Avaliando com tecnologias - 19/06/2017
João Luís de Almeida Machado
A avaliação é normalmente encarada com o “patinho feio” dos elementos basilares da educação. Ao lado do ensino/aprendizagem e do currículo, esta dimensão do processo educativo é aquela que com o advento das tecnologias educacionais somente mais recentemente tem agregado recursos que auxiliam o seu processo. Ainda assim muito do que se apresenta é, na realidade, releitura de procedimentos daquilo que presencialmente se realiza nas escolas de todo o mundo.
Temos hoje, por exemplo, por meio da internet, possibilidades como a realização de provas completas, com modelos baseados em respostas objetivas ou dissertativas, produção textual, interação com outros usuários, produção coletiva e, ao mesmo tempo, registro em tempo real daquilo que está sendo produzido pelo estudante.
Formulários online, acessíveis a professores e escolas de todo o planeta a partir de grandes fornecedores como a Microsoft ou o Google, permitem aos usuários não apenas compor seus instrumentos de avaliação como, de quebra, ainda armazenam os dados na nuvem, em planilhas, permitindo retornos automáticos para os avaliados e análises dos resultados gerais pelos próprios docentes ou por seus gestores.
É possível hoje, entre outras coisas, contar com corretores múltiplos de redações, coordenados a partir da ação de empresas ou startups que indicam não apenas erros ou que dão notas para quem está em preparação para exames de admissão em universidades ou concursos públicos, mas que, também, localizam padrões de erros cometidos por quem escreve para que tais repetições sejam percebidas e então corrigidas.
Ao mesmo tempo há uma grande e real preocupação com o uso das tecnologias como ferramentas que ensejam o “copiar e colar” entre os estudantes, tanto em seus trabalhos e projetos quanto em provas e avaliações, por exemplo, em cursos via EAD.
A preocupação é condizente e respaldada por aquilo que percebemos no mundo real, tanto em cursos online quanto em presenciais. Há um grupo considerável de estudantes que se utiliza de tais subterfúgios, ilícitos, para produzir suas respostas. O plágio é, infelizmente, uma realidade a ser combatida.
A tecnologia, porém, oferece meios para que tais práticas sejam detectadas através de softwares, aplicativos e sites onde os trechos copiados são analisados para se verificar a real origem e o verdadeiro autor de tais ponderações e pensamentos.
Além disso há de se considerar que a experiência dos docentes e seu contato e proximidade, ainda que por meio virtual, com seus alunos, lhes permitam discernir entre aquilo que é da autoria do educando e o que não foi produzido por ele.
Independentemente disso é preciso realizar trabalho constante e pertinente no sentido de fazer com que os estudantes não se apropriem daquilo que não é de sua autoria e que, pelo contrário, tenham real disposição e interesse em firmar sua própria produção. Ressaltar o comportamento ético em casos assim e também a necessidade e os efeitos positivos tanto para o aperfeiçoamento pessoal do estudante quanto para a compreensão presente e futura de seu perfil profissional e caráter pessoal. Não há contraindicações para a honestidade acadêmica e estudo aplicado, com a produção de respostas próprias nas tarefas e projetos que são introduzidos ao longo do caminho formativo de um educando.
Em se considerando os avanços recentes, no entanto, o que é perceptível é que no virtual estamos fazendo “mais do mesmo” e que além das novas tecnologias é preciso repensar os processos e as metodologias quanto a avaliação para que os reais avanços esperados para este importante pilar da educação ocorram.
Neste sentido ações como a avaliação que não se preocupa apenas com resultados de provas e testes, mas que ocorre de modo processual, com pleno acompanhamento dos alunos, buscando desde ações prévias como as avaliações diagnósticas, trabalhar no sentido de auxiliar e orientar os educandos em seu processo de aquisição, compreensão, uso e aplicação dos saberes trazidos na educação escolar pode e deve compor forças com as ferramentas de tecnologia educacional.
O que se preconiza com isso é que a leitura de dados dos alunos, ou seja, seu big data educacional, permita aos educadores avaliar de forma contínua, de modo a identificar acertos, erros, dúvidas, omissões, problemas do presente, dificuldades provenientes do passado (em relação pré-requisitos, por exemplo), ações iminentes a serem desenvolvidas, dificuldades processuais (o aluno, por vezes, pode ter dificuldades com enunciados, leitura de dados, compreensão de estruturas como infográficos...).
Além disso, para se evitar que problemas clássicos como o “copiar e colar“ digital ou provas reprodutivistas aconteçam, as propostas de avaliação, presenciais ou digitais, devem ocorrer de forma a contextualizar os saberes, desafiando os alunos, tornando a ação lúdica, sendo propostas como projetos, ensejando não apenas a reprodução de saberes mas a busca de mais informações (em diferentes meios e por metodologias diversificadas) e, assim, colocando os alunos, literalmente, no “olho do furacão”, sem que qualquer tipo de resposta copiada resolva o que lhes foi proposto.
O que quero dizer com isso na prática? Que o professor precisa ser criativo e, ao mesmo tempo, desafiador em suas avaliações. Recentemente propus a alunos que abordassem tema de aula, leituras e vídeos trabalhados em formato de programa de rádio. Esta ação seria elemento de avaliação do grupo, dentro de uma estratégia processual, aula a aula. Isso gerou desconforto, tirando os educandos de sua zona de conforto, pois tinham que compreender a proposta, que incluía rever os dados apