A Semana - Opiniões
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

A Auto-Estima do Professor - 07/02/2006
A escola e os educadores precisam de mais respeito

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Sabe-se que a atenção dada pelo professor ao aluno é fundamental para que o rendimento escolar e a própria auto-estima do estudante sejam melhoradas. Há muitas histórias de crianças, adolescentes ou jovens que se sentiam incompreendidos pelos pais ou até mesmo pela própria sociedade que tiveram na figura do professor um alento para suas vidas e futuros.

Li recentemente num livro que a simples preocupação demonstrada por parte dos patrões em relação aos funcionários de suas empresas pode redundar em ganhos de produtividade, melhorar os relacionamentos dentro da firma e promover um ganho real no quesito lucratividade.

É notório que quando há diálogo, compreensão e disposição para a cooperação entre as pessoas que vivem ou trabalham num mesmo local se estabelece uma clara tendência a uma melhor qualidade de vida. São também vários os casos registrados de empresas que para agradar seus funcionários lhes concedem certas regalias, como horários mais flexíveis, permissão para o uso de roupas mais confortáveis, escolas para os filhos próximas ao local de trabalho, hora de almoço mais longa,...

Todos esses exemplos anteriormente mencionados servem para registrar o quanto é importante, senão imprescindível, para os seres humanos a atenção e o reconhecimento. Professores não são diferentes, pelo contrário, atualmente se mostram muito carentes e se sentem um tanto quanto abandonados. São portadores de uma missão fundamental para a estruturação da sociedade e sabem disso, no entanto, não percebem por parte das comunidades que servem o devido respeito pelo seu trabalho.

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Professores motivados renovam suas práticas, investem tempo em
novos estudos, promovem uma melhor socialização entre os estudantes
e tornam a escola muito mais interessante e rica para os estudantes.

É claro que não estou falando que a resposta social ao trabalho educacional tem sido agressiva ou mesmo negativa. Tanto os pais de alunos quanto os demais membros da sociedade reconhecem a necessidade da educação e entendem que o futuro de seus filhos e também do país passa pelas salas de aulas de nossas escolas.

Há, entretanto, um diferencial no que se refere ao trabalho executado pelos professores quando se comparam suas funções e atribuições ao exercício profissional de médicos, engenheiros ou advogados, por exemplo. Não é comum que uma pessoa entre no consultório de um pediatra e, sem qualquer conhecimento médico, opine ou ainda se oponha abertamente as orientações dadas por um profissional da área.

Também não vemos as pessoas interferindo nas decisões e encaminhamentos tomados por um advogado ao longo de um processo criminal. Se qualquer cidadão tentasse, por conta própria, construir um prédio sem os devidos conhecimentos técnicos da área tão caros a engenheiros ou arquitetos o que poderia acontecer? Já imaginaram?

Em educação também há conhecimentos específicos, que são atualizados constantemente, que depreendem a prática exercida diariamente e o enfrentamento das situações do cotidiano, porém, os pais acham que entendem tanto (ou mais) de educação do que os próprios pedagogos, especialistas nas disciplinas, orientadores educacionais ou diretores das escolas...

A freqüência à escola é uma característica da vida da maioria dos brasileiros, isso é fato, felizmente. Por esse motivo qualquer cidadão desse país pensa entender de educação como os profissionais que atuam na área e que estão a todo o momento envolvidos com os problemas, as novidades pedagógicas, as novas tecnologias incorporadas ao cotidiano da escola, as tendências filosóficas mais contemporâneas, as metodologias mais eficientes.

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Os estudantes precisam de apoio tanto dos professores quanto de seus pais
para obter melhores resultados na escola. Aos pais compete acompanhar o
trabalho da escola e orientar com freqüência os estudos de seus filhos.
Atitudes como essas auxiliam muito o trabalho dos professores.

Do mesmo modo como advogados, médicos ou arquitetos se sentem ofendidos quando tem seu trabalho questionado por leigos, também os professores demonstram sua evidente insatisfação por posicionamentos dos pais que demonstram o não conhecimento das novas possibilidades didáticas relativas ao trabalho em sala de aula.

