Sonhos de Einstein - 09/06/2005
Quando a ciência e a filosofia dialogam
“É impossível caminhar por uma avenida, conversar com um amigo, entrar em um edifício, relaxar sob os arcos de arenito de uma velha arcada, sem ver um instrumento de medição do tempo. O tempo é visível em todos os lugares. Torres de relógio, relógios de pulso, sinos de igrejas dividem os anos em meses, os meses em dias, os dias em horas, as horas em segundos, cada incremento de tempo marchando atrás de outro em perfeita sucessão. E, além de qualquer relógio específico, uma vasta plataforma de tempo, que se estende por todo o universo, estabelece a lei do tempo igualmente para todos. Neste mundo, um segundo é um segundo é um segundo. O tempo avança com exuberante regularidade, com exatamente a mesma velocidade em todos os cantos do espaço. O tempo é soberano infinito. O tempo é absoluto”.
Estamos em 1905. O jovem Albert, um recém-formado estudante, trabalha dentro de uma rotina simples, sem grandes auspícios, como funcionário de 3ª graduação num escritório de patentes. Seu cotidiano de trabalho não prevê grandes tarefas e, por isso mesmo, sempre sobra tempo para ler, estudar e pensar muito a respeito de assuntos que são realmente relevantes para ele.
Mas, que assuntos são esses? Será que Albert reflete a respeito do futuro e de suas perspectivas profissionais? Ou serão as contas que motivam o funcionário público a ficar pensativo? Dificuldades de relacionamento com a esposa? Assuntos corriqueiros como discussões com o patrão ou compromissos sociais do final de semana?
Não, não é nada disso. Albert fica por longas horas pensando e repensando o tempo. Conceitos, teorias, idéias e proposições de outros homens que se aventuraram por esse tema já foram estudados e constituem um arcabouço de referências que estimulam ainda mais o jovem físico em suas análises. Nada, no entanto, lhe parece definitivo e capaz de responder aos seus anseios e enormes dúvidas.
“Neste mundo, existem dois tempos. Existe o tempo mecânico e o tempo corporal. O primeiro é tão rígido e metálico quanto um imenso pêndulo de ferro que balança para lá e para cá, para lá e para cá, para lá e para cá. O segundo se contorce e remexe como uma anchova na baía. O primeiro não se desvia, é predeterminado. O segundo toma as decisões à medida que avança”.
O Albert a respeito do qual nos referimos é, ninguém menos que Einstein, um dos mais celebrados cientistas da humanidade. Ainda em seus anos de anonimato, quando podia andar pelas ruas das cidades onde morou sem ser notado ou perturbado por ninguém. Era um homem um tanto quanto quieto e discreto, difícil de ser percebido, que se deslocava de sua casa para o trabalho e que raramente se desviava de seu caminho.
Tinha poucos amigos, entre os quais se destacava Michele Besso, pela presença e companhia freqüente. Homem de grande capacidade intelectual, Besso conseguia acompanhar o raciocínio de seu amigo e participava de suas elucubrações. Eram mais regulares as conversas entre os dois amigos que qualquer comunicação entre Einstein e seus colegas de trabalho ou mesmo sua esposa.
As facilidades provenientes do emprego que possuía garantiam ao físico alemão em sua estadia na Suíça o tempo necessário para produzir idéias próprias que iriam surpreender o mundo científico num curtíssimo espaço de tempo. A teoria da relatividade estava surgindo naqueles dias de paz e alguns meses adiante a figura impar de Albert Einstein deixaria para trás o anonimato para que seu dono se tornasse um dos homens mais conhecidos do mundo, apesar de atuar numa área de produção intelectual que poucos homens conseguem compreender razoavelmente...
“Neste mundo, o tempo é como um curso de água, ocasionalmente desviado por algum detrito, por uma brisa que passa. De vez em quando, algum distúrbio cósmico fará com que um riacho de tempo se afaste do leito principal para encontrá-lo rio acima. Quando isso acontece, pássaros, terra, pessoas apanhadas no braço que se desviou são repentinamente transportadas para o passado”.
“Sonhos de Einstein”, livro de Alan Lightman, professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT), formado pela prestigiada Universidade de Princeton e pelo Califórnia Institute of Technology, nos coloca em contato através de sua obra de ficção com os caminhos intelectuais que podem ter sido percorridos pelo genial físico alemão.
