147,99% a mais de esforço - 12/12/2005
O que precisamos fazer por uma universidade melhor?
O aumento da demanda educacional na universidade deve ser respondido com novas vagas e qualidade nos cursos oferecidos...
A educação superior no Brasil teve aumentos da ordem de 147,99% nas mensalidades das universidades e faculdades privadas nos últimos nove anos. Esse índice supera os dados relativos à inflação oficial medida para o mesmo período em nosso país.
Isso significa, na prática, que o dispêndio com educação superior em terras brasileiras que já era considerado alto relativamente ao poder aquisitivo médio de nossa população tornou-se ainda mais proibitivo.
Apesar disso, a quantidade de pessoas que prestam o vestibular e se matriculam em universidades tupiniquins tem aumentado a largos passos, especialmente quando verificamos os números relativos à última década.
Evidentemente o crescimento das matrículas é uma boa notícia para o país. Isso significa, na prática, que teremos uma maior quantidade de profissionais com especialização nas diversas áreas do conhecimento.
Sabemos quantos novos médicos, dentistas, engenheiros, arquitetos, economistas, advogados ou professores a mais são necessários para suprir as carências de nosso mercado de trabalho. Esses diplomas são importantes e devemos reconhecer e valorizar os esforços que estão sendo feitos pela iniciativa privada para oferecer uma maior quantidade de vagas para os estudantes interessados em ingressar nas universidades.
E o setor público? Acompanhou o esforço privado e também passou a oferecer uma quantidade expressiva de novas vagas para esses estudantes sequiosos de oportunidades?
Bibliotecas atualizadas e bem equipadas; Laboratórios de informática com equipamentos de boa qualidade e acesso a Internet:- São apenas dois exemplos de recursos básicos que devem constar numa boa universidade.
Sabemos que isso não aconteceu. Há muitas justificativas dos governantes e planos ambiciosos para o futuro. A criação do Prouni (Programa Universidade para Todos) de certa forma comprova essa dificuldade governamental ao propor a concessão de bolsas de estudo para tentar sanar as deficiências do sistema público universitário concedendo recursos para que estudantes carentes consigam estudar em universidades privadas.
Quanto a crescente oferta de vagas das universidades privadas surge a necessidade de questionarmos a qualidade dos cursos que estão sendo colocados à disposição desses estudantes.
De nada adianta a criação de novos cursos se a estrutura de apoio para a realização dos mesmos é deficiente. Os novos cursos universitários são, em muitos casos, como novos edifícios construídos sem o devido escoramento quanto às ferragens e que utilizam areia de praia em suas fundações...
Os riscos são enormes. Por esse motivo as exigências dos alunos e do MEC (Ministério da Educação e Cultura) devem ser extremamente rigorosas. Pagam-se mensalidades à custa de muito esforço e, mesmo no caso das bolsas de estudo concedidas a partir de programas como o Prouni, o dinheiro sai dos bolsos dos contribuintes...
Para esses novos cursos e, também para aqueles que já existiam, as universidades têm que colocar a disposição de seus estudantes uma gama de recursos variados e atualizados entre os quais devemos destacar:- bibliotecas com títulos clássicos e as mais recentes publicações; laboratórios específicos para as disciplinas de caráter mais técnico; computadores e redes ligadas a Internet; equipamentos de datashow; televisores e aparelhos de vídeo e de DVD; salas de aula arejadas e bem iluminadas (devidamente limpas e arrumadas para trabalhos individuais e em grupos).
Os professores universitários precisam aprofundar seus estudos e pesquisas ingressando em cursos de pós-graduação em busca de titulações de mestre e doutor.
Além disso, as universidades devem, obrigatoriamente, ter a sua disposição corpos docentes com titulações acadêmicas de maior excelência. Ano a ano as instituições devem ser cobradas pelo MEC quanto à formação de seus professores e, consequentemente, devem estimular o aperfeiçoamento dos mesmos em cursos de pós-graduação para a obtenção de mestrado e doutorado.
Instituições que não apresentarem dados que comprovem uma evolução anual na qualidade de seu corpo docente devem ser inquiridas quanto a isso. Há inúmeros casos de professores que avançam em seus estudos e pesquisas e acabam sendo substituídos por colegas que não possuem o mesmo gabarito. Tudo isso visando a economia de recursos das universidades em suas folhas de pagamento...
Não censuro as instituições por buscarem lucros para seus sócios ou acionistas. São empresas de caráter privado atuando na educação e entende-se que tenham o propósito de ganhar dinheiro a partir da oferta de serviços educacionais. Estamos numa economia de mercado, inseridos no sistema capitalista, isso torna qualquer crítica contrária a essa prática mercantilista totalmente sem sentido e basicamente fútil...
O que não se pode aceitar é que os lucros sejam extorsivos à custa de serviços educacionais de qualidade duvidosa, especialmente quando falamos de formação de profissionais que irão municiar o mercado de trabalho de nosso próprio país.
Os estudantes devem cobrar as instituições em que estão se graduando por melhores condições de estudo, tanto no que se refere a aspectos materiais quanto humanos.
São exigências fundamentais do mercado, em qualquer área de atuação, que os profissionais tenham fluência tanto em línguas estrangeiras quanto no uso de sistemas operacionais de computadores e Internet; que tenham uma ampla e sólida formação cultural; que saibam trabalhar em grupo; que continuem a se aperfeiçoar em novos cursos; e que tenham consciência da necessidade de acompanhar as inovações de seu segmento de trabalho e também de outros campos profissionais que tenham alguma relação com sua profissão...
Nesse sentido é importantíssima a mobilização das autoridades e também dos proprietários dessas instituições privadas no sentido da melhoria dos serviços prestados a educação brasileira. Independentemente disso, é aos estudantes que cabe a maior responsabilidade quanto a isso. São os alunos dessas universidades que sabem exatamente o que é e o que não lhes é oferecido em seus cursos.
É através dos depoimentos dos estudantes que ficamos sabendo as carências e falhas desses cursos, tanto no aspecto material quanto no que se refere a recursos humanos. A opinião documentada, preferencialmente escrita, desses alunos é de fundamental importância para a averiguação da qualidade dos cursos oferecidos pelas instituições particulares de ensino de 3º grau no Brasil.
Os estudantes são os clientes, objetivamente falando, das universidades brasileiras. Muitos deles trabalham ao longo do dia para estudar a noite. Uma boa parte de seus salários é destinada ao pagamento das mensalidades e materiais de seus cursos.
Porém, também é importantíssimo que esses mesmos estudantes valorizem a oportunidade que estão tendo, especialmente num país como o Brasil, tão desigual e injusto socialmente. Estar numa universidade é um privilégio e essa experiência deve ser percebida como uma chance de ajudar a mudar o nosso país para melhor.
Participar das aulas, ir a palestras e congressos, ler a bibliografia indicada e também a sugerida, pesquisar novidades para o curso, vivenciar as experiências culturais extra-classe e estudar com afinco não devem ser práticas entendidas como obrigações e sim como oportunidades que não irão aparecer novamente. Somente ao vivenciar todas essas atividades é que os estudantes estarão realmente valorizando o investimento que estão fazendo. É dessa forma que cada centavo despendido em educação irá resultar em esforços 147,99% maiores por parte de cada estudante em prol de sua própria formação...
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