O Casamento de Romeu e Julieta - 26/08/2005
O amor que supera qualquer barreira
Não há barreiras intransponíveis para o amor. Pelo menos era isso que William Shakespeare, um dos maiores escritores de todos os tempos, queria nos dizer quando escreveu a imortal obra “Romeu e Julieta”. As disputas entre poderosas famílias, inimigas a ponto de se odiarem, se excluírem ou mesmo se perseguirem nos coloca em meio a uma trama em que o triunfo do romance entre os jovens personagens que encabeçam a história parece fadada ao fracasso.
Não é o que acontece como todos já sabemos. Mesmo a tragédia que se anuncia revitaliza o conceito de amor pleno, total. Nem mesmo as intransigências familiares podem derrotar a necessidade do outro, daquele que fecha o círculo, complementa a alma, alimenta o espírito e dá graça e sentido a vida de seu par.
E o que aconteceria se transpuséssemos essa clássica história para o momento presente? E se essa história fosse contextualizada na Cidade de São Paulo e os protagonistas nem ao menos se conhecessem, muito menos suas famílias? E se o motivo maior da discórdia entre as famílias fosse o futebol? O amor de Romeu e Julieta sobreviveria?
Pois é esse o fio condutor de uma versão brasileira dos desencontros que se verificam entre as famílias dos nossos Romeu e Julieta. Uma outra calorosa relação de amor e ódio movimenta os conflitos que se estabelecem entre a família da jovem donzela e de seu amado pretendente. E o que fazer senão rir de uma situação muito mais comum e corriqueira do que podemos imaginar?
Pois a premissa do filme é baseada numa das mais tristes realidades de que se tem notícia quando falamos de esporte, de entretenimento de massas, de arte em seu mais elevado status de realização como no caso do futebol brasileiro de tantas e tamanhas glórias pelos gramados desse mundo em que vivemos.
Cinco títulos mundiais, os maiores jogadores de futebol do mundo, clubes que mobilizam imensas multidões aos estádios, jogos que se tornam parte da memória coletiva pela qualidade dos passes, tabelas, gols e defesas são o orgulho de toda uma nação. Apesar disso, as torcidas tem em seu retrospecto uma série de brigas, algumas mortes, pisoteamentos causados pelos tumultos promovidos em estádios, apedrejamentos de ônibus, depredações e tantas outras atrocidades cometidas de forma vil e desmedida em função daquilo que se anuncia como ardorosa paixão pelo clube do coração...
Corintianos contra palmeirenses, são-paulinos que enfrentam santistas, vascaínos que não toleram flamenguistas, gremistas que odeiam colorados, atleticanos que não vestem roupas azuis para não fazer menção ao arqui-rival Cruzeiro e tantas outras rivalidades têm extrapolado os limites da paixão e tem feito história nas crônicas policiais.
O que deveria ser espetáculo esportivo parece ter se tornado arena de batalha em que bárbaros cruéis se confrontam e sacrificam inocentes torcedores que queriam apenas apreciar um bom jogo de futebol. “O Casamento de Romeu e Julieta” não nos faz lembrar de tudo isso pois envereda pelo humor e pelo romantismo. Apesar disso, relembra as rivalidades e nos faz rir das mesmas para demonstrar que no fundo tudo deveria ser apenas alegria, felicidade, contentamento...
Gosto muito de futebol. Tenho minhas preferências e não abro mão das mesmas. Não posso, entretanto dispensar a dignidade, a elegância, o respeito e a tolerância pelas diferentes escolhas clubísticas feitas por outras pessoas. Debaixo da camisa de um outro clube há uma pessoa que também tem família, que é trabalhador ou estudante, com suas contas a pagar e seus sonhos a lhe iluminar os caminhos.
É nesse momento que devemos pensar que o futebol é apenas um sonho bom onde há anjos de pernas tortas, reis, pedaladas, passes de calcanhar, gols de placa, arte, diversão, balé, alegria e vida, muita vida. Não há espaço para o ódio, o desencantamento, a violência e as intransigências...
O Filme
Romeu (Marco Ricca) é um jovem médico corintiano que recebe em seu consultório a bela Julieta (Luana Piovanni), uma palmeirense de carteirinha, jogadora do time feminino do Parque Antártica. O encontro casual é apenas a chance que os dois esperavam para que o destino viesse reuni-los enquanto casal em uma ardente paixão.
Para não arrefecer os ânimos da nova namorada, Romeu esconde suas preferências futebolísticas tanto da jovem quanto de sua família. A situação é ainda mais complicada pelo fato de Romeu ser integrante de torcida uniformizada do time do Parque São Jorge e de seu futuro sogro, Alfredo (Luís Gustavo, em performance impagável), ser conselheiro e corneteiro de plantão no Palmeiras.
