas famílias, atendendo em hospitais, dando aulas, vendendo no comércio, participando de linhas de produção nas indústrias ou labutando no campo e que agora correm o sério risco de perder suas vidas em virtude do lançamento aleatório de bombas contra sua pátria.
Não se coloca em discussão nesse espaço quem tem razão nessa pendenga, se israelenses ou libaneses. O que não se pode admitir é que pessoas inocentes que apenas querem viver suas vidas sejam ameaçadas em sua integridade física, emocional e mesmo material em nome de uma guerra entre países por conta de suas diferenças religiosas, políticas, econômicas,...
Mas não são apenas os casos extremos como as guerras que nos movem em direção a idéia de que o mundo precisa de um Super-Homem (senão de vários...). A violência urbana, o tráfico de drogas, a intolerância, a pobreza, as epidemias e tantas outras mazelas que atormentam a vida da humanidade em praticamente todos os países, mesmo nos mais ricos (mesmo que numa escala infinitamente inferior), são realidades que gostaríamos que fossem combatidas com maior seriedade e responsabilidade pelas autoridades constituídas de cada nação e também pelo congraçamento de todos os países em órgãos como a ONU (Organização das Nações Unidas).
O sonho do Super-Homem, daquele que não apenas acumula poderes que o tornam capaz de resistir as balas atiradas em seu corpo, voar alto e rápido como nossos melhores jatos, ter força suficiente para levantar um automóvel ou segurar um avião, mas que também reúne em si atributos que o tornam justo, honesto, decente, digno e ético em suas palavras, práticas e realizações é que dá a esse artigo o título que o novo filme traz num texto de Lois Lane.
Precisamos de caráter, dignidade, força, justiça e honestidade.
Para que o mundo seja melhor nós mesmos temos que
ser super-homens e super-mulheres.
Na realidade, se tivéssemos equidade, respeito, decência na vida pública, cidadania e a compreensão de que precisamos agir coletivamente para tornar o mundo melhor para todos nem mesmo precisaríamos dos super-poderes que o herói das telas do cinema apresenta para seus fãs e espectadores.
Num mundo ideal, a força seria utilizada somente para o bem e a inteligência seria a maior de todas as forças da humanidade. A comunicação seria um elo inquebrantável a reunir as pessoas e permitir que as mesmas chegassem a consensos e não agissem egoisticamente. Não lutaríamos uns contra os outros por bens materiais, seríamos capazes de dividir, de socializar e de alimentar a todos com o que nos dá a mãe Terra.
O medo e a insegurança seriam apenas ecos de um passado distante, rememorado nos livros e nas aulas de história como lições de uma época em que éramos realmente infelizes. Nossos esforços seriam devotados a cura de doentes, a educação das crianças, a produção de alimentos, a proteção do meio-ambiente, a composição de novas obras de arte,...
O mundo não precisa apenas de um super-herói dotado de poderes sobre-humanos. Precisamos de pessoas que encarnem o bem, a ética, a luta pela justiça e que estejam dispostas a se articular coletivamente pela paz e pela dignidade sem que a mesquinhez do individualismo nos corrompa e nos faça querer sempre mais e em detrimento daquele que nos é próximo.
Esses super-heróis não precisam ser tão rápidos quanto a velocidade da luz ou tão fortes quanto cem seres humanos, nem tampouco é necessário que voem ou que saltem sobre edifícios. Na realidade seria de fundamental importância que fossem de carne e osso e que demonstrassem sensibilidade em relação aos outros seres humanos...
Precisamos de bondade. Vivemos num mundo onde o mal parece sempre mais próximo do triunfo do que o bem. Não podemos continuar admirando o vilão muito mais do que o mocinho. Temos que ser os homens que irão fazer a história desse planeta caracterizar-se pela soberania dos povos, pela liberdade das pessoas, pela civilidade e solidariedade entre os seres humanos....
1 sergio - salvador
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04/07/2012 01:54:39
2 bruna - são paulo
eu gostei muito
19/04/2010 09:11:42
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