Coleção Primeiros Passos - 20/07/2005
Pra começo de conversa
“...ideologia não é sinônimo de subjetividade, que não é pré-conceito nem pré-noção, mas que é um ‘fato’ social justamente porque é produzida pelas relações sociais, possui razões muito determinadas para surgir e se conservar, não sendo um amontoado de idéias falsas que prejudicam a ciência, mas uma certa maneira de produção das idéias pela sociedade, ou melhor, por formas históricas determinadas das relações sociais” (CHAUÍ, 1990, p.31)
Quando ainda somos crianças, tendo perto de 4 ou 5 anos de idade (quando não menos em casos mais precoces), iniciamos uma saga que irá se tornar parte integrante de nossas vidas até o suspiro final. Do que se trata? Da necessidade do conhecimento. Temos dúvidas, somos curiosos, queremos saber. As primeiras perguntas são quase sempre elaboradas de uma forma bem simples, iniciando-se com a célebre expressão “O que é?”.
Talvez inspirados por essa enorme curiosidade que nos move enquanto seres humanos, a Editora Brasiliense teve a felicidade de criar uma das mais bem-sucedidas coleções de livros que explicam para curiosos, professores, estudantes e profissionais das mais diversas formações uma série considerável de conceitos.
E o melhor, para fazer isso entrou em contato com alguns dos maiores expoentes da cultura brasileira no que se refere as idéias que iriam ser debatidas. Profissionais da educação e de tantos outros setores da cultura, da produção e do trabalho criaram textos que têm aproximadamente um quarto de século de idade mas que, independentemente disso, continuam interessantes e atuais na maior parte dos casos.
“Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender e ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação. Com uma ou com várias: Educação? Educações”. (BRANDÃO, 1981, p.7)
Não encontraremos em qualquer coleção que se preze, mesmo entre as mais qualificadas que tem sido lançadas no mercado recentemente, autores do naipe de Marilena Chauí, Carlos Rodrigues Brandão, Paulo Renato Souza, José Graziano da Silva, Leandro Konder ou Florestan Fernandes (entre muitos outros de igual destaque e repercussão nos meios culturais e acadêmicos de nosso país).
Somente esse quesito preenchido garante a Coleção Primeiros Passos lugar de destaque na galeria das grandes iniciativas já desenvolvidas pela indústria livreira do Brasil. Reunir pensadores desse nível, representativos de universidades que constituem o grande celeiro nacional da produção intelectual brasileira já merece o respeito e a consideração de todas as pessoas que se relacionam com educação e cultura por essas bandas.
Não bastasse essa qualidade quanto aos autores, a preocupação dos editores da coleção era a de responder a um anseio premente de todas as pessoas que se aventuram pelos caminhos do conhecimento e que gostariam de adentrar com uma certa segurança (se é que podemos nos sentir assim quanto a ciência, a filosofia, a cultura, as artes, a história,...) esse gigantesco universo pelo qual dão seus “primeiros passos”.
Foi pensando nisso que surgiu a Coleção Primeiros Passos. Responder as dúvidas de todas as pessoas que estivessem começando a estudar e que quisessem saber a partir de fontes fidedignas o que significariam determinados conceitos era o propósito e objetivo dessa iniciativa da Editora Brasiliense.
“Sofremos de uma gloriosa tradição negative em relação ao corpo humano. Parece mentira que com tanta matança coletiva nos campos de batalha, tão poucos se preocuparam em saber como era feito o corpo por dentro. A anatomia de hoje começou há quinhentos anos atrás, mais ou menos. São contadas histórias de roubo de cadáveres em cemitérios, porque cortar gente morta a fim de estudar anatomia era tido como uma espécie de sacrilégio. Matar gente – à beça – era até muito legal. Mas depois de morto não pode mais... matar”. (GAIARSA, 1986, p.11)
Para tanto se definiram ramos do conhecimento e idéias ou conceitos que deveriam ser debatidos em pequenos livros por grandes autores. Foram estipuladas as áreas que iriam ser agraciadas com esses textos introdutórios (Sociologia, Direito, Administração, Economia, Educação, Antropologia, Religião, Política, Filosofia, História, Geografia, Ciências Exatas, Ciências Biológicas, Literatura, Medicina, Vida Alternativa, Artes, Comunicações e Psicologia) e foram lançados mais de duzentos títulos.
Temas como Ideologia, Cinema, Empregos e Salários, Dialética, Revolução, Método Paulo Freire, Corpo, Questão Agrária, Educação, Direito, Mais-Valia, Cultura e Racismo são apenas alguns entre os vários que vieram a ser pesquisados e que resultaram em obras que continuam sendo utilizadas por professores tanto no ensino universitário quanto no ensino médio.
Se não bastassem as vantagens descritas anteriormente, o formato escolhido para a coleção também se revelou interessante e estimulante para os estudantes. Os “Primeiros Passos” foram (e continuam sendo) editados como livros de bolso, que podem ser carregados com facilidade em qualquer tipo de bolsa e que, também, são leves e de fácil manuseio, podendo ser lidos em metrôs, ônibus ou mesmo na caminhada entre nossas casas e as escolas que freqüentamos.
“Na sociedade capitalista todos os produtos tendem a ser mercadoria. A expressão italiana ‘accolta di merci’ que a princípio não conseguira entender significava exatamente isto: ‘arsenal de mercadorias’. Na sociedade burguesa, a riqueza aparecia na forma de um imenso arsenal de mercadorias. A mercadoria tem ao mesmo tempo valor (que se expressa como valor de troca) e valor de uso. É produzida para ser trocada e portanto deve ser algo útil pois, caso contrário, ninguém se interessaria em obtê-la”. (SANDRONI, 1982, p.35)
Outra primordial característica dessa coleção se refere ao módico preço pelo qual os volumes podem ser adquiridos. Numa época em que a briga travada entre editoras e universidades em relação às cópias não autorizadas de livros é cada vez mais constante, poder adquirir esses volumes por valores equivalentes ao preço que pagamos para comprar uma revista em bancas de jornais ou por pouco mais que o valor de locação de um DVD é realmente uma dádiva.
É verdade que o fato de muitos desses livros terem sido escritos há mais de duas décadas pode nos fazer crer que seus conteúdos estejam ultrapassados e que muita coisa nova teria que ser acrescida a sua leitura para podermos realmente entender tais conceitos. A busca por novidades e por atualizações torna-se necessária, afinal de contas o mundo não parou nesses anos todos, pelo contrário, aceleramos ainda mais a produção de conhecimentos e atingimos níveis nunca antes imaginados.
Entretanto a coleção se reveste de uma caracterização clássica que a torna inexorável, ou seja, que permite a ela nos garantir uma introdução agradável e inteligente aos conhecimentos de cada um dos conceitos trabalhados para que possamos, em momentos posteriores, singrar mares mais profundos e bravios.
Ao caracterizar a coleção como clássica, permito-me identificar como uma de suas principais qualidades o resgate feito pelos autores das origens históricas dos termos e, consequentemente, uma viagem pela filosofia que embasa cada uma das idéias avaliadas e discutidas. É essa ponte entre o passado e o presente que transforma a coleção em uma pérola que permite que continue sendo utilizada, discutida, questionada e mesmo revigorada a partir dos trabalhos feitos em sala de aula.
O alto nível dos autores garante textos em que os conteúdos são reforçados, a linguagem é erudita e enriquecedora (mas também acessível) e que a aprendizagem poderá acontecer sem qualquer sombra de dúvidas.
O sucesso da Coleção Primeiros Passos motivou a Editora Brasiliense a reeditá-la sucessivas vezes e atingir expressivos números em suas vendas. Outro dividendo dessa inovadora série de livros foi o surgimento de duas outras coleções igualmente ricas e interessantes, ou sejam: a Encanto Radical (com biografias de personalidades marcantes da cultura, ciência, política, filosofia,...) e a Tudo é História (em que se destacam acontecimentos marcantes da história do Brasil e do Mundo).
Afinal de contas, antes de qualquer grande revolução é necessário saber e a construção do conhecimento nunca começa sem que os “primeiros passos”, mesmo que cambaleantes, sejam dados...
Bibliografia pesquisada:
BERNADET, Jean-Claude. O que é Cinema. São Paulo: Brasiliense, 1980.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação. São Paulo: Brasiliense, 1981.
CHAUÍ, Marilena. O que é Ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1980.
FERNANDES, Florestan. O que é Revolução. São Paulo: Brasiliense, 1981.
GAIARSA, José A. O que é Corpo. São Paulo: Brasiliense, 1986.
KONDER, Leandro. O que é Dialética. São Paulo: Brasiliense, 1981.
LYRA FILHO, Roberto. O que é Direito. São Paulo: Brasiliense, 1982.
SANDRONI, Paulo. O que é Mais-Valia. São Paulo: Brasiliense, 1982.
SANTOS, Joel Rufino. O que é Racismo. São Paulo: Brasiliense, 1980.
SILVA, José Graziano. O que é Questão Agrária. São Paulo: Brasiliense, 1980.
SOUZA, Paulo Renato. O que são Empregos e Salários. São Paulo: Brasiliense, 1981.
1 Marcia Terezinha Ceolin - Belo Horizonte
Esse artigo foi de grande importância na produção do Trabalho Interdisciplinar, realizado pelo meu grupo. Em um só artigo, pude conhecer as obras de Brandão, Chauí e Sandroni. Agora, é só adquirir as obras e estudar muito!!!!!!
18/11/2007 19:35:16
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