A Semana - Opiniões
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

O Brasil e a síndrome de vira-latas - 10/07/2006
Precisamos de mais atitude para sermos respeitados

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A educação é a maior oportunidade que temos em nossas
vidas de melhorar o mundo ao nosso redor.

Essa época do ano nas escolas é marcada por uma realidade díspar, enquanto alguns estudantes aproveitam os dias de férias, outros estão nas escolas, em aulas de recuperação. E o que é a recuperação senão o momento em que o estudante tenta revalidar o semestre em alguns poucos dias? Tempo curto durante o qual as principais matérias trabalhadas em algumas disciplinas têm que ser aprendidas para que o desempenho escolar desses estudantes atinja os níveis mínimos exigidos para sua aprovação.

Para quem está de férias é tempo de cinema, ir ao clube, viajar para a praia, curtir o festival de inverno de Campos do Jordão, sair com os amigos, namorar,...

É o momento em que todo o esforço feito para manter em dia as anotações, as tarefas e a preparação para as provas é recompensado com o lazer, o descanso e a tranqüilidade devida aos guerreiros que mostraram atitude, força de vontade e maturidade suficiente para trabalhar pesado.

As férias me fazem lembrar da fábula da cigarra e da formiga. Enquanto a cigarra descansava e se divertia o tempo todo a cantarolar suas músicas, a formiga arduamente carregava folhas para o seu formigueiro a se preparar para o duro e rigoroso inverno que teria pela frente.

Quando finalmente o frio chegou, a cigarra não tinha o que comer e acabou morrendo. Por sua vez, a sábia formiguinha, abrigada contra o frio, degustava as folhinhas que havia armazenado com o seu trabalho.

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O trabalho sempre nos lega recompensas e reconhecimento. Não podemos
viver de olho apenas no presente. Temos que investir no futuro.

E o mais engraçado no caso dos alunos de recuperação é que, mesmo considerando-se a oportunidade que estão tendo com as aulas adicionais no período de férias, abundam as reclamações. Resmungam que não queriam estar ali, acham injusto que os outros estejam curtindo o recesso enquanto eles ainda trabalham, gostariam de estar na praia, no cinema ou com os amigos...

Faltou-lhes atitude. Não se dignaram a aplicar-se nos estudos quando deveriam. Pouco se esforçaram para atingir os resultados que eram esperados. Não entenderam que a educação é a melhor das oportunidades que temos em nossas vidas para nos aperfeiçoar, para dar vôos mais altos, para atingir nossos sonhos...

Acredito que as escolas deveriam suprimir o período de recuperação. Essas aulas deveriam ser abolidas. Nada de chance adicional. Todas as oportunidades já são dadas ao longo do período letivo. Os professores organizam aulas, aplicam provas, pedem tarefas, incentivam a leitura, utilizam mídias diferenciadas, planejam trabalhos em grupos,... Isso já teria que ser suficiente...

Estaríamos premiando os indolentes e preguiçosos? Aqueles a quem falta a tão decantada atitude? Aumentaríamos seu período de férias ao extinguir as aulas de recuperação?

Não, nada disso. Pelo contrário, estaríamos dizendo a eles que o período regular de aulas teria que ser suficiente para que seu trabalho fosse bem executado. Estaríamos abreviando as chances dadas aos alunos preguiçosos e exigindo deles que se empenhassem mais nas aulas previstas para o semestre.

Seria uma lição importantíssima, afinal de contas, no mundo do trabalho normalmente não temos nenhum tempo extra para realizar nossos projetos e planos...

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Aos professores cabe ensinar aos estudantes atitudes de respeito,
dignidade, responsabilidade social, cidadania e ética aos estudantes.

A escola não pode se ater à idéia de que em suas salas ensinam-se apenas conceitos matemáticos, fatos históricos, normas gramaticais, acidentes geográficos ou os órgãos do corpo humano. Nosso papel é muito mais complexo enquanto educadores. Cabe a nós formar cidadãos éticos, profissionais responsáveis, pais de família dedicados, pessoas honestas e dignas.

