O Roda Viva, programa da TV Cultura, abriu um espaço importante e diferenciado
para a discussão dos grandes temas nacionais a partir de entrevistas com
expoentes de vários setores conduzidas por jornalistas conceituados.

Sempre considerei a TV Cultura um bastião da qualidade em termos de programação televisiva. O tempo tem feito dessa consideração uma realidade. Prêmios e mais prêmios são anualmente conquistados pela rede de televisão da Fundação Padre Anchieta. E olhem que as verbas têm se tornado cada vez mais mirradas a cada novo ciclo de trabalho que se inicia... Apesar disso, as produções infantis, culturais, musicais e jornalísticas ganharam espaço no cenário nacional e também internacional.

Entre essas festejadas realizações da TV Cultura, um dos grandes destaques, presente na programação regular desse canal de televisão há tantos anos, é o jornalístico Roda Viva. Programa de entrevistas organizado de forma singular dentro do contexto brasileiro, celebrizou-se por conseguir trazer para suas entrevistas alguns dos maiores expoentes das artes, esportes, política, literatura, educação,...

Sua grande peculiaridade surge da criação de um ambiente em que os entrevistadores (isso mesmo, no plural) ficam sentados ao redor do entrevistado, alternando-se na formulação de questões relativas ao tema em que o convidado da semana possui especialização e conhecimento. Para criar um clima ainda mais interessante para o desenvolvimento desse trabalho, há um desnível entre os locais destinados aos convidados e aos jornalistas que estão realizando a entrevista, cabendo aos inquisidores uma posição mais elevada em relação ao destinatário de suas dúvidas.

A utilização de alguns jornalistas para participar desse autêntico bombardeio de questões sobre os entrevistados é proposital e tem como objetivo permitir que surjam diferentes pontos de vista e opiniões, argumentos e idéias sendo discutidos. Uma das prerrogativas do programa estabelece que esses representantes da imprensa sejam oriundos de diferentes órgãos ou veículos de informação e que tenham atuação destacada na área específica de formação e trabalho da pessoa que está sendo entrevistada.

O propósito com práticas como as que foram descritas é a criação de uma esfera de discussões de altíssimo nível, onde as celebridades que estão sendo questionadas sejam estimuladas a falar o máximo que puderem acerca dos assuntos que estão em pauta. Todo esse cuidado faz com que o programa seja, muitas vezes, explosivo e tenha declarações de grande impacto e repercussão.

A aprendizagem das técnicas de entrevista pode ser muito útil a estudantes de qualquer
área do conhecimento. A pesquisa é muitas vezes referendada pela prática dessa ação,
que lega ao entrevistador informações novas que podem dar maior relevância ao seu trabalho.

Pensando em todas as possibilidades existentes no trabalho jornalístico do Roda Viva, pensei em adaptar esse programa da televisão para utilização em sala de aula. Para tanto, fiquei imaginando que existem algumas possibilidades bem interessantes, por exemplo:

1- Criar pontos de encontro entre as várias disciplinas da escola (história, matemática, inglês, biologia,...), estimulando a prática interdisciplinar, a partir da criação de entrevistas que viessem a ser feitas com os outros professores das escolas onde estamos atuando.

2- Centralizar nossas atenções a um determinado tópico de nossas matérias, sejam elas quais forem, estimulando os alunos a estudarem profundamente esse assunto. Para tanto, sugerir a leitura de textos paradidáticos, jornais, revistas e também um estudo atento dos materiais didáticos utilizados na escola. Promover pesquisas na internet ou ainda propor que alguns filmes sejam vistos pelos alunos. Com base em todo esse material pesquisado, montar uma entrevista no esquema do Roda Viva em que os estudantes sejam os especialistas que irão realizar a entrevista e você, o professor titular da matéria, a “celebridade” a ser entrevistada.

3- Trazer pessoas da comunidade para realizar as entrevistas no esquema da Roda Viva. Médicos, advogados, políticos, feirantes, comerciantes, bancários, sindicalistas e tantas outras pessoas poderiam ser convidadas. Para tanto seriam necessários estudos prévios acerca do tema a ser discutido com a pessoa convidada e também, apresentada a esse profissional a forma como a entrevista seria conduzida.

Fotografar e gravar a execução de projetos como o Roda Viva é essencial para a
preservação da memória desse tipo de projeto tanto para a escola quanto
para que essas práticas possam ser socializadas com outros educadores.

Em todas as situações descritas anteriormente é importante que seja feito, como dissemos, toda uma preparação prévia. Isso inclui, além dos levantamentos a respeito dos temas que serão discutidos, a apresentação dos programas do Roda Viva aos estudantes para que eles tenham pleno conhecimento de como é o esquema de funcionamento desse jornalístico da TV Cultura. Conhecer o programa é essencial inclusive para a criação de ambientes que simulem a formatação e os arranjos do Roda Viva na estrutura escolar (é lógico que levando-se em conta as limitações que existem nas escolas, sejam elas particulares ou públicas).

Já utilizei uma das possibilidades acima mencionadas com bons resultados em uma escola técnica em que lecionei em Caçapava, no estado de São Paulo. Para tanto, baseamos nossas pesquisas acerca de um determinado tema, pautando nosso conhecimento não apenas na bibliografia especializada, mas especialmente em notícias publicadas pela mídia impressa (jornais como “O Estado de São Paulo” ou a “Folha” e revistas como “Veja”, “Época” ou “Isto é”, além da “Superinteressante”). Fizemos também, levantamento de dados com professores de outras disciplinas, como geografia e literatura, para aprofundar as discussões.

Estipulamos que as informações deveriam ser utilizadas para a formulação de questões que seriam utilizadas num debate formatado tal qual o programa Roda Viva da TV Cultura. Assistimos ao programa para saber como funcionava seu expediente, definimos um prazo para que eles organizassem suas sabatinas e ficou acordado que o entrevistado seria um especialista no assunto em estudos, portanto, o professor daquela matéria...

O fato de ser o entrevistado fazia do momento uma oportunidade única para que os estudantes pudessem tentar me colocar em situação desfavorável no debate. Tendo estudado com afinco o assunto, eles passaram a imaginar que esse seria o cenário mais provável, e tentaram aproveitar a oportunidade, portanto os professores devem estar preparados para tentativas de desestabilização em situações como essas.

Vale lembrar que essa desestabilização é também fortuita e importante para o crescimento de todo e qualquer profissional. A estabilidade é a meta, mas quando nos acomodamos na mesma, tendemos a não buscar novos desafios e repousar nos louros da glória. Nossa profissão não dá margens a estática, ela é dinâmica e, principalmente os educadores devem estar atentos a isso, se atualizando constantemente.

Voltando a nossa atividade, me lembro que a realização da atividade foi extremamente lúdica, ou seja, prazerosa e divertida. Aprendemos com toda a pesquisa e nos divertimos executando o Roda Viva. Muitas perguntas foram feitas, os estudantes até mesmo se vestiram de forma parecida com os jornalistas, a sala foi preparada numa formatação assemelhada a do programa de televisão. Foi muito válida a experiência. Teria muito prazer em realizá-la novamente.

Obs.: Como finalização dos trabalhos, aconselharia que os professores pedissem relatos de toda a produção e pesquisa e também a respeito do trabalho em sala de aula durante a execução do Roda Viva. Outra idéia interessante seria a gravação em áudio ou vídeo das entrevistas e que tudo pudesse ser fotografado.