Lições de um esporte bretão - 07/07/2005
Aprendendo tolerância a partir do futebol
Quando o futebol se torna tema de acalorados debates entre nossos alunos a medida mais corriqueira tomada pelos professores é abafar as conversas e tentar redirecionar as atenções para o conteúdo que realmente interessa em suas aulas. A grandiosa maioria dos professores considera o futebol um desperdício de tempo e vê pouquíssima ou nenhuma possibilidade de explorar o esporte mais popular do Brasil e do mundo como tema de trabalho em aulas.
Mas, será possível utilizar toda a energia e interesse dos estudantes nesse esporte bretão em favor do conhecimento?
A questão reside justamente no ponto em que percebemos o quanto o assunto é importante, desperta paixões, mobiliza as ações e a concentração dos estudantes. Utilizar esse manancial de energia contida em favor do conhecimento é dever de todos os educadores. Para tanto, pode-se pensar em várias alternativas de trabalho na escola envolvendo o estudo do futebol como elemento motivador.
A princípio, por exemplo, pode ser realizado um projeto através do qual as crianças ou adolescentes sejam levados a pensar a relação entre as torcidas de diferentes agremiações da forma como acontece nos dias de hoje e, evidentemente, do modo como deveria ocorrer. O que quero dizer com isso?
Ao focarmos na relação entre torcedores de times rivais como Corinthians e Palmeiras, Flamengo e Vasco, Atlético Mineiro e Cruzeiro ou Internacional e Grêmio, o que queremos mostrar é que deve prevalecer uma situação de respeito e tolerância em relação às diferenças de opinião. Do mesmo modo como nos preocupamos com a tolerância que deve existir no contato entre pessoas de diferentes religiões, etnias, opções sexuais ou condição sócio-econômica, também temos que propagar e fixar esse importantíssimo conceito em relação ao mundo do esporte.
A rivalidade entre os grandes clubes do Brasil alimenta a paixão e promove
os
clássicos regionais e nacionais. Isso não pode, entretanto, estimular o surgimento
de
confrontos, violências, xingamentos e mortes. Esporte é saúde, cultura e lazer.
As rivalidades são sadias enquanto alimentam a disputa esportiva e levam atletas e torcedores a se manifestarem de forma respeitosa em relação aos clubes que defendem tanto quanto no que tange as outras equipes. A partir do momento em que deixa de existir o respeito pelo próximo em função de nossas paixões clubísticas, perdemos qualquer razão e nos deixamos levar, muitas vezes, para situações que são constrangedoras, embaraçosas e, em alguns casos, até mesmo trágicas.
As constantes agressões sofridas por torcedores, o embate entre fãs mais exaltados, as mortes ocorridas em estádios ou mesmo os xingamentos usuais devem ser abolidos do esporte. As brincadeiras existem e fazem parte de uma relação que pode ser considerada natural desde que não ocorram os excessos. Torcer a favor do futebol e do esporte em geral, seja por qual clube for, deve continuar sendo o nosso grande propósito.
Para tanto, um trabalho na escola sobre tolerância poderia ser iniciado com pesquisas acerca das origens do futebol no mundo e no Brasil, a história dos clubes e também sobre o crescimento do interesse em nosso país iniciado com as conquistas mundiais da Seleção Brasileira a partir da década de 1950.
Estádios lotados não têm sido a tônica no Brasil. O melhor futebol do
mundo
não tem grandes bilheterias apesar de possuir os maiores artistas da
bola e
espetáculos de alto nível. Como poderíamos voltar a ter grandes públicos nos estádios?
Nesse ínterim entramos numa reflexão que é fundamental para que nossos estudantes percebam o quanto qualquer agressividade ou desrespeito pode causar transtornos que são, a priori, injustificáveis. Nenhuma paixão esportiva deve superar os direitos essenciais que cada ser humano possui, especialmente sua vida, suas liberdades individuais e também sua integridade física.
Afinal de contas, o que diferencia os torcedores? A cor das camisas, os jogadores que envergam os uniformes dos times? A forma como se organizam as equipes para desenvolver o seu jogo? Os títulos e troféus conquistados?
O que queremos quando assistimos um jogo de futebol? Será que as pessoas vão aos estádios para brigar e não para torcer? Quem, entre nós, em sã consciência, vai a uma casa de espetáculos com o intuito de ser ofendido ou agredido, de xingar ou atacar a integridade de outras pessoas?
O problema das torcidas não é só uma questão brasileira. Há racismo, hooligans e, consequentemente, agressões e palavras de baixo calão em várias partes do mundo. É uma situação que se agrava em determinados países e períodos em virtude da ação desmedida e covarde de alguns poucos torcedores ou de grupamentos que se auto-intitulam torcidas organizadas e que pensam falar em nome de toda a massa que gosta desse esporte e das agremiações do futebol brasileiro.
Enquanto as torcidas estiverem preocupadas em brigar o futebol não irá
contar
com todos os torcedores que gostariam e poderiam freqüentar
os
estádios.
Os espetáculos nos estádios também acontecem em virtude
da
presença e
manifestação de milhares de apaixonados fãs do esporte. Sem
tolerância e
respeito a tendência é o público diminuir cada vez mais e o futebol empobrecer...
Não me sinto representado por nenhuma das grandes torcidas uniformizadas do clube pelo qual torço. Não dou o aval para que ninguém desses grupamentos de torcedores fale em meu nome. Acredito, sinceramente, que muitas pessoas deixam de ir ao estádio em função da violência que impera nas arquibancadas. Não tenho coragem de expor os meus familiares aos humores de uma turba destemperada por maus resultados ou por eventuais fracassos que podem acometer qualquer equipe do mundo.
O ensino da tolerância a partir do futebol pode continuar com a proposição de criação de campanhas pela paz nos estádios. Já existem iniciativas anteriores e, um exame prévio das mesmas poderia ser uma boa forma de iniciar os trabalhos. As campanhas poderiam ser desenvolvidas através da Internet para ter maior repercussão.
O surgimento de páginas da Internet, Blogs ou ainda a criação de correntes através de e-mails que divulgassem os propósitos dessa campanha seriam muito bem-vindos pelos estudantes. A vinculação de um projeto educacional a utilização de recursos da tecnologia como os computadores ou a Web tem um enorme poder de sedução e encantamento entre os alunos.
Além desse trabalho através da rede mundial de computadores, os alunos poderiam ser incitados a criar slogans publicitários, escolher fotografias (ou mesmo produzi-las), elaborar modelos diferentes de painéis e cartazes, enviar aos clubes e as federações que controlam o futebol no Brasil e, até mesmo, tentar divulgar esses nobres propósitos além das fronteiras de nosso país.
Todo esse trabalho poderia envolver a participação de professores de diferentes disciplinas. Da área de códigos e linguagens viriam as informações acerca da produção de peças de publicidade, linguagem adequada aos veículos escolhidos para a divulgação e a arte final para a produção de propagandas a serem veiculadas pela internet ou através de painéis.
Os professores de humanidades iriam resgatar a história, as influências, a linguagem coloquial do futebol, o mapa mundi e brasileiro do universo da bola e também as iniciativas e medidas efetivas em favor da paz nos estádios.
Das exatas viriam contribuições como o estudo estatístico sobre a violência nos campos de futebol, o crescimento no afluxo de público, informações sobre o perfil sócio-econômico das pessoas que freqüentam os estádios e, até mesmo, uma análise dos estádios quanto a condições de segurança.
Que tal fazer do futebol um tema que mobilize os alunos em favor do conhecimento e da tolerância? Seria um autêntico gol de placa...
1 asdasdadasd - macapá
achei muito bom!
30/06/2010 15:01:55
2 maik jonhe - macapá
ola!!
eu gostei muito desse artigo.
serviu muito para as minhas aulas,,
eu gostaria de saber se alem da ensinar tolerancia.
aos meu alunos..
eu poderia ensinar historia para eles..??
13/05/2008 09:28:43
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