A recente derrota brasileira na Copa do Mundo da Alemanha é exemplo marcante de como a falta de atitude (entre outros fatores) é determinante para o insucesso das pessoas.

Tínhamos em nossas fileiras alguns dos atletas mais importantes da história recente do futebol. Homens que têm contratos milionários com as equipes mais ricas e vitoriosas do futebol europeu (somente três jogadores do Brasil não estavam atuando na Europa quando a Copa foi realizada). Todos afirmavam a imprensa e aos fãs que a disputa desse torneio estava entre suas maiores prioridades...

E o que vimos em campo? Para a decepção geral dos brasileiros faltou humildade, garra, aplicação, vontade de vencer, talento e união entre os atletas. Carecemos de treinamentos, aplicação tática, jogadas ensaiadas, iniciativa individual, comando e até mesmo de espírito de equipe.

Apática a nossa seleção entrou para a história como a mais decepcionante seleção brasileira de todas as copas. Faltou aos atletas à atitude que se espera dos grandes jogadores, independentemente da vitória ou da derrota. Se perdêssemos para a França jogando um bom futebol, com fibra, qualidade técnica e vontade individual e coletiva, tenho certeza que os jogadores seriam recebidos pelos torcedores com flores... Como faltou tudo isso, sobraram-lhes os espinhos...

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Ganhar o troféu não é o passo mais importante, o primordial é que
sempre joguemos com vibração, garra, determinação e espírito de
Equipe. Vencedores ou não o que não pode nos faltar é atitude...

Fala-se hoje em nosso país que padecemos da síndrome dos vira-latas, condenados ao ostracismo, relegados à periferia da história, eternos coadjuvantes ou figurantes das grandes produções. Somente americanos, alemães, italianos, japoneses, ingleses, espanhóis ou franceses teriam a grandeza que se espera dos povos que lideram a humanidade.

Não concordo com isso. Tenho orgulho de ser brasileiro apesar dos pesares. Sinto-me ofendido com as falcatruas dos políticos desonestos, fiquei decepcionado com a Seleção Brasileira na Copa da Alemanha, tenho medo da insegurança que ronda nossas casas em virtude dessa onda de violência, considero nossa educação abaixo daquilo que seria necessário em termos de qualidade, penso que os nossos hospitais precisam melhorar muito,...

Apesar disso, acredito que o brasileiro é um povo trabalhador, ciente de suas dificuldades e aplicado naquilo que faz. Temos muita criatividade. Nossa alma é a de grandes artistas. Podemos tanto que somos grandes na agricultura e estamos crescendo na indústria. Apesar das dificuldades há melhoras sensíveis na educação e na saúde. Percebemos avanços significativos no esporte amador. Continuamos sendo respeitados até no futebol,...

Temos ainda que melhorar muito. Não é possível que tenhamos crianças fora da escola em pleno século XXI. Cabe a nós solucionar questões prementes como a segurança pública a partir de debates sérios com os governantes. Não podemos admitir que a água não seja tratada e os esgotos corram a céu aberto. Temos que cobrar hospitais melhores para todos. Devemos fiscalizar os políticos e questionar nossos jogadores que não demonstram amor pelas cores de nossa bandeira...

Parece pueril demais? Seria ingenuidade da minha parte sonhar com um país melhor? Exigir atitude séria, honesta, digna e dedicação por parte de nosso povo é pedir demais?

Então que me considerem singelo e sem malícia. Prefiro continuar acreditando e investindo minhas forças na direção desse sonho de prosperidade, ética e cidadania para o Brasil do que me curvar perante aqueles que lutam apenas pelos seus próprios interesses e que pouco ou nada fazem pelo país.

Se a outras pessoas falta atitude, a mim não admito que falte em momento algum. Não preciso ser o número um em tudo o que faço, porém acredito que sempre devo fazer o melhor que posso e não desistir jamais. Não sou bom jogador de futebol, mas tenho certeza que não seria reprovado ou ficaria de recuperação por falta de esforço e atitude nas disputas em que estivesse envolvido...

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