Gratidão e Saudade - 13/12/2004
Está na hora de dizer adeus...
Devemos aprender a agradecer por tudo aquilo que recebemos ao longo de nossas vidas. Não temos esse costume, não realizamos essa prática com a freqüência que se espera. Muitas vezes deixamos de dizer as pessoas palavras de agradecimento que podem significar muito para nossos interlocutores.
Vocês já pararam para pensar, por exemplo, que raramente alguém agradece pelas oportunidades de trabalho que recebe ao longo de sua vida.
Alguns podem dizer que essas oportunidades se constituem em relações trabalhistas, referendadas por acordos, respaldadas pelas leis que regem acordos entre empregadores e seus funcionários e que a melhor forma de agradecer numa situação como essa seria trabalhando com o máximo empenho (o trabalhador) e remunerando da forma mais satisfatória e justa (o patrão).
Outros, por sua vez, podem argumentar que além de ser uma relação respaldada em negócios, que objetivam produtividade e lucratividade, situações trabalhistas despertam uma certa animosidade entre patrões e empregados já que nenhum dos lados se considera totalmente satisfeito nesse encontro. Para os patrões sempre falta mais empenho por parte de seus funcionários; para os trabalhadores as condições gerais de realização de suas funções jamais chegam perto daquilo que se demanda ou exige.
Educar para a compreensão e a tolerância entre os povos e as pessoas.
Mas temos de convir que sempre, em qualquer instância, nível, localidade, tipo de trabalho ou função desempenhada, dependemos uns dos outros. Empreendedores necessitam de trabalhadores para realizar seus investimentos, proletários precisam das oportunidades de trabalho para garantia de seu sustento e também de suas famílias.
Não vamos aprofundar o que já foi (e continua sendo) discutido com maestria pelos maiores economistas de todos os tempos, o choque de interesses entre patrões e empregados. Voltemos aos temas centrais desse editorial, a gratidão e a saudade.
O nosso assunto específico refere-se ao fato de que raramente agradecemos pelas oportunidades de trabalho que nos são dadas. Mesmo aquelas que nos parecem verdadeiros martírios...
E por que devemos agradecer?
Comecei a trabalhar quando tinha ainda 16 anos. Minhas primeiras oportunidades foram no comércio, nos negócios da família. Tinha muita vontade de poder desfrutar do tempo dedicado ao trabalho para jogar bola, encontrar os amigos, ir ao cinema ou tantas outras coisas gostosas que fazemos quando somos adolescentes...
Hoje sou obrigado a reconhecer que adquiri nesses primeiros compromissos a responsabilidade de cumprir com os deveres programados, a maturidade de responder em nome do interesse de outras pessoas (empregador, funcionários, clientes) e a capacidade de me relacionar melhor com os outros.
Continuar estudando para se aperfeiçoar profissionalmente.
Agradeço publicamente aos meus primeiros empregadores, que me confiaram funções de importância dentro do contexto onde trabalhava e sempre acreditaram no meu potencial. Investiram no meu futuro e permitiram que eu me tornasse uma pessoa mais compenetrada, simpática e comunicativa.
Em educação, meu primeiro compromisso a longo prazo foi estabelecido com o Colégio Cecília Caçapava Conde, localizado na cidade paulista de Caçapava. Posso dizer que essa relação foi fundamental para que eu pudesse me estabelecer como educador, criar bases para o meu trabalho em educação, fundamentar minha prática e definir alguns parâmetros profissionais.
Para melhor ilustrar o que estou dizendo, irei enumerar alguns ganhos obtidos a partir dessa experiência:
- Quando comecei a dar aulas ainda pensava que lecionar era uma atividade onde o essencial eram as aulas expositivas, aquelas em que prevalecem o giz, a lousa e a oratória dos professores. Com o passar dos anos e o aperfeiçoamento através dos estudos, pude fazer das salas de aula do Colégio um espaço onde utilizávamos muitas estratégias, realizávamos práticas as mais diversas possíveis, crescíamos para a constituição de uma forma de pensar construtivista. Concluo que, ao mesmo tempo em que ajudava meus alunos a construírem seu conhecimento em nossos encontros, estava criando os alicerces que sustentam a minha visão pessoal de educação...
- Aprendi pela observação e pela prática que a melhor forma de se relacionar com as pessoas, sejam quem forem, dos alunos aos diretores, da faxineira aos pais dos estudantes, é aquela onde prevalece o respeito, a consideração e a estima. Valorize o esforço alheio, incentive as pessoas a superarem suas dificuldades, sempre cumprimentem os demais, tenham fé no poder de superação, sejam sinceros nas relações que estabelecem...
Respeito, amizade, sinceridade e admiração: Ingredientes básicos para uma educação plena.
- Educação não é simplesmente um negócio, com o qual se pode ganhar um bom dinheiro. Todos os professores com os quais converso que ingressaram no Colégio se dizem surpresos ao perceberem que, por mais que se trate de uma escola particular, o principal enfoque das mantenedoras é a educação e não a lucratividade. Os dividendos de qualquer negócio são decorrentes da qualidade, da especialização, do esforço contínuo pela realização do melhor possível pelo cliente. A educação está em primeiro lugar!
- As escolas têm que ter um compromisso com a beleza, a estética, a plasticidade. Investir em aulas de arte, teatro, música. E não apenas isso! Deve existir, por parte das escolas, comprometimento com a beleza nos ambientes das próprias instituições. Pregar em favor da beleza e não realizá-la significa contradição entre princípio e prática. Salas pintadas artisticamente, limpas regularmente, laboratórios equipados, banheiros higienizados, móveis mantidos em perfeitas condições, ambientes arejados e amplos são exemplos do compromisso do Colégio dos quais me lembrarei sempre...
- Respeito pelas diferenças. É uma das diretrizes principais para qualquer escola. Foi uma das lições mais importantes e é um dos norteadores da ação profissional que mais regularmente emprego. Não devemos deixar que as opções ou condições religiosas, sexuais, raciais, étnicas, físicas, políticas, sociais ou econômicas influenciem as nossas relações e nos levem a considerar ou desconsiderar outras pessoas. A tolerância é um dos pilares da atuação dos educadores e essa é uma das práticas regulares do Colégio.
- Disposição para estudar e se aperfeiçoar é uma das práticas mais regulares entre os profissionais que atuam no Colégio. Há professores, coordenadores e mesmo os funcionários do setor administrativo que estão estudando, fazendo cursos de aperfeiçoamento, participando de palestras ou seminários, indo a congressos. E o melhor de tudo é que existe a preocupação de partilhar os conhecimentos com os demais. Isso acontece, por exemplo, nos grupos de estudo que reúnem os professores dos diferentes níveis.
- Dos alunos só posso dizer que aprendi muito:- de irreverência e bom humor a disposição e maturidade. Tive a oportunidade de conviver com jovens que hoje fazem sucesso como advogados, médicos, dentistas, arquitetos, professores, engenheiros,... Não me lembro de nenhum incidente que pudesse macular nossa relação profissional ou pessoal. Recordo-me de todos os rostos e pessoas, de situações engraçadas ou de vitórias incríveis obtidas por cada um de vocês... Um grande abraço a todos estudantes com os quais convivi nesses anos de Cecília Caçapava e que suas histórias continuem a registrar as conquistas que vocês tem obtido!
É por essas e por outras práticas e conhecimentos que pude adquirir ao longo de mais de doze anos de convivência com os colegas de Cecília Caçapava que devo lhes dizer, com sinceridade e respeito, muito obrigado!
Sentirei saudades e continuarei na torcida pelo sucesso de todos vocês!
1 natalia araujo - sao paulo
adorei a pesquisa,ela foi muito importante para os meus estudos e contribuiu para tirar um dez.obrigado por se dedicarem tanto para fazer uma pesquisa de auto nivel como esta!!!!!!!!!!!
10/11/2008 18:21:57
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