Educação para o Pensar
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Metodologia científica no Ensino Básico - 06/03/2018
João Luís de Almeida Machado

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técnico profissionalizante, ENEM

Depois de anos no ensino fundamental e médio, o aluno presta o ENEM e os vestibulares ou ingressa em um curso técnico profissionalizante. Entra na formação que o fará profissional e que lhe abrirá as portas do mercado de trabalho. Iniciam-se os estudos neste novo patamar de ensino e, com isso, o grau de dificuldade aumenta, a especialização se faz presente e a estruturação do pensamento dentro de uma linha mais científica é proposta e cobrada deste estudante recém-chegado à universidade ou ao curso técnico profissionalizante.

É preciso ler muito e essa leitura é complexa, densa e exige muito dos estudantes. Deve-se destacar, ainda, que este universitário, recém-egresso, na maioria das vezes, leu muito menos do que deveria no Ensino Básico, o que torna sua missão ainda mais difícil, principalmente no contato com livros técnicos, de maior grau de especialização, vinculados a uma produção de caráter científico.

A leitura é, no entanto, um desafio menor diante da falta de preparo anterior para a produção em moldes científicos exigida no ensino superior. Este preparo deveria acontecer desde o Ensino Fundamental e, aos poucos, ano após ano deste nível de ensino e também no Ensino Médio, novos saberes, mais ricos e com maior grau de complexidade precisariam ser incorporados.

Tudo começa, ou deveria, no Ciclo I, com as definições de Ciências e suas ramificações, esclarecimentos sobre processos simples, os primeiros registros, as ações de experimentação básica, as palavras definidoras de práticas primordiais e o ensejo/incentivo aos estudantes para que participem de iniciativas e práticas relacionadas a Ciência, para que surjam o interesse, a disponibilidade e a apreciação ou gosto autêntico pela área.

Isso não acontece...

Pergunte numa sala de aula de 4º ou 5º ano do Ensino Fundamental se alguém quer ser cientista no futuro... sem saber ao certo o que significa atuar na área ou mesmo o que significa na prática ser cientista, a não ser por informações e dados trazidos por canais como a televisão ou pela internet, o interesse será reduzido ou mesmo inexistente.

É preciso deixar claro desde o Ensino Fundamental em seu Ciclo I quem são os cientistas, o que fazem, como trabalham e já, aos poucos, de modo incipiente e em paralelo ao trabalho nas outras áreas do conhecimento, fornecer meios e instrumentos para que as crianças saibam exatamente o que significa trabalhar com ciência, atuar como cientista, realizar pesquisas, compor trabalhos que resultem em produtos como remédios, novas tecnologias, vestimentas com materiais produzidos em laboratório, produtos melhores para construção civil, proteção do meio-ambiente, sustentabilidade...

A partir do Ensino Fundamental em seu Ciclo II as escolas precisam propor, a partir do 6º ano, a construção de projetos de pequeno, médio e longo alcance relacionados ao pensamento científico. A construção de um Trabalho de Conclusão de Ciclo, o TCC constitui prática exemplar de como ativar os alunos no 6º ano para a construção de projetos que irão ser apresentados somente no 9º ano (O uso do termo TCC faz analogia a mesma sigla que na universidade se refere aos Trabalhos de Conclusão de Curso ou Trabalhos de Graduação, que devem ser construídos no último ano da graduação, mas que, como no Ensino Básico, precisam ter seus alicerces constituídos nos anos anteriores deste ciclo formativo).

Para apresentar um trabalho de boa qualidade, consistente e que represente ganho em termos de conhecimento para os alunos que o compuseram e também para os colegas de outros grupos a garimpagem ou preparação prévia começa ainda no 6º ano. Entender que há uma metodologia científica - que deve ser apresentada em linguajar apropriado a este segmento educativo e a faixa etária dos alunos, com a construção progressiva de técnicas e metodologias que irão redundar no ano final do Ensino Fundamental, com os alunos agregando os conhecimentos, saberes e práticas necessárias para tal fim entre o 6º e o 8º anos - é de grande importância para os gestores e professores relacionados a tal segmento.

Assim como é importante que os projetos sejam concatenados, relacionados e logicamente estruturados, ano após ano, para que os alunos percebam que o que aprenderam de um ano para o outro têm aplicação e uso para as atividades subsequentes, propostas no ano seguinte a ser cursado, nas matérias e áreas do conhecimento ativados.

O que se deve oferecer para que isso se torne uma realidade?

Devem ser compostos projetos, relacionados ao conteúdo específico de cada ano letivo na área de ciências, de acordo com a Base Nacional Curricular, prevendo aulas regulares focadas em projeto científico (pelo menos uma aula a cada quinzena), apresentando desde a teoria clássica de pesquisa científica até as técnicas de levantamento laboratorial e busca de dados em campo e uso de recursos de tecnologia para agrupamento e processamento de informações coletadas. Compor relatórios, dividir funções, criar cronogramas, escrever um artigo, respeitar prazos e preparar-se para apresentações são também ações esperadas.

No 9º ano o que se espera é a definição de temas, o acompanhamento por orientadores (os professores da área ou de outras disciplinas), a entrega regular de dados dos levantamentos realizados, a escrita prévia do projeto nos moldes da metodologia científica (nos conformes adequados a tal faixa etária), a documentação e registro sendo apresentados e, é claro, banners, resumos, abstracts, sumários, anexos, bibliografia, sites pesquisados...

A apropriação destes elementos e linguagem ao longo do Ensino Fundamental deve ser continuada no Ensino Médio, com novos projetos, podendo ser aplicada a lógica de ações anuais e também com a criação de uma ação que se estenda da 1ª a 3ª série deste segmento. Tendo em vista que no Ensino Médio muitas escolas focam na preparação para o ENEM e os vestibulares e reservam a 3ª série para uma revisão geral do conteúdo das diferentes áreas do conhecimento e disciplinas específicas, talvez um projeto científico de tal monta possa ser reduzido para realização nos 2 primeiros anos do segmento. De qualquer modo, no Ensino Médio cabem atualizações, maior rigor, leituras especializadas, uso mais regular de ferramentas de tecnologia e pesquisas bibliográficas e de campo extensas e ricas.

Se os alunos forem submetidos a partir do 3º ano do Ensino Fundamental de modo regular aos conceitos, terminologia e práticas relacionadas a metodologia científica, estendendo-se este processo até a 3ª série do Ensino Médio, a tendência é que a ciência se consolide ainda mais como área do conhecimento e que, consequentemente, maior interesse gere entre os alunos, fazendo com que, durante o período do Ensino Básico, surjam alunos interessados em se especializar e atuar com cientistas e que, no Ensino Superior e Técnico, estejam devidamente preparados para realizar produções científicas de qualidade, ajudando o Brasil a melhorar seus índices na área em comparação a outras nações, muito mais desenvolvidas e produtivas em pesquisa científica.



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