Lendas da Vida -
Quando encontramos os anjos
Robert Redford fez fama em Hollywood como ator. Celebrizou-se com filmes que se tornaram verdadeiros clássicos ou grandes sucessos como "Butch Cassidy", "Todos os homens do presidente", "Descalços no Parque" e, mais recentemente, "Proposta Indecente". Nos últimos anos ficou ainda mais conhecido por ter organizado o Sundance Festival, competição que abriga filmes independentes das mais variadas origens (inclusive dos próprios norte-americanos), e que tem tido a honra de revelar grandes talentos entre cineastas, roteiristas, atores, atrizes e técnicos da indústria cinematográfica.
Além disso, Redford assina vários filmes como produtor e diretor, e não são filmes que tenham passado desapercebidos do grande público. Foram sucessos de crítica e/ou de público, filmes como "Nada é para sempre", "Rebelião em Milagro" (que contou com a atriz brasileira Sônia Braga), "Quiz Show - A verdade nos bastidores", "O Encantador de Cavalos" e o premiado "Gente como a Gente" (vencedor do Oscar em 1980 como melhor filme, direção, ator coadjuvante e roteiro adaptado).
Sua mais recente produção foi o filme "Lendas da Vida", estrelado pelos astros Will Smith e Matt Damon. Trata-se de um filme que consegue misturar vários gêneros, o que nos permite rir, se emocionar e vibrar ao longo de seus 125 minutos. Acima de tudo, Redford consegue apresentar uma história sensível, de um atleta de alto nível (jogador de golfe, interpretado por Matt Damon) que, no auge de sua carreira vê a mesma interrompida pela convocação para a 1ª Guerra Mundial. Rannulph Junnuh (Damon) deixa para trás sua jovem esposa e todas as suas boas lembranças.
Quando retorna traz consigo as memórias de uma guerra que dilacerou seus sentimentos e auto-confiança. Demorou um longo período para que pudesse voltar para sua terra natal e ao pisar nela, desprezou sua esposa e escondeu-se em sua casa. Era uma sombra pálida do homem vitorioso e seguro de sí que fora, antes da guerra. O momento também é desolador, vivia-se a Crise de 1929, os Estados Unidos haviam sido arrasados pela quebra da Bolsa de Nova Iorque.
O que permite a ele a redenção e uma eventual volta por cima é a organização de um torneio de golfe em Savannah reunindo os 2 maiores jogadores do mundo. Para aumentar a empolgação com a disputa era necessário inscrever um jogador local que pudesse fazer frente aos dois campeões. Quem poderia ser melhor do Junnuh? Chamado para a competição, a princípio ele reluta em aceitar o convite (apesar do prêmio de 10 mil dólares). Acaba sendo convencido pela chegada de um estranho misterioso e bom de papo, chamado Bagger Vance (vivido por Will Smith).
Um pouco através de provocações, outro tanto por conversas que despertam Junnuh para um retorno das inquietações que o perturbam desde o final da guerra, Vance consegue fazer com que o ex-campeão recupere o seu "swing", a sua capacidade de jogar e de viver única, dada a ele pelo criador. De repente toda a extensão do gramado que compõe o clube onde o torneio ocorre passa a ser visualizada e sentida por Junnuh, ele parece se reintegrar ao ambiente e superar as mazelas e dores de outros campos, os de guerra.
O resultado final? É o que menos interessa, afinal, ganhar um jogo não é o que há de mais importante na vida. A competição é só um momento que não dura para sempre. Imprescindíveis são as conexões que conseguimos fazer com as pessoas, com o lugar no qual vivemos, com as forças da natureza e com nós mesmos. Quantas não foram as vezes que nos preocupamos mais com notas e rendimentos e deixamos de ver as pessoas que estão ao nosso lado, na carteira da frente (ou do fundo), necessitando de algum apoio, de uma palavra de conforto, de orientação?
Num texto que li recentemente fiquei sabendo que Platão denominava o diálogo como sendo "Pharmakon", palavra que teria o sentido de remédio. Pois bem, o personagem de Will Smith utiliza-se do expediente da palavra e do diálogo como verdadeiros medicamentos para a recuperação de Junnuh. Quantas vezes não precisamos fazer a mesma coisa e não a fazemos? Meu filho (de 6 anos), vendo o filme junto comigo, me perguntou quem era aquele personagem (Bagger Vance)? A única resposta que me ocorreu foi lhe dizer que se tratava de um anjo. Em educação muitas vezes temos que ser anjos, pais, amigos, psicólogos e... professores!
Ficha Técnica
Lendas da Vida
(The
Legend of Bagger Vance)
País/Ano de produção:
EUA, 2000
Duração/Gênero: 125 min.,
comédia/drama/romance
Disponível:- VHS e DVD
Direção de Robert Redford
Roteiro de Richard LaGravenese e Jeremy Leven
Elenco: Matt Damon, Will Smith, Charlize
Theron, Andrea Powell, Jack Lemmon.
Links
- http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=1462
- http://www.adorocinema.com/filmes/legend-of-bagger-vance/legend-of-bagger-vance.htm
1 Marcio H. Caldeira - Passo Fundo
Caro João:
Apesar de não ser um profundo conhecedor da vida e sua relação com o mundo e com as situações que vivemos, esse filme pra mim é a busca de um encontro de sí mesmo.
Em uma passagem que me falta descrever com maior fidelidade, Bagger fala a Junnuh: "o lugar que está o que buscas, é o lugar onde, o que voce foi, o que é e o que será, se encontram" como saber se isso é verdade ou uma bela poesia?
Depois dessas palavras, minha percepção das coisas e posso dizer que minha vida, não foram mais as mesmas...
Particularmente, esse filme me mostrou algumas coisas que talvez só entenda em sua plenitude, daqui a uns 40 anos...
Dos que procuram seu lugar no "campo", aos que não permitem que a tacada perfeita os encontre, acredito que milhoes de pessoas se enquadrariam nisso, por razões que talvez ainda nem perceberem que é necessário ler ou perceber coisas que não estão escritas...
Um grande abraço e parabéns pelo artigo.
Votos de uma vida longa e muito sucesso.
Atenciosamente
Marcio
30/04/2008 14:10:53
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