Para piorar a situação é praticamente regra que os pais visitem as escolas apenas em momentos críticos da vida educacional de seus filhos. O mais usual é que isso aconteça ao final dos bimestres, com a realização das reuniões de fechamento de um ciclo de estudos e avaliações. Invariavelmente isso acarreta encontros que são marcados por críticas e mais críticas ao trabalho dos professores, poucos são os pais que se dispõem realmente a dialogar e conjuntamente descobrir as dificuldades e problemas gerais do processo de ensino-aprendizagem.

Não estou dizendo com isso que não há erros e desacertos por parte dos educadores. Todos sabem que ainda existem muitos problemas a serem solucionados na educação brasileira. O que não pode acontecer é a crucificação do trabalho educacional sem uma avaliação isenta que permita perceber que há acertos a serem feitos tanto pelos professores e demais profissionais de uma escola quanto pelos alunos e por sua família.

Os professores precisam da compreensão da sociedade e, especialmente, do apoio dos pais de seus alunos. Necessitam frequentemente de estímulo da direção da escola. Tem que ter incentivo para estudar, aperfeiçoar ainda mais seus conhecimentos. Devem ingressar na era da informática e adequar suas aulas ao uso das Tecnologias de Informação e Conhecimento (TICs) ao mesmo tempo em que inovem no cotidiano de seu trabalho educacional.

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Alunos motivados dependem de um professor que esteja com auto-estima
elevada. Para tanto é necessário que seu trabalho seja incentivado e
renovado com o apoio da comunidade e da direção da escola.

É claro que isso exige tempo, investimento, mudança de paradigmas e revisão de posturas sociais arraigadas já há muito tempo. Tanto por parte dos professores como de toda a sociedade. Sabemos também que avanços já estão acontecendo de forma isolada, através de experiências realizadas em unidades educacionais privadas ou públicas. Isso já é um alento.

Essas experiências e também os conhecimentos que estão sendo gestados e produzidos nas universidades devem, no entanto, ser socializados mais rapidamente do que são atualmente. Há trabalhos que se forem incorporados ao cotidiano escolar das redes públicas ou privadas podem solucionar problemas crônicos das escolas e ajudar a recuperar a auto-estima dos professores.

Não conheço educadores que saiam de casa com a deliberada intenção de dar aulas ruins. Sei de pessoas que têm dificuldades por que não puderam se aperfeiçoar, estudar mais. Também já estive em contato com professores que se desiludiram, pois as mudanças e transformações que lhes foram prometidas não ocorreram ou acontecem a um ritmo extremamente lento.

Há também os casos, que são numerosos, de professores que se sentem desestimulados justamente porque não tem o devido respeito por sua dignidade profissional, empenho pessoal e vontade de mudar. Em todos esses casos a auto-estima dos educadores vai lá para baixo e, como conseqüência disso, suas aulas são muito inferiores ao que realmente poderiam ser.

Trate o professor de seu filho com respeito. Dê a ele a devida consideração por seu trabalho. Escute suas ponderações e depois, educadamente, apresente suas dúvidas e questionamentos. Cobre a escola e a rede a qual ela pertence por maiores investimentos na formação desses professores. Elogie as iniciativas bem sucedidas, isso pode estimular esses profissionais da educação a melhorarem ainda mais suas práticas de ensino. A educação e os seus trabalhadores agradecem essa compreensão e se comprometem a fazer sempre o melhor pelos estudantes e também em prol do país...

