Argo - 22/08/2017
João Luís de Almeida Machado
Durante décadas os Estados Unidos tiveram no Irã um grande aliado, o Xá Reza Pahlevi. Desde sua ascensão, nos anos 1950, até a sua expulsão do país onde um dia estava estabelecida a Pérsia, Pahlevi se mostrara fiel aos americanos, adepto de conceitos e padrões da cultura ocidental e, com isso, garantia ao mundo o petróleo tão necessário para movimentar a economia a preços bastante interessantes as empresas do setor. Como todo ditador, no exercício tirânico de seu poder, cometeu abusos contra seu povo, utilizou recursos da nação para viver como um rei da antiguidade e perseguiu com violência os opositores, sempre contando com o apoio das nações ocidentais que o colocaram no comando do Irã.
Isso não durou para sempre. Em 1979 ocorreu a Revolução Islâmica que obrigou Reza Pahlevi a fugir de seu país e buscar asilo político nos Estados Unidos. Levou um avião carregado de riquezas na fuga (lembrando um pouco a situação da família real portuguesa quando emigrou para sua colônia, o Brasil, no início do século XIX, fugindo da invasão napoleônica) e tudo parecia estar resolvido.
Ao aceitarem o antigo aliado como refugiado político, os americanos se tornaram o "grande satã" aos olhos dos iranianos, inflamados por um regime político radical baseado no fundamentalismo islâmico e comandado por xiitas. O país abandonou os padrões ocidentais e voltou a viver de acordo com bases ancestrais pautadas em princípios religiosos estimulados por sua nova casta de governantes, em especial, pelo líder máximo, o aiatolá Khomeini.
O antiamericanismo ficou mais forte e evidente com o passar dos primeiros dias e semanas do novo governo iraniano no comando da nação. Insuflados pelos mais radicais, milhares de pessoas ficavam a frente da embaixada americana a ameaçar a segurança e integridade dos cidadãos americanos que ali trabalhavam. Não demorou a chegar o dia em que os muros não mais contiveram o ódio represado por todos os anos de apoio dos EUA ao antigo governante do Irã, ainda mais pelo fato de que este homem continuava vivo e era asilado político do governo de Jimmy Carter.
A invasão gerou o aprisionamento, violências como torturas e, mesmo, mortes de americanos, com algumas delas ocorrendo de forma explícita, nas ruas de Teerã, capital do país, diante de câmeras que as filmaram e transmitiram para todo o mundo. Alguns membros da embaixada americana, no entanto, conseguiram fugir pela porta dos fundos, literalmente e, abrigaram-se na casa do embaixador do Canadá.
Escondidos das autoridades, mas cientes que os documentos encontrados na Embaixada americana iriam denunciá-los, ficaram por semanas a espera de alguma ação milagrosa de resgate por parte das autoridades de seu país ou então, mais provável, que a neutralidade do Canadá fosse esquecida e a casa do embaixador viesse a ser, também, invadida para que todos fossem aprisionados, torturados e mortos...
Este é o contexto no qual se insere o vencedor do Oscar 2013 de melhor filme, "Argo", do diretor e ator Ben Affleck, que já havia ganho o Globo de Ouro como filme do ano e melhor direção.
Como resgatar os 6 membros da embaixada americana que conseguiram escapar da invasão do povo iraniano? O Irã estava fechado a entrada de norte-americanos. Qualquer ação que envolvesse a CIA, neste caso, seria complexa e com poucas chances de triunfo. O que fazer? Como trazer para casa estes cidadãos americanos? Resgatá-los também significava devolver a autonomia e paz aos canadenses, em especial ao embaixador, que corria sérios riscos por conta de seu ato de bravura ao dar abrigo aos americanos.
"Argo" nos conta o mirabolante plano que irá ser planejado pela CIA, contará com auxílio de produtores de cinema de Hollywood, a ser executado por apenas um homem para resgatar os americanos da embaixada que se mantinham acuados e escondidos diante da fúria fundamentalista iraniana contra os EUA.
Produção de primeira, com elenco contando com Ben Affleck como o agente da CIA e tendo ainda Alan Arkin (que fez no Brasil o embaixador sequestrado no filme "O que é isso, Companheiro?", baseado em livro de Fernando Gabeira) e John Goodman, Argo mistura cenas de época com imagens produzidas meticulosamente para o filme, dando-nos a impressão de continuidade. Pode parecer para alguns propaganda norte-americana, mas trata-se essencialmente de uma produção que relata os acontecimentos daquela turbulenta transição ocorrida no Oriente Médio entre o final dos anos 1970 e 1980, que acabaria ocasionando outras ações radicais fundamentalistas em nações da região, como no Iraque de Saddam Husseim, ou ainda no surgimento de grupos terroristas de ascendência árabe como a Al Qaeda.
Se olharmos para trás e percebermos a Revolução Islâmica e, um pouco antes, a crise mundial do petróleo, ocorrida em 1974, quando os preços deste insumo explodiram no mercado internacional, ou ainda a fundação do estado de Israel, após a 2ª Guerra Mundial (e como consequência importante daquele conflito), veremos as raízes dos atentados aos EUA nos anos 1990 e, principalmente, todo o ressentimento e raiva represados que deram origem aos atentados as Torres Gêmeas e ao Pentágono em 11 de setembro de 2001. Não que isso justifique toda esta violência, terror e o sangue derramado, apenas como constatação de como a história destes conflitos conta já algumas décadas e, talvez, séculos se buscarmos suas origens na Antiguidade e na Idade Média.
"Argo", de Ben Affleck, é uma produção que além da história propriamente dita, traz suspense, tensão, os bastidores desta ação secreta da CIA e que, com tantos pormenores e detalhes, ainda que alguns pareçam surreais, merece ser vista e apreciada pelo grande público. É cinema de primeira, com muitas ideias e temas a serem trabalhados em sala de aula. Não perca!
Veja o trailer do filme
Veja crítica do filme (por João Luís)
Ficha Técnica
Filme: ARGO
País/Ano: EUA, 2012
Duração: 120 minutos
Gênero: Ficção, Suspense, Drama, História
Direção: Ben Affleck
Roteiro: Chris Terrio
Elenco: Ben Affleck, Alan Arkin, John Goodman, Bryan Cranston, Kyle Chandler, Chris Messina, Clea DuVall, Zeljko Ivanek, Bob Anders, John Bates.
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