Diário de Classe
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Trabalhando Conceitos e Definições - 05/08/2005
Que tal superar práticas pedagógicas desgastadas pelo tempo?

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Os professores têm que assumir um novo papel em sala de aula,
atuando mais como orientadores e mediadores na relação que deve
ser estabelecida e incentivada entre os alunos e o conhecimento.

Em qualquer disciplina escolar há uma considerável quantidade de definições e conceitos a serem discutidos e trabalhados pelos professores com os alunos. O encaminhamento mais comum quando se torna necessária à apresentação de um desses conceitos é justamente a fórmula mais simples possível, ou seja, aquela em que o professor apresenta a definição oralmente, explicando-a e depois a colocando na lousa.

E que trabalho foi necessário para que o aluno tivesse acesso a essa importante idéia?

Praticamente nenhum por parte do aluno. O esforço teve que ser feito pelo professor, que ao se preparar para suas aulas, e muito provavelmente ainda durante todo o seu processo formativo em cursos de especialização na universidade, se debruçou sobre livros, apostilas, anotações colhidas em sala de aula e criou a partir disso os esquemas mentais que vieram a lhe permitir a compreensão dessas definições.

Mesmo esse professor, ainda na condição de aluno, percorreu o caminho das pedras por ter tido acesso a esse conhecimento de maneira tão simplificada. Seu professor universitário também tentou fazer com que os conceitos basilares da área de conhecimento de seus estudos fossem repassados aos estudantes praticamente por osmose...

Isso quer dizer que essa fórmula pode ser aposentada em função de novas alternativas recém-surgidas e propostas pelos estudiosos e pesquisadores da pedagogia? Ou ainda, pode-se deduzir por essas afirmações que o autor desse texto abre mão dessa estratégia de ensino por ter conhecimento de outras mais eficientes?

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Os estudantes devem escrever com constância e anotar todos os caminhos
percorridos para a construção dos conceitos e definições pesquisados.
A prática da escrita lhes permite uma maior facilidade de
expressão e incentiva o enriquecimento do vocabulário.

Ainda não inventamos chips que possam ser implantados no cérebro e que contenham as informações necessárias para o exercício de uma profissão, qualquer que seja ela. A ficção científica já está trabalhando essa idéia há algum tempo, existem inclusive experiências em curso em universidades americanas, européias e japonesas, não com o intuito de abastecer os cérebros humanos com o conhecimento que oriente, a partir desses sensores eletrônicos, a formação profissional de uma pessoa...

O que pensamos como alternativa a essa atuação corriqueira percebida em aulas no que tange a definições e conceitos é um trabalho que seja executado primordialmente pelos estudantes a partir de orientações e indicações feitas pelos professores. Numa situação como essa a principal mudança é o estabelecimento de novos papéis a serem desempenhados pelos alunos e também pelos professores em sala de aula.

O aluno deixaria de ser um mero espectador, passivo, receptor de idéias previamente produzidas por outras pessoas. O maior interesse seria justamente o de induzir os estudantes a buscar e produzir os conhecimentos conduzidos pela batuta do maestro em exercício, ou seja, o professor.

Para tanto, os professores teriam que trabalhar muito mais em seu planejamento e teriam que legar aos estudantes atividades e meios (ou recursos de prospecção) que permitissem aos alunos encontrar os caminhos para a própria compreensão dessas definições. Os caminhos do cérebro para a consecução do saber não são os mesmos, portanto a elaboração em sala de aula a partir de explicações em uníssono dadas pelo professor não podem dar os mesmos resultados.

Disso decorre a diferença no ritmo e também no entendimento mais ou menos amadurecido de diferentes conceitos e idéias.

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A pesquisa em bibliotecas, laboratório de informática ou em ambientes
externos é fundamental para a construção dos conhecimentos. Ao transformar
os estudantes em pesquisadores ou investigadores o conhecimento passa
a ser mais significativo e instigante para os mesmos.

A adoção de estratégias que tivessem como foco a atuação dos estudantes como autênticos pesquisadores ou investigadores em busca de pistas e meios de solução de um determinado enigma ou dúvida pendente levaria necessariamente a um maior respeito quanto as individualidades e tornaria o estudo uma atividade reconhecidamente mais palatável mesmo para os alunos que tivessem ou demonstrassem maiores dificuldades numa determinada área do conhecimento.

O respeito às diferenças, especialmente no que se refere ao ritmo de aprendizagem das pessoas, demonstra para os alunos que todos os participantes de um curso são importantes para o educador. Ninguém fica com a impressão de que foi ou de que poderá ser deixado para trás.

Mas, como executar isso na prática. De que formas podemos prever esse tipo de atuação em nossos planejamentos de aula?

O primeiro e mais importante passo refere-se a necessidade de alteração ter sido percebida pelos professores. Isso se dá a partir do exame do contexto em que essa pessoa está trabalhando, com a percepção em relação ao estado de ânimo dos estudantes (desanimados ou exaltados demais; desatentos ou indiferentes; pouco participativos ou apáticos), que deve referendar para o educador a necessidade de revisão de seus procedimentos e métodos de trabalho.

Constatada a insatisfação do grupo, que necessariamente coloca o trabalho em execução numa situação de risco quanto aos resultados a se atingir, o professor perceberá que tem que mudar a cultura dominante no ambiente escolar e partir para estratégias inovadoras que signifiquem a oxigenação desse mesmo espaço. O caminho tem que ser a atribuição das responsabilidades de produção e prospecção do conhecimento ao estudante.

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A utilização de outras referências culturais como músicas ou filmes facilita a
compreensão dos novos conceitos e definições que estão sendo pesquisados
pelos alunos. É fundamental que os estudantes sejam capazes de relacionar
os novos conhecimentos a idéias previamente aprendidas por eles.

Em seu planejamento, o professor deve prever materiais que possam referendar o conhecimento que está se constituindo e prover os alunos desses recursos. Isso, na prática, faz com que os educadores tenham que pesquisar jornais, revistas, livros, sites da Internet, filmes e qualquer outro recurso interessante disponível na própria escola ou levado a sala de aula pelos participantes do curso, entre os quais ele mesmo se inclui.

Os professores podem levar materiais, propor a busca pelos mesmos na casa dos estudantes ou na própria escola. A sala de aula passa a ser pequena para o exercício do conhecimento, tornam-se necessárias a visitas coordenadas a biblioteca, ao laboratório de computação, a sala de professores (onde outros educadores podem ser entrevistados) ou mesmo, desde que previamente programadas, as visitas a ambientes externos a própria escola (instituições, outras unidades de ensino, bibliotecas públicas, museus, centros de pesquisa,...).

A busca de recursos é apenas o primeiro passo. E essa busca pressupõe a capacidade de relacionar os conceitos e definições a outros conhecimentos. Por exemplo, ao pedirmos aos estudantes que tentem definir o que significa a palavra Ideologia, eles poderão relacioná-la a músicas (como aquela, homônima, de autoria de Cazuza), filmes, poesias, livros já previamente lidos, palavras correlatas ou mesmo a própria morfologia do termo (entre outras possibilidades).

Ao criar laços que unam as palavras e conceitos em construção a conhecimentos previamente adquiridos a compreensão dessas novas definições se torna mais fácil. Partindo-se das estruturas cognitivas pré-estabelecidas pelos alunos estamos motivando-os e dizendo a eles que o que aprenderam em situação formal ou informal de aprendizagem pode ser útil em suas vidas. Ao mesmo tempo, os termos pesquisados passam a ter muito mais significado para quem está pesquisando.

Uma outra necessária etapa nessa construção é o compartilhamento ou a socialização dos conhecimentos. Nesse ínterim é desejável que os alunos trabalhem em pequenos grupos (de 2 a 4 pessoas) e que troquem entre si as referências obtidas. A explicação que se fará necessária quanto ao porque e como tais referências foram sendo relacionadas ao conceito que está sendo trabalhado também facilitará o entendimento final da definição pesquisada.

A complementação desse tipo de atividade passa por dois momentos. O primeiro tem que ser necessariamente individual e realizado por cada um dos estudantes. A tarefa é aparentemente bem simples, pois consiste apenas em colocar em palavras (por escrito) o que se entendeu depois da pesquisa, das leituras, da comparação com as demais referências e também após o intercâmbio com outros estudantes.

A finalização é o momento em que as definições são apresentadas publicamente e comparadas entre elas e também com os modelos formais constituídos pelos especialistas. Não se pretende com isso estipular quem terá obtido o melhor resultado, ou ainda, qual entre os alunos chegou mais próximo do conceito teórico dos estudiosos. O objetivo final passa a ser demonstrar que todos puderam construir conhecimentos e que, a compreensão final dos conceitos e definições ficou mais fácil para todo o grupo...

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2 COMENTÁRIOS

1 Quiteria Holanda Maria de HOLANDA silva - Cajueiro AL
Adorei muito esclarecedor, vou me apropriar de suas ideias para elaborar um trabalho na faculdade que estava insegura com começar.20.08.2009 10:45
20/08/2009 10:48:03


2 dajuda conceiçao - teixeira de freitas bahia
isso ajudou muito na minha faculdade adoreii vcs podem obter + ideias pra tha ajudando nao so como eu mais como todos que procuram saber e tenham interesses,muito bom
09/08/2009 19:58:18


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