Cinema na Educação
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

O mínimo para viver - 25/08/2017
João Luís de Almeida Machado

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Alanna Ubach, Liana Liberato, Kathryn Prescott

A imagem de uma adolescente de 16 anos agonizando, numa cama de hospital ou em uma clínica de tratamento, magérrima, a lembrar as vítimas da fome em países nos quais imperam ditadores e ocorrem guerras civis prolongadas, como em algumas nações africanas, é desoladora e muito triste. É ainda mais doloroso quando se sabe que o ocorrido é resultado de anorexia, transtorno alimentar que leva a pessoa a achar que está sempre acima do peso e que, por conta disso, a leva a dietas radicalamente restritivas, a realizar atividades físicas em demasia, muito acima do que precisa ou mesmo daquilo que pode, a usar medicamentos que a levem a expelir o que consumiu ou mesmo a induzir seu organismo ao vômito para soltar em seguida o que acabou de comer.

É muito difícil para alguém que não vive a situação entender o que leva uma pessoa a anorexia. Transtorno alimentar que atinge milhões de pessoas no mundo todo, inclusive no Brasil, principalmente o público adolescente e jovem, segundo especialistas é a doença mental que mais tem vítimas globalmente. Pesquisas revelam que somente nos EUA há cerca de 8 milhões de anoréxicos, entre os quais a maioria é do sexo feminino, numa proporção de 7 em cada 8 pessoas que padecem deste mal. Entre as pessoas que sofrem de anorexia entre 5 e 10% morrem num prazo de até 10 anos e a taxa de recuperação, ou seja, de superação da doença fica na faixa dos 30 aos 40%. Como mencionado, o público mais afetado são as adolescentes e jovens que tem faixa etária entre 15 e 24 anos.

“O mínimo para viver”, filme de Marti Noxon, produzido pela Netflix e estrelado por Lily Collins (em atuação irrepreensível) e Keanu Reeves, nos coloca em contato com uma jovem com anorexia que é internada pela família para tratamento numa clínica privada.

Apresentar a questão de forma tão explícita, destacando as dificuldades e a complexidade da situação, demonstrando o quanto a família tem que se fazer presente ou mesmo de que forma o núcleo familiar pode complicar ainda mais a situação e a necessidade de intervenção médica especializada para o tratamento de quem padece de anorexia, o filme não apenas realiza seu intento cultural como também passa a ter valor e impacto social e educacional.

E, ao sabermos que a protagonista, Lily Collins, é uma pessoa que padeceu por conta da anorexia quando adolescente torna ainda mais impactante a produção e, até mesmo, relevante se trazer à tona este tema tão atual, questão de saúde pública mundial que, certamente, pode ser visto e percebido em escolas de todo o mundo. Assistir à produção permite que, no âmbito educacional, a anorexia possa ser discutida com os alunos e as famílias, com a participação de médicos e especialistas e que, com isso, possam se prevenir casos ou atender aqueles que já existem, com o devido encaminhamento para tratamento. Um filme que deve, portanto, entrar na pauta das escolas.

O mínimo para viver

O Filme

Sua família é marcada pela ausência do pai e pela madrasta que, apesar da boa vontade, não consegue estabelecer uma relação de proximidade com a enteada, restando apenas o apoio da meia-irmã em sua luta contra os problemas que a acometem. A mãe, mudou-se para outra cidade e vive um novo relacionamento, o que aumenta sua insegurança e angústia e, de certa forma, a leva mais para o fundo do poço.

O surgimento de um médico, o doutor William Beckham (Keanu Reeves), que tem uma clínica de tratamento em que resultados consistentes na luta contra a anorexia e outros transtornos passa a ser, então, a alternativa que resta para Ellen superar a doença. Pouco ortodoxo, o tratamento proposto pelo doutor Beckham trabalha mais as questões psicológicas, ou seja, o foco maior é na superação dos problemas mentais relacionados a anorexia, mas será isso suficiente para que a jovem consiga vencer a doença?

Apesar do tema difícil, pesado e complexo, a direção de Marti Noxon e o roteiro bem costurado não deixam a produção se tornar mais um melodrama sobre doenças e pacientes, não repete clichês do gênero, trata do assunto de forma séria e consegue ainda ser descontraído em alguns momentos. Para ser visto e revisto.

Netflix

Para Refletir

1- Os dados são alarmantes quanto a anorexia no mundo, em especial entre as adolescentes e, por conta disso, a prevenção é uma necessidade. A escola é um dos ambientes em que este público passa grande parte do seu tempo. Por conta disso, é preciso acompanhamento, orientação, emparceiramento com as famílias, palestras com especialistas e, acima de tudo, que professores, orientadores e demais colaboradores das unidades de ensino informem casos, assim que perceberem, para que providencias possam ser tomadas e o necessário apoio aconteça.

2- A educação alimentar é uma necessidade nas escolas do Brasil e de muitos países. Enfatizar em aulas o que é saudável, como as pessoas devem se alimentar e outros aspectos relativos a alimentação que são pouco trabalhados, restringindo-se as aulas de ciências ou biologia, é importante. Primordial, no entanto, é cultivar hábitos. Os alunos se alimentam de forma rápida, comem muitos produtos processados, mastigam pouco o que ingerem, bebem pouca água, consomem muito refrigerante e tantos outros hábitos perniciosos. Tudo isso é cultura alimentar, ou seja, decorre do aprendizado a partir do que vivenciam ou observam. No documentário “O invasor americano”, o cineasta Michael Moore, em determinado trecho da produção, demonstra como na França a cultura alimentar saudável é desde os primeiros anos escolares trabalhada para que as crianças francesas cresçam saudáveis e, principalmente, com os melhores hábitos. Assistir esta e outras produções sobre o tema e realizar ações regulares nas escolas certamente irá contribuir para uma melhora na alimentação de toda a comunidade escolar, principalmente se contar com o envolvimento das famílias.


Veja o trailer do filme:


Ficha Técnica

Filme: O MÍNIMO PARA VIVER

Título original: To the boné

País/Ano: EUA, 2017

Duração: 107 minutos

Gênero: Drama

Direção: Marti Noxon

Roteiro: Marti Noxon

Elenco: Lily Collins, Keanu Reeves, Carrie Preston, Alanna Ubach, Liana Liberato, Kathryn Prescott, Ciara Bravo, Lily Taylor, Brooke Smith.



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