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12 COMENTÁRIOS

1 EDILEUZA - Ourolândia
Amei ler este texto. Ele nos reflete a real situação do nosso cotidiano mais ao mesmo tempo nos impulsiona a melhorar cada dia mais.
16/10/2012 16:00:49


2 zeneide vieira sanji - Colombo Paraná
olá, estou cursando o 2º período de pedagogia, e minha professora de psicologia pediu para fazermos um trabalho sobre autoestima tanto de alunos como de professores e achei muito diferente e feliz a comparação que o autor faz de professores,médicos, advogados, por que com professores todos querem dar opiniões e nos criticam? Sendo que fazemos faculdade e temos diplomas assim como em outras profissões, temos menores salários,pouco respeito e valorização, a sociedade precisa entender que trabalhamos com o maior bem que existe a CRIANÇA.E que para esta criança ser um engenheiro, médico ou ate mesmo Presidente da República, precisa antes passar por um professor, e quanto mais feliz e mais autoestima tiver este professor maior será e desenvolvimento e conhecimento desta criança. Como a esperança é a última que morre, sempre esperemos o melhor.
27/08/2010 22:30:40


3 dalva lori vargas bortolaso - santa maria
o artigo é muito bom pois relata a realidade vivida por nós professores, onde muitas vezes não somos valorizados como profissionais,a falta de uma ação conjunta entre escola família e a política educacional ,nos deixa frágil no contexto social, onde a saúde mental do professor é abalada por conseguir resolver situações que ocorrem no cotidiano da sala de aula.
09/05/2010 01:15:00


4 GLAUCIA - RIBEIRAO
GOSTEI BASTANTE DO TEXTO, POIS ATENTA A UMA REFLEXÃO REAL DAS NOSSAS ESCOLAS E AO PROCESSO EDUCATIVO.
17/02/2010 16:24:01


5 Arlete Ribeiro - Peixe/TO
Muito bom seu artigo, principalmente porque reflete uma situação que passamos recentemente e nos deixou bastante desmotivados, temporariamente, pois esta é nossa profissão e vamos encontrar um meio termo para uma melhor convivência com os pais. Este artigo deunos mais energia.
27/01/2010 00:01:56


6 Maria de Lourdes - São Paulo/SP
olá. Achei seu estudo muito apropriado e condinzente com a realidade que vivenciamos. Vou pedir licença para utilizar seus estudos numa palestra que vou promover numa escola de estudos infantis, onde a Diretora vem percebendo a baixa estima entre os professores e a competitividade negativa entre eles e a dificuldade de relacionamentos destes com os funcionários da escola. Vai ser muito proveitoso. Acho que todas as Diretorias de Colegios, Escolas e Universidades deveriam promover palestras e momentos de ralaxamento para seus professores e funcionários.Isso ajudaria a todos a se descobrirem e sentiremse mais valorizados de dentro para fora e não de fora para dentro e assim se protegeriam das influências negativas externas e sobreviveriam aos imprevisíveis atos reacionários e revolucionários decertos alunosproblemas. Vamos começar por aqui. Quem sabe nossa árvore começa a se multiplicar não é?
10/04/2009 22:47:29


7 glaucia martins - governador valadares - MG
Estou atualmente pesquisando sobre a auto estima do professor . E, este artigo foi como um presente para mim . Muito obridado. abraços GLAUCIA
27/10/2007 17:49:48


8 Conceição Pereira - Lisboa / Sintra / Portugal
É com muita tristeza que chego à conclusão que, independentemente do país, os problemas com a educação são iguais ou semelhantes. Em Portugal também temos vindo a viver situações muito complicadas no que respeita à escola, aos alunos e aos professores. O desrespeito que se vive e se sente está a atingir repercussões muito graves. A culpa, essa "há-de morrer solteira", como costumamos dizer. Eu considero que é de todos nós. A educação tem de ser vista no global, porque todos nós somos responsáveis por uma parte. O que parece é que ninguém se quer responsabilizar por nada e, entretanto, temos os pais a queixarem-se dos professores e os professores a fazer o mesmo em relação aos pais. No meio deste "ping-pong" quem é que está? Os nossos filhos, os nossos alunos, jovens e crianças que acabam por entrar neste jogo e fazer o que bem lhes passa pela cabeça tanto aos pais como aos professores, neste momento, completamente desautorizados. Todos nós saimos prejudicados desta situação, principalmente os estudantes. Hoje em dia a escola é vista como algo negativo, desmotivador, uma obrigação. Esta imagem é péssima, mas já está tão banalizada que todos nós achamos normal. A acomodação obriga-nos a deixar de agir e de pensar em soluções. Eu não sou professora, no entanto, como trabalho num centro de estudos deparo-me, por diversas vezes, com situações de falta de diálogo entre a escola e a família e vice-versa. Toda a nossa actuação assenta na psicopedagogia, cuja metodologia está preparada para intervir no campo das dificuldades de aprendizagem. Tendo por base os seus princípios orientadores estabelecemos uma parceria com a família e com os professores dos alunos acompanhados por nós. Nós sabemos que só através de um trabalho conjunto e coordenado podemos criar condições para que, as dificuldades sentidas por todos, sejam minimizadas e os alunos possam usufruir da escola de uma forma saudável e com sucesso. Todas as pessoas envolvidas têm de contribuir para que o problema apresentado inicialmente (queixa) pelos pais ou pelo próprio aluno, se altere e isto só se consegue com o envolvimento de todos. Só desta forma o aluno, o filho vai perceber que, para além dele, tanto os pais como os professores estão também a contribuir para o seu bem-estar. Queria ainda dizer que gostei muito do artigo. Concordo plenamente quando afirma que os professores precisam de estimulos positivos para se sentirem motivados e que precisam também de ser respeitados. Acredito que tanto os pais como os professores lutam pelo mesmo objectivo, ou seja, tornar os seus filhos e alunos felizes, saudáveis e com sabedoria. Educar é realmente uma tarefa muito árdua e complexa, tanto para uns como para outros. Por isso é preciso partilhar preocupações para conseguir chegar a soluções. Todos nós merecemos isso. Conclusão, ainda há muito a fazer e um longo caminho a percorrer... Um abraço de Portugal.
09/10/2007 15:39:41


9 RENADETE SANTOS MOREIRA MACHADO - Milagres_ BA
Percebi que você é um apaixonado em Educação como eu. O Profissional pra mim, antes de mais nada, AMA o que faz e o que faz já fica facil de fazer, os caminhos se abrem, as portas não se fecham já mais! não importa os fins lucrativos para sobreviver.E para viver bem o importante é está satisfeito com o que está fazendo desde que o outro esteja também inserido no nosso mundo. Há muitos dos nossos colegas que não valorizam o nosso espaço e o que precisamos na educação é união de saberes, compromissos de buscas e realizações dentro do nosso próprio ambiente e as possibilidades são dadas A Tecnologia chega pra todos sem pedir liçença e a Educação está aí á séculos batendo na mesma tecla.Onde está o erro?? um abraço!
25/05/2007 14:07:58


10 Adelaide Mathias dos Reis Leal - Sumbe, Kuanza-Su - Angola
concordo plenamente com o texto e/ou conteudo, porque afinal de contas o aluno tem mais facilidades de aprender se o professor passar seguranca para ele, faze-lo compriender que ele e capaz, que ele pode, que ele deve aprender ate a disciplina mais complexa. Em casa sao os pais os principais estimuladores da auto-estima, e, na escola o professor. Neste contesto os dois devem trabalhar em conjunto para o melhor desempenho do aluno. Desde pequeno ele deve saber que homem nenhum e perfeito, as vezes precisa-se errar para se chegar a verdade, devemos ser curiosos, criticos e defensores das nossas ideias sem ferir ninguem e ao encontro da verdade. Ao desenvolver a elevada auto-estima estamos a desenvolver a sociedade.
10/05/2007 06:12:21


11 Alan Robson - Manaus
este artigo exterioriza o que realmente torna um professor desmotivado. coragem colegas.
19/03/2007 17:36:29


12 Selmara Ribeiro da Silva - Belo Horizonte - MG
Estou atualmente pesquisando as principais motivações dos professores em matemática especificamente. Este artigo me ajudou bastante na visão de uma forma geral deste conteúdo. Abraços Selmara
16/03/2007 14:44:23


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