A Semana - Opiniões
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Almoços em família - 10/10/2005
Entrando em sintonia com os filhos

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Lembram-se de como era gostoso se sentar à mesa para poder compartilhar a excelente refeição de domingo preparada por nossas mães ou avós? Quantos de nós ainda guardamos esse hábito tão essencial para a preservação da família? E não me refiro apenas a macarronada com almôndegas ou acompanhada de um bom frango assado servida nos finais de semana, penso que é fundamental resgatar as refeições e muitos outros hábitos importantíssimos para que possamos ajudar na reestruturação das famílias em nosso país.

Esses encontros já não fazem parte da realidade de uma grande parte das crianças e adolescentes da atual geração de brasileiros. Nossos filhos, sobrinhos e alunos vivem mais próximos de terceiros ou, às vezes dos avós, do que de nós, seus pais e responsáveis diretos...

E o pior é constatar que nos momentos em que nos encontramos com nossas crianças não são poucas as vezes em que, cansados pela maratona de compromissos, tentamos distanciá-los ainda mais oferecendo-lhes como contrapartida a televisão, o computador ou seus jogos eletrônicos.

Não dá para desprezar as necessidades e cobranças do mundo adulto e profissional. Todos precisam trabalhar e conseguir ganhar o pão de cada dia com o suor de seus rostos. No entanto, temos que refletir acerca das implicações desses nossos atos para a formação de nossos filhos e as futuras conseqüências dessa nossa distância para o futuro dos mesmos.

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Precisamos conhecer os amigos de nossos filhos, participar mais ativamente
de suas vidas, acompanhar seus desempenhos escolares, partilhar as dores e
as vitórias, estabelecer limites e mostrar a eles o quanto são importantes para nós.

E quando paramos para pensar nisso acabamos, muitas vezes, descobrindo os motivos para atitudes rebeldes ou desobediências a que somos submetidos por nossos filhos.

Piercings ou cabelos pintados podem ser simplesmente elementos de adesão aos modismos das novas gerações, mas também podem ser motivados por insatisfações em relação às respostas que temos dados aos nossos herdeiros (e não há, de modo algum, restrições ou preconceitos por parte desse humilde articulista em relação à utilização desses adereços ou modismos pelos jovens).

O problema é imaginar que de situações corriqueiras e aparentemente sob controle, como as que mencionei acima, os problemas podem aumentar para crises de complexa resolução ou ainda praticamente insolúveis. O abalo das estruturas nervosas, a entrada no mundo das drogas, a insegurança, a solidão, o medo de tudo e de todos, a busca de estabilidade e identidade em pessoas perigosas, a agressividade ou a queda de rendimento e aproveitamento na escola são indicativos de situações decorrentes desse distanciamento dos pais em relação a seus filhos.

Não adianta tentar suprir as horas que passamos longe de nossos filhos com presentes, idas a restaurantes e lanchonetes ou ainda com passeios e viagens nas férias. A constância de nossos comportamentos e práticas em relação aos filhos é o que ajuda realmente a reduzir os problemas da ausência motivada pelos compromissos.

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Resgate os bons jogos de tabuleiro e gaste algumas horas criando elos e estabelecendo
a mais primordial de todas as parcerias que devemos ter em nossas vidas, com nossos
próprios filhos. Essas atividades serão lembradas para sempre e consolidarão a amizade,
o respeito e o carinho dos filhos pelos pais.

Quando falo em constância me refiro a necessidade de vivenciarmos de forma integral e plena a nossa presença em casa com os filhos. Se chegamos tarde, depois de um exaustivo dia de trabalho, mesmo assim precisamos dispor de tempo para conversar, brincar, ler, perguntar sobre os acontecimentos da escola, programar atividades, jogar e também saborear uma deliciosa refeição juntamente com os membros de nossas famílias.

Perdemos um pouco a noção do porto seguro que deve simbolizar o retorno para nossas casas e famílias. Já não notamos o quanto é importante colocar os pés em terra firme, amarrar as cordas ao píer, andar com segurança sobre as tábuas do deck e, depois de uma longa e tempestuosa jornada de pesca, sentar-se à mesa para degustar o delicioso jantar preparado por nossas famílias.

Temos que, inclusive, convidar as crianças a participar do processo de produção de nossos alimentos. Inicialmente arrumando a mesa, pegando ingredientes ou até mesmo auxiliando com a louça a ser lavada (sempre supervisionados). Numa etapa posterior seria muito agradável ensiná-los a preparar algumas receitas simples e ajudá-los a definir temperos e sabores...

Crescemos e nos reforçamos como família não apenas quando nos sentamos juntos numa mesma mesa para compartilhar nossos alimentos. A unidade e segurança decorrem da interação, do auxílio que prestamos uns aos outros, da presença de alma e espírito, do diálogo necessário e fundamental, do bom humor e também da capacidade de compreensão e amor que devemos devotar aos nossos mais próximos e estimados entes.

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O espírito cooperativo das crianças é despertado e estimulado quando dividimos funções e
responsabilidades com os pequenos. Ajudar a arrumar a mesa, lavar a louça ou ainda a
preparar alimentos é uma forma de aproximar as crianças, dar-lhes gosto e satisfação
por participarem e estreitar os laços de companheirismo.

Falo das refeições apenas como uma representação de um todo que deve incluir a inserção das crianças nos planos e projetos de nossas vidas. Quando digo isso não me refiro ao fato de que eles também serão afetados por nossos movimentos futuros, mas que também sejam comunicados e consultados quanto a isso. Suas opiniões devem ser escutadas e levadas em consideração. Desde cedo os pequenos devem saber que a vida depende de decisões, planos, diálogo e entendimento.

Temos que aumentar a nossa convivência com os filhos de forma simples e sincera. Para fazer isso podemos participar de suas brincadeiras, leituras, compromissos, amizades, hobbies, cardápios, músicas, opções de roupas,...

Há muitos pais que não sabem com quem andam seus filhos. Há tantos outros que nem desconfiam por onde andam as crianças. Não adianta dar telefones celulares para tentar monitorar, isso não indica realmente onde e com quem estão as crianças. Nossa segurança (e principalmente a deles) depende da educação e dos valores que trabalhamos em nossos lares e que devemos cobrar da escola.

Se falamos a verdade, pregamos a sinceridade, a decência, a honestidade e outros bons princípios a tendência é que nossos filhos também vivenciem essas práticas e idéias. Vale ressaltar que não basta falar, é necessário ser coerente e agir de forma a consolidar tal ética e filosofia de vida. De que adianta reiterarmos que não se devem falar palavrões ou que fumar faz mal para a saúde se a todo o momento utilizamos palavras de baixo calão ou se fumamos um cigarro atrás do outro?

Sejam criativos na relação com seus filhos: Resgatem os bons e velhos jogos de tabuleiro; Ensinem as crianças a fazer palavras cruzadas; Leiam as fábulas ou outras histórias destinadas aos pequenos dando alma e sabor as tramas; Façam deliciosos sanduíches (de preferência naturais, com bastante salada); assistam juntos a um bom desenho e depois conversem sobre o que viram; joguem bola ou andem de bicicleta...

Esse companheirismo será o melhor e mais proveitoso e lembrado presente que vocês poderão dar a seus filhos. Criar-se-á uma relação estável, gostosa, interessante e perene que trará grande satisfação para todos. Estaremos estimulando o surgimento de pessoas saudáveis tanto física quanto emocional e intelectualmente. Estaremos dando exemplos que firmarão solidez para as famílias de nossos filhos e, que consequentemente, ajudarão as novas gerações a viverem mais harmoniosamente. Além do mais, não há nada tão gostoso quanto o temperinho caseiro...

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