Educação de baixa qualidade no Brasil gera corrupção e desemprego, revela pesquisa - 07/05/2018
João Luís de Almeida Machado
Por meio da pesquisa Retratos da Sociedade Brasileira, divulgada em março do presente ano de 2018, encomendada pela CNI - a Confederação Nacional da Indústria, com foco na qualidade da educação brasileira e suas repercussões para o país ficamos sabendo que o nível de satisfação do cidadão em relação ao que é oferecido nas escolas brasileiras piorou entre os anos de 2010 e 2017, ao longo dos 3 levantamentos realizados no período.
No ensino fundamental na esfera pública, por exemplo, aproximadamente 1 em cada 3 entrevistados consideram a qualidade do ensino apenas regular, índice aproximado daqueles que avaliaram o ensino médio público. Se somarmos os dados relativos a ruim e péssimo em ambos os segmentos no que tange as escolas públicas, aproximadamente 1/4 dos pesquisados anotaram tal percepção.
Não se baseiam somente naquilo que percebem, na esfera mais imediata, relacionada ao que ocorre com seus filhos, na escola do bairro em que estudam, seja ela municipal, estadual ou federal, mas também partem de dados que são regularmente veiculados pela mídia, a partir de resultados de testagens nacionais e internacionais que indicam a fraqueza e a debilidade dos resultados dos alunos brasileiros quando comparados com estudantes de outras nacionalidades.
E quando se estabelece esta comparação, a comparação realizada não é aquela feita com alunos de países que estão no topo do ranking mundial, como aqueles oriundos da Finlândia, Coréia do Sul ou Cingapura, por exemplo, mas, em relação aos estudantes de nações próximas, vizinhas, como o Chile, que tem resultados muito mais expressivos que os brasileiros.
As repercussões da baixa qualidade da educação pública no país, no entanto, de acordo com a própria população, tendo por base os dados auferidos na pesquisa Retratos da Sociedade Brasileira, são nocivas não apenas para o futuro de cada estudante formado nesta escola com formação ruim, deficiente, mas para toda a sociedade.
Perguntados se a baixa qualidade do ensino no Brasil prejudica o desenvolvimento do país, 74% dos entrevistados disseram concordar totalmente com esta afirmação. O índice anterior, auferido nas pesquisas realizadas em 2010 e 2013, indicava que 6 em cada 10 pessoas que responderam a pesquisa pensavam desta forma.
A pesquisa foi além neste tópico e buscou dados quanto a relação entre a baixa qualidade da educação brasileira e aspectos determinantes de uma vida deteriorada no país, como por exemplo, a inseguraça relacionada aos dados alarmantes da violência no Brasil e também a corrupção que grassa em diferentes setores, em especial, no segmento público e entre as autoridades.
Perguntados se a violência e a corrupção no país são decorrentes da educação de baixa qualidade, os índices relacionados aos que concordam total ou parcialmente com esta afirmação atingem 77% no que se refere a violência e 60% no que tange a corrupção.
A relação estabelecida entre educação e uma melhor qualidade de vida também estão presentes no relatório, com os respondentes da pesquisa, numa base sempre superior a 7 em cada 10 entrevistados, concordando total ou parcialmente com a ideia de que quem estuda mais tem melhores oportunidades de trabalho e maior renda.
Na contramão desta constatação do valor da educação para a qualidade de vida individual e coletiva dos cidadãos, os resultados das pesquisas realizadas em 2010, 2013 e 2017 demonstram que os brasileiros constataram que a qualidade da formação dos estudantes brasileiros no Ensino Médio está piorando. Para 55% dos entrevistados, os alunos saem pouco preparados (32%) ou mesmo despreparados (23%) ao se formarem e tentarem ingressar no mercado de trabalho. O índice relacionado a uma preparação de qualidade é de apenas 12% no total deste levantamento.
Ao avaliar as escolas, no tocante ao que oferecem como base para a formação dos estudantes, os participantes desta pesquisa indicaram maior preocupação com a infraestrutura da escola e menor com a qualidade do trabalho realizado pelos professores. A capacidade de realizar boas aulas, numa escala de 0 a 10, teve como resultado uma média 7,2 para os docentes. Por outro lado, a segurança das escolas e as atividades extracurriculares foram as que tiveram pior avaliação, com médias, respectivamente, entre 4,9 e 4,0.
Os dados demonstram que a população está ciente tanto das dificuldades e do ônus que representa para o Brasil termos formações de qualidade ruim no Ensino Básico, em especial no segmento público e, também, como a adoção de políticas públicas consistentes, sérias, seguras e de qualidade podem oferecer para a sociedade e para os estudantes em formação, a perspectiva de uma vida e de um futuro melhor para todos. O que mais precisamos saber para que isso venha a acontecer?
# A formação educacional e o mercado de trabalho
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