A Semana - Opiniões
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

É Natal... - 21/12/2004
E o que ensinamos as crianças sobre isso?

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A verdadeira mensagem de Natal foi traduzida na existência de Cristo
através do amor, da bondade, da caridade, da solidariedade e da paz.

Lojas lotadas. Shopping Centers onde as pessoas mal conseguem andar. Ruas de comércio popular em que as vendas superam os recordes dos anos anteriores. Economia aquecida por um saudável crescimento de quase 5% e pela queda dos índices de desemprego. Mais dinheiro no bolso em virtude do 13º salário. Comerciantes e consumidores em comunhão no sentido mais evidente do Natal, o consumismo...

Ceias fartas, mesa cheia com todas as guloseimas próprias dessa época do ano. Peru assado, farofa, tender, lombo, salpicão, bacalhau, maioneses, saladas, nozes, castanhas, panetones, rabanadas e tantos outros pratos se tornaram verdadeiras tradições na mesa de muitas e muitas famílias de brasileiros. E aqueles que não tem o que comer?

E a publicidade na televisão? Bonecas que falam ou que comem, carrinhos controlados por controle remoto, novos modelos de autoramas, videogames com fantásticos efeitos, ursos de pelúcia, bolas dos mais variados esportes, roupas de grife, tênis importados,... Tudo ali, diante dos olhos de nossas meninas e meninos, criando ilusões e estimulando a necessidade cada vez maior de comprar, comprar e comprar...

Mas, será que é esse o espírito de Natal que queremos que nossas crianças e adolescentes conheçam? Por que será que nos envolvemos nessa agitação febril que toma conta de nosso país (entre outros) e nos lançamos ferozmente as compras? Quantas crianças sabem ao certo o que significa essa data que celebramos com a entrega de presentes e com a organização de uma grande ceia? Que sentimentos estamos alimentando em relação aos motivos que nos levam a comemorar o nascimento de Jesus Cristo?

Árvore-de-natal
Árvores e presentes para todos devem ser mais do que propostas,
muito mais que sonhos, realizações de um futuro não muito distante.

Não há demérito algum em comprar presentes para as crianças ou para amigos e parentes. Não se sintam culpados por gastar o dinheiro que ganharam ao longo do ano com muito suor para dar um brinquedo ou uma roupa a pessoas pelas quais tenham carinho e afeição. A questão não é essa. Não estamos condenando uma prática que é repetida a milhares de anos, não apenas dentro de celebrações cristãs, mas também em outras religiões e mesmo fora do âmbito meramente espiritual.

Além do que, vale ressaltar, que a recuperação econômica do nosso país, depois de anos e anos de dificuldades, crises, recessões e “períodos de vacas magras” nos estimula a aproveitar o momento. As compras são importantes porque, também, movimentam o comércio, aquecem a indústria, aumentam as vendas dos agricultores e pecuaristas, num intenso e saudável crescimento econômico, dentro e fora de nosso país. Só por isso já se justificaria a continuidade das compras nessa (ou em qualquer outra) época do ano...

Se o problema não é comprar, qual é a dificuldade?

Temos que relembrar, a todo o momento, que a festa de Natal está relacionada ao nascimento do menino Jesus. Na prática, significa restabelecer um elo de ligação entre o nosso mundo, as nossas crenças, a nossa filosofia e ética as idéias e pregações de Cristo e de seus apóstolos, bases que sedimentam a civilização ocidental e garantem a sua sobrevivência.

Natal é, verdadeiramente, tempo de paz e de amor. Época do ano em que devemos ir além daquilo que realizamos durante os outros meses em termos de solidariedade pelo próximo. Temos que fazer mais, doar mais do nosso tempo, prestar mais auxílio a quem necessita, atender com mais presteza aqueles que não tem a mesma sorte e oportunidades que tivemos em nossas vidas.

Brinde-ao-natal
Reúna seus parentes e amigos. Celebre o Natal com as pessoas
que você ama e respeita. Peça perdão pelos erros e desentendimentos.
O nascimento de Cristo é época de comunhão e entendimento.

“Estender a mão” não é apenas uma metáfora. “Dar a quem tem fome” não é somente um refrão. Ajudar aos pobres e oprimidos não deve ser visto apenas como mais uma frase bonita que compõem os evangelhos e os ensinamentos de Cristo.

Temos que viver esses exemplos. Ir a asilos e casas que dão apoio a crianças órfãs. Disponibilizar tempo para visitar pessoas doentes que precisam de apoio e solidariedade. Rever os amigos e parentes para celebrar a amizade, o respeito e o amor que sentimos uns pelos outros. Enterrar as desavenças e os desentendimentos em favor da tolerância e da união. É o período do ano mais adequado para lavar a alma, levantar a poeira e dar a volta por cima. É tempo de recomeçar!

Nos últimos anos, para ser mais preciso na última década e meia, tem surgido de forma espontânea no Brasil uma série de grupos estruturados a partir da sociedade civil, que se prontificaram a ajudar de forma concreta aos setores menos favorecidos de suas comunidades. São pessoas que se organizaram para coletar alimentos e distribuir cestas básicas, conseguir e doar brinquedos, providenciar abrigo e roupas, dar atenção e distribuir bondade. Não querem apenas dar algo material, pretendem alimentar o espírito de Natal a partir de ações em que não pedem nada em troca.

Para os que ficaram preocupados com a questão da caprichada refeição da noite de Natal, vale lembrar que a comida, nesse caso, é um grande pretexto para unir, numa mesma mesa, parentes e amigos. Essa prática remonta a própria idéia da Santa Ceia, em que Jesus se reuniu com seus apóstolos.

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Presenteie com amor e alegria. Perceba que o Natal é uma época de compreensão,
paz e união. Estimule a solidariedade. Veja em todos os símbolos do Natal
(como no caso do Papai Noel) a oportunidade de realizar as mensagens de Jesus Cristo.

A correria do dia a dia, os afazeres profissionais e domésticos, as preocupações com contas a pagar, compromissos dos filhos e tantas responsabilidades nos tiram, ao longo do ano, a possibilidade de ter esse momento de desfrutar da companhia de nossos pais, avós, tios, sobrinhos, irmãos e amigos. Isso não justifica nossos exageros à mesa, pelo contrário, não devemos nos esquecer que o dia seguinte pode ser marcado por indisposições ou mesmo dores de barriga. Devemos comer sim, satisfazendo nossas necessidades e desejos, mas sem ultrapassar os limites naturais de nossos corpos...

Vale relembrar que, felizmente há um grande contingente de pessoas mobilizadas articulando a realização de refeições coletivas para ajudar as pessoas mais carentes. Existem tantas outras atuando em favor da coleta e entrega de cestas básicas. E você, o que tem feito a esse respeito? Tem ajudado com doações de alimentos? Tem participado de mutirões? Doou dinheiro para que essas festas comunitárias pudessem ser realizadas?

O espírito de Natal pede maior participação e atuação no âmbito social. Não é só uma questão de imagem perante a sociedade. O mais importante é se sentir bem. Saber que de alguma forma, você pôde ajudar alguém que realmente precisava do seu auxílio. Fazer o bem faz muito bem para quem é ajudado e, também, para quem realizou a boa ação. O Natal, data do nascimento de Jesus Cristo, é ocasião perfeita para nos lembrarmos disso e realizarmos isso na prática...

Obs. A propósito, destaco nesse editorial as ações positivas que devemos desempenhar em especial nessa época do ano, mas gostaria de lembrar que essa disposição deve permanecer ao longo de todos os outros meses, para que possamos fazer um amanhã melhor, mais justo e digno para muitas e muitas pessoas.

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