O Menino Maluquinho -
Era uma vez um Menino Maluquinho
Em 1980, quando tinha 12 anos e me preparava ansiosamente no mês de Agosto para celebrar meu aniversário, fui presenteado com um dos livros que, certamente, marcaram minha vida.
Entre os que me conhecem pessoalmente e, que já tiveram a oportunidade de ver os livros acumulados nas prateleiras da minha casa ou sabem da minha graduação em história, poderia se pensar que havia ganhado “Casagrande e Senzala” de Gilberto Freyre, “O Manifesto Comunista” de Karl Marx ou ainda “A Era das Revoluções” do historiador Eric Hobsbawn.
Outros amigos, cientes de minha paixão prematura pelas artes (cinema, música, pintura, escultura,...) poderiam prever alguma biografia ou livro de referência acerca de uma escola artística.
Uma outra possibilidade, relacionada ao fato de que tinha apenas 12 anos poderia ser a leitura dos clássicos destinados a juventude (existia até, naquela época, uma coleção muito conhecida, nomeada “tesouros da juventude”), onde podíamos encontrar obras de Júlio Verne, Alexandre Dumas, Edgar Allan Poe, Conan Doyle,...
Nessa época um grande presente poderia ser um dos livros da fantástica coleção da escritora inglesa Agatha Christie, com os detetives Hercule Poirot ou Miss Marple investigando os casos mais intrigantes e cheios de enigmas que qualquer um de nós pode conhecer, como em “Assassinato no Expresso do Oriente” ou “O Caso dos Dez Negrinhos”.
Asseguro-lhes, entretanto que a jóia rara que havia recebido merece estar ao lado de todos esses grandes autores e obras. Trata-se de um livro destinado ao melhor dos mundos, ao universo das crianças. É a obra prima de um grande brasileiro chamado Ziraldo, o livro “O Menino Maluquinho”.
Capa do livro “O Menino Maluquinho” de
Ziraldo.
Consigo ainda, buscando em minha memória, lembrar da dedicatória escrita nas páginas iniciais do livro por uma de minhas melhores amigas de escola em que ela dizia que eu devia preservar dentro de mim, por toda a minha vida, o menino maluquinho que ela percebia a partir de nossa amizade. Carrego por toda a vida essa mensagem, vi nela uma sinceridade grandiosa e percebi que se tratava de uma orientação valiosa.
Iniciei rapidamente a leitura do livro. Devorei-lhe as páginas com enorme rapidez. Li e reli diversas vezes. Mantenho a cópia do jeito que a recebi entre os muitos livros que servem de referência para a minha vida profissional e pessoal. Jamais esqueci suas lições.
Que lições?
- Que carinho de mãe e de pai é inigualável e para sempre.
- Que a casa da avó e do avô é recanto sagrado, onde reside toda a paz do mundo e, com certeza, a melhor comida do planeta.
- Que as amizades devem ser preservadas e guardadas com o máximo de cuidado que possamos ter. São de inestimável valor.
- Que criança tem que brincar, correr, subir em árvore, jogar futebol, andar de bicicleta (ou de carrinho de rolemã),...
- Que querer abraçar o mundo e salvar o planeta de todos os vilões que existem por aqui são tarefas que todas as crianças se atribuem. Que seus sonhos devem ser cultivados e nunca desestimulados.
- Que a escola faz parte da vida de toda a criança. É onde se ensina e se aprende. É onde se fazem amigos e se namora. É onde encontramos os professores e crescemos.- Que as crianças não podem ficar trancadas dentro de casa, presas na televisão ou no video-game. Tem que empinar pipa e jogar pião. Tem que brincar de pega-pega, amarelinha ou esconde-esconde.
- Que quando gostamos de alguém temos que cuidar muito bem dessa pessoa. Fazer carinho, companhia, ser solidário em momentos difíceis e sorrir muito, dividir as alegrias.
- Que quando somos crianças nos machucamos várias vezes e, algum tempo depois, já estamos prontos pra outra...
- Que criança também tem segredos e momentos de tristeza. E que devemos respeitar seu silêncio e seus (raros) momentos de isolamento.
- Que nenhum de nós deve, nunca, esquecer que um dia fomos crianças. E que na infância, por mais que tenhamos momentos de tristeza, prevalecem as alegrias.
Fecho esse relato me lembrando da partida de futebol que encerra a narrativa do livro. Eu também fui goleiro dos times das ruas em que morei por ser um dos menores do grupo. Me esfolava todo para não deixar a bola entrar. Pulava de um lado para o outro. Voava no ar em busca da defesa fantástica. Voltava pra casa com o joelho machucado ou com as canelas roxas. Em algumas oportunidades fui o herói do jogo, em outras, o vilão que havia tomado um gol bobo. Em todas elas fui, um pouco, o menino maluquinho de Ziraldo...
Links
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http://ziraldo.com/menino/home.htm
- http://www.planetaeducacao.com.br/cinema/menino_maluquinho.asp
1 yasmim - nova iguaçu
eu acho q vc s deveriam postar + imagens feitas pelo ziraldo!
16/07/2008 12:05:33
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