Cinema na Educação
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Bullying (EUA, 2012) - 30/05/2018
João Luís de Almeida Machado

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agressão, física ou psicológica

Quando uma criança, adolescente ou jovem sofre qualquer tipo de agressão, física ou psicológica, por conta de motivos fúteis, como sua aparência física, opção sexual, cor da pele, orientação religiosa ou comportamento diferenciado, padece toda a sociedade a demonstrar o quanto está doente, infectada pelo vírus da intolerância, da incompreensão e do preconceito.

Se um menino, no frescor de seus 12 anos é humilhado frequentemente por seus pares, agredido e isolado, vítima de ações discriminatórias que o obrigam a se alimentar sozinho e em silêncio num imenso refeitório em que algumas centenas de crianças e adolescentes se abrigam diariamente para aprender, ou seja, no interior de uma escola, é mais do que um sinal de enfermidade social grave.

Ao escutar o relato de uma família sobre o suicídio de um adolescente de 16 anos, considerado por seus pares na escola e na comunidade como sendo esquisito, relegado a uma condição de pária social em espaços nos quais deveria ser acolhido e inserido, como a escola e o bairro em que vive, mais que simplesmente se emocionar ou se sensibilizar com o ocorrido, é preciso agir, demonstrar a violência implícita e explícita, denunciar os agressores, tomar providências para que tragédias como esta não se repitam.

Estas e outras narrativas compõem o documentário "Bullying", do diretor norte-americano Lee Hirsch, produzido em 2011, que demonstra o quão nocivo é este comportamento de violência e agressividade contra aqueles que são considerados diferentes.

A diferença semeia entre os "bullies" o ódio e gera ações que nocauteiam psicológica e fisicamente as vítimas, seus familiares e os poucos amigos que normalmente estas crianças e adolescentes conseguem fazer ao longo de suas vidas.

E o pior de tudo é inoperância social ou, ainda, a cegueira proposital ou não, de educadores, adultos, políticos, religiosos, autoridades e todos aqueles que precisariam intervir para evitar as violências cometidas pelos "bullies".

O documentário - como produção cultural que têm uma clara proposta de socialmente intervir na realidade, demonstrando por casos reais, pela concretude da morte de um adolescente e das situações evidentes de exclusão e agressão a que são submetidos os outros que protagonizam a narrativa - é de grande valor e precisa ser conhecido e trabalhado nas escolas para que tais atitudes sejam combatidas com o diálogo, a orientação, o ensinamento, a pregação de ações relacionadas a tolerância e ao respeito.

Somos todos iguais e ao mesmo tempo diferentes. Nossa grande riqueza reside justamente na diversidade que apresentamos, pelo fato de sermos únicos, inigualáveis e porque, certamente, a união de nossos esforços, talentos, qualidades e possibilidades é o que pode nos conduzir a uma existência mais plena, justa, equilibrada e próspera.

Alimentar o ódio, o desrespeito, a violência, as perseguições de qualquer natureza, o preconceito e qualquer tipo de discriminação têm levado a humanidade as piores experiências registradas em sua história. A perseguição a minorias, por suas preferências religiosas, por suas escolhas políticas, por sua cultura ou etnia, como no caso do holocausto, do apartheid ou das guerras religiosas que mobilizam países e povos em diferentes regiões do planeta levam a humanidade a genocídios horrendos, atrozes e trágicos.

O bullying, por sua vez, na surdina, silencioso, pelos cantos das cidades, nas esquinas e praças de bairros estabelecidos, invisíveis ou não aos olhos dos adultos, consentidos ou admitidos como têm sido, ferem e matam em menor escala que as guerras promovidas pela intolerância, mas como estes grandes conflitos, ocasionam cicatrizes sociais profundas que têm sido perenes, a penetrar na carne de quem sofre as violências e, principalmente, em suas mentes e corações, a atordoar-lhes o presente e o futuro. Se localmente são alguns casos, os cálculos dos especialistas indicam que, somente em 2012, nos Estados Unidos, totalizariam mais de 13 milhões de agressões...

Se uma ou duas crianças ou adolescentes são vítimas de bullying em sua comunidade ou escola e você sabe disso, apesar de não participar diretamente da ação, é preciso que se sinta cumplice por não denunciar ou tomar as devidas providências para combater esta atrocidade. Precisamos pensar e agir desta forma para que tal situação não perdure, para que seja interrompida e, finalmente, extirpada do contexto social.

"Bullying", o documentário, é um alerta apenas, pois antes, durante e depois das filmagens casos semelhantes continuaram a acontecer. A crueldade e a vileza dos agressores, indiferentes ao filme ou a qualquer crítica a seus comportamentos e ações, no bullying ou no cyberbullying, continuou célere e permanece, infelizmente.

Diferentemente da série "13 Reasons Why", de enorme repercussão e sucesso, produzida e distribuída mundialmente pela Netflix, com 2 temporadas já gravadas e disponibilizadas, que aborda também o tema do bullying, as histórias narradas no documentário de Hirsch são dramas da vida real, que causaram dor e sofrimento aos meninos e meninas retratados e as suas famílias, a demonstrar que a realidade tem diariamente, para a infelicidade geral, casos semelhantes aos que são narrados no seriado e que, em relação ao universo fictício, as cicatrizes são ainda mais profundas e vieram para ficar para quem sofreu tais agressões.

Cabe à sociedade, esclarecida e consciente dos males deste sem fim de agressões, tomar as devidas providências, para que amanhã seja um dia melhor para quem sofre com as agressões e para toda a sociedade, igualmente enferma, como afirmamos no princípio.

Afinal de contas é importante que as pessoas entendam, afinal, que somos diferentes e que, a despeito de modelos e estereótipos de beleza, inteligência, sucesso ou qualquer outro indicador, todos merecem respeito e consideração. Viva as diferenças, abaixo o preconceito.


Assista o trailer oficial do filme em:


Ficha Técnica

Título: BULLYING

Título original: Bully

País/Ano: EUA, 2011

Duração: 98 minutos

Gênero: Documentário

Direção: Lee Hirsch

Roteiro: Lee Hirsch e Cynthia Lowen

Elenco: Ja’Meya Jackson, Kelby Johnson, Lona Johnson, Bob Johnson, Alex Libby, Jackie Libby, Philip Libby, Maya Libby, Jada Libby, Ethan Libby, Loban Libby, Kim Lockwood, David Long, Tina Long, Teryn Long, Troy Long, Devon Matthews.



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