Um livro de física que discorre sobre um assunto difícil como o tempo, a partir da ótica de um dos maiores cientistas de todos os tempos que é, destaque-se, uma leitura envolvente, inteligente e extremamente agradável. Até mesmo para pessoas que, como eu, possuem dificuldades para entender a Física e os principais conceitos dessa ciência, “Sonhos de Einstein” é prazer inenarrável do começo ao fim.
Lightman impõe um ritmo cadenciado, que estimula a reflexão e apresenta a física a partir de um viés filosófico. Mais do que isso, torna assuntos que normalmente seriam rejeitados por qualquer pessoa que se interesse por cultura e leitura em material que encanta, seduz e promove reflexão. Em nenhum momento o tempo foi tão bem trabalhado e discutido quanto nas páginas desse pequeno e charmoso livro editado no Brasil pela Companhia das Letras.
A narrativa se desenvolve como uma série de reflexões que estariam sendo arquitetadas na cabeça de Einstein sempre tendo o tempo como objeto de análise e reflexão. Cada uma das idéias aparece num diário que estaria sendo escrito pelo físico que contava, então com 26 anos e vivia em Berna, na Suíça. Esse precioso documento gestado a partir das teorias que passavam pela cabeça de Albert Einstein começa justamente no ano de 1905 e no mês de Abril.
“Considere um mundo em que a relação entre causa e efeito é irregular. Às vezes a primeira antecede o segundo, às vezes o segundo antecede o primeiro. Ou talvez a causa seja sempre no passado e o efeito para sempre no futuro, mas passado e futuro estão entrelaçados”.
Nada poderia ser mais fortuito que rever essa obra de Lightman em virtude do centenário do surgimento da teoria da relatividade. Ainda mais a partir da forma como essa idéia vai sendo gerada ao longo das páginas do livro, aos poucos, num belo embate de possibilidades quanto a proposição sobre o tempo que Einstein estaria concebendo.
Ao pensar no tempo cíclico ou no tempo mecânico, na expressão corporal que somos capazes de impor as nossas relações com o tempo ou ainda na própria possibilidade da inexistência do tempo, Lightman demonstra que o caminho para a elaboração de uma idéia sempre passa pelo exame filosófico e não apenas experimental, mensurável, mecânico. A própria história de vida de Albert Einstein e de outros cientistas notáveis já nos coloca nessa trilha ao nos fazer perceber que as condições técnicas para averiguar essas fantásticas teorias surgiram, em muitos casos, apenas anos depois de formuladas as teses originais.
É a ciência que causa espanto e que surpreende, que explica e fascina a humanidade o motivo maior para ler “Sonhos de Einstein” e para se encantar com as possibilidades de leitura dos fenômenos a partir dos diferentes olhares, contextos e locações onde se estabelecem os homens. A cabeça genial de um homem fora de série como Einstein é apenas um privilegiado lócus onde esses raciocínios e pensamentos poderiam estar se desenvolvendo. Não perca tempo, comece a ler “Sonhos de Einstein” o mais rápido possível e se insira no fantástico mundo da ciência...
1 Diego Soares da paz - Sao Paulo
Peguei esse livro onten na faculdade e nao demorei mais do q 5 hora pra lelo todo, so posso dizer uma coisa, e um dos livros mais surpreendentes que eu ja li.
21/05/2009 13:13:41
2 Marcela Silva - São Paulo
Esse livro é sem dúvida o melhor que já li.
Estou fascinada.
12/01/2009 09:37:53
3 JOSÉ DO CARMO - SÃO PAULO
NUNCA ME INTERESSEI PELO CAMPO DE FÍSICA, MAS DEPOIS QUE LI POR ACASO NA INTERNET SOBRE A TEORIA DA RELATIVIDADE, PRINCIPALMENTE, SENTI UMA NECESSIDADE ENORME DE CONHECER MAIS SOBRE O MUNDO DESSE MARAVILHOSO GÊNIO QUE É ALBERT EINSTEIN, E ME SENTI FASCINADO COM O QUE PUDE CONTEMPLAR.
"JC"
11/03/2008 13:31:52
Os conceitos e opiniões emitidos em artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores.