Dez anos de Ideb... Qual é o cenário da educação básica brasileira? - 16/01/2018
João Luís de Almeida Machado
A educação brasileira, entre os anos de 2007 e 2017, passou a contar com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, o Ideb, como instrumento que permite auferir os dados relativos ao ensino e aprendizagem no país tendo por base o rendimento dos alunos em avaliação nacional, a Prova Brasil.
A partir da aplicação da Prova Brasil, com dados inicialmente obtidos em 2005, o Ideb permitiu aos gestores e especialistas em educação no país, visando a definição de estratégias e planos de ação para melhorar a qualidade do ensino nas escolas públicas e privadas em todo o território nacional, perceber de forma clara qual era o cenário quanto ao aproveitamento dos estudantes no tocante a sua formação.
Foi possível, por exemplo, perceber que no Ensino Fundamental 1, a quantidade de escolas que obtinham rendimento satisfatório, ou seja, com nota média 6 obtida por seus alunos, restringia-se em 2005, a 166 instituições de ensino.
Os dados mais recentes, referentes a Prova Brasil aplicada em 2015 mostram um crescimento expressivo. Em se considerando montante equivalente de escolas avaliadas (mais de 38 mil), a quantidade de instituições de ensino que trabalham com o Ensino Fundamental I, apresenta um resultado bem melhor, pois passamos a ter mais de 11 mil escolas com nota superior a 6. Entre elas, no entanto, somente 2.138 conseguiram superar o equivalente a 70% de aproveitamento.
Os dados mais recentes revelam, portanto, que 28,8% das escolas brasileiras dedicadas ao Ensino Fundamental I apresentam o rendimento satisfatório esperado pelas autoridades e pela sociedade brasileira.
É pouco, pois significa, na prática, que apenas 3, entre cada 10 estudantes brasileiros atinge este nível de rendimento em termos nacionais. A educação oferecida para cerca de 70% dos estudantes está, portanto, abaixo do mínimo necessário esperado.
Comparando esta situação a alimentação de uma criança em desenvolvimento, seria como se, em se oferecendo um prato de comida equilibrado em termos nutricionais em todas as refeições diárias, para que aquele que usufrui deste alimento cresça de forma sadia e atinja altura, peso, fortalecimento muscular, estrutura óssea esperada e que, com isso, tenha anticorpos e preparo para enfrentar e evitar doenças, consome menos de 60% daquilo que necessita em termos reais e práticos.
Sua formação estará comprometida, seja no exemplo alimentar acima destacado ou no educacional. E, pior, esta situação, mensurada pelo Ideb, se relaciona a um montante de mais de 70% dos brasileiros que frequentam a educação básica nacional. Isso significa que, se na alimentação faltarão vitaminas, proteínas, sais minerais, cálcio e outros insumos encontrados em carnes, laticínios, verduras, frutas e legumes não consumidos, na educação faltarão conhecimentos importantes em matemática, história, ciências, português...
Os alunos escreverão pior, terão maior dificuldade para entender o que leem, não entenderão cálculos matemáticos, serão lesados no tocante a saberes científicos ou relacionados as humanidades...
Os dados são ainda mais alarmantes se considerarmos que 14,2% das escolas apresentam rendimento inferior a 4 e que 24,9% delas ficam num patamar entre as notas 4 e 5. Isso representa um montante equivalente a quase 40% das escolas deste segmento educacional. A se destacar que as bases fundantes do aluno de rendimento satisfatório, bom, muito bom ou ótimo em etapas posteriores de ensino, como o Fundamental II e o Médio, são criadas entre o 1º e o 5º ano do Ensino Fundamental I.
As dificuldades, segundo os dados disponibilizados no Portal Iede , tornam-se maiores na medida em que os alunos chegam aos últimos anos do Fundamental I. Alunos com nível de aproveitamento equivalente a nota 7, por exemplo, no 4º e 5º anos, restringem-se a somente 36 escolas públicas nacionais dentre as mais de 38 mil pesquisadas originalmente.
O resultado para os alunos que chegam ao Ensino Fundamental II e ao Ensino Médio é, portanto, insuficiente para que consigam cursar estes anos posteriores de sua formação de forma impune, ou seja, sem que paguem um alto preço quanto aos resultados finais por eles obtidos. Tornam-se alunos fracos, desinteressados porque não entendem aquilo que lhes é ensinado, obtendo notas baixas, sofrendo com reprovações ou sendo aprovados sem que tenham o devido preparo mínimo esperado e, com isso, saindo ao final do ensino básico, como cidadãos e futuros trabalhadores despreparados... isso é atestado pelo fato de que o rendimento auferido pelo Ideb em 2015 para os alunos brasileiros do Ensino Médio tem 3,7 como nota média.
A partir da criação do Ideb, o Mec (Ministério da Educação) traçou metas de desempenho bianuais para cada escola até 2021. Ainda que os resultados observados para o Ensino Fundamental I, em seus anos iniciais tenha representado um crescimento de aproximadamente 300 vezes entre 2005 e 2015, os índices ao final do segmento são baixos e demandam ações específicas, pontuais, relacionadas desde o estabelecimento de novas metodologias de ensino até a formação mais qualificada dos professores que atuam nestes anos letivos, passando por políticas de valorização dos docentes, adoção de materiais de melhor qualidade, implementação dos espaços escolares e o uso de novas tecnologias em aulas já neste segmento.
Os dados, uma vez disponíveis, devem orientar as ações dos gestores e professores responsáveis pela educação nacional e mobilizar toda a sociedade em prol de uma escola que, de fato, efetive uma formação no ensino básico de qualidade para os estudantes brasileiros. A virada precisa acontecer para que não tenhamos, como hoje, uma população esquálida em termos educacionais, incapaz de concorrer no mercado de trabalho e de exercer a sua cidadania de modo consciente.
# Gestores educacionais ou bombeiros?
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