Como mentira tem perna curta, nem tudo funciona muito bem na relação entre o jovem casal... Com o passar do tempo, Julieta acaba descobrindo que seu namorado é corintiano e, apesar das diferenças, demonstra compreensão em relação às escolhas de Romeu. Entre eles tudo parece acertado, afinal de contas o amor está acima de tudo e não são as paixões clubísticas que irão separá-los...
O problema é que Alfredo está providenciando passagens para que o novo membro da torcida palmeirense, seu futuro genro Romeu, vá a Tóquio assistir a final do campeonato mundial em que o Palmeiras tentará chegar ao seu maior título. Enquanto isso, na casa de Romeu, seu filho e sua avó estão desconfiados que Romeu está com algum problema sério por não estar mais indo aos estádios prestigiar o todo-poderoso Timão...
Será que o amor conseguirá triunfar sobre uma rivalidade tão grande quanto a de corintianos e palmeirenses?
“O Casamento de Romeu e Julieta” é uma agradável e saborosa comédia romântica que nos faz rir e pensar, que estimula o encontro mesmo quando há desencontros, que celebra a vida e o amor e que nos conclama a tolerância e ao entendimento. Trata-se de um formidável divertimento!
Aos Professores
1- Forme “times de futebol” (apenas como metáfora) com os alunos para estimular a solidariedade. Crie um torneio em que esses “times” estejam competindo entre si para arrecadar mais alimentos, agasalhos ou livros para doações. Para ficar mais animado peça a eles que se reúnam de acordo com suas preferências futebolísticas. Estabeleça prêmios para os vencedores com o intuito de estimular a competitividade. Faça o fechamento da atividade reunindo todos os estudantes para a entrega dos itens arrecadados no local selecionado pelo grupo (asilo, creche, biblioteca). Há duas grandes lições numa proposta como essa: a primeira refere-se ao trabalho em equipe; a segunda estabelece a possibilidade do congraçamento entre os adversários. Esclareça que a vitória final não foi apenas do grupo que ganhou o prêmio, mas de todos, principalmente daqueles que foram beneficiados com a ação solidária.
2- Estimule a leitura de “Romeu e Julieta” antes de apresentar o filme “O Casamento de Romeu e Julieta”. Peça aos estudantes que comparem as histórias e que pensem outras situações que poderiam servir como base estrutural para a composição de novas histórias em que as diferenças e intolerâncias poderiam impedir a efetivação de um grande amor. Divida os estudantes em grupos e peça a eles que escrevam a várias mãos essa nova trama para encenação em sala de aula.
3- O que é o Amor? Será que nossas crianças e adolescentes têm uma correta noção do que seja esse sentimento? Que tal procurar apoio na literatura, na poesia, na música, na história e na filosofia para responder essa pergunta? Organize pesquisas na biblioteca. Monte uma mostra de filmes sobre o tema. Direcione buscas na Internet. Fale sobre o amor com naturalidade e espontaneidade em busca do verdadeiro sentido desse sentimento revolucionário. Organize exposições com painéis, filmes e cartazes sobre as conclusões dos grupos.
4- “A Paz nos Estádios” é uma campanha que já existe no Brasil e em alguns países da Europa. Muito mais que um simples slogan ou que uma campanha publicitária, a idéia tem que se concretizar a partir do esclarecimento e da consciência que as pessoas devem ter do esporte como espetáculo, saúde, arte e entretenimento. A melhor forma dessa idéia se consolidar é iniciar sua divulgação dentro das escolas, estimulando as crianças e os adolescentes a perceberem as diferentes escolhas como parte do jogo democrático em que vivemos. Que tal pensar num projeto que envolva toda a escola para desenvolver essa consciência entre os estudantes?
Ficha Técnica
O Casamento de Romeu e Julieta
País/Ano de produção: Brasil, 2005
Duração/Gênero: 93 min., Comédia
Direção de Bruno Barreto
Roteiro de Jandira Martini, Marcos Caruso e Bruno Barreto
Elenco: Marco Ricca, Luana Piovani, Luís Gustavo, Martha Mellinger,
Mel Lisboa, Leonardo Miggiorin, Cybele Jácome, Rafael Golombek, Marina Person.
Links
http://parceiros.cineclick.com.br/criticas/index_texto.php?id_critica=9000
http://www.cinemaemcena.com.br/cinemacena/crit_editor_filme.asp?cod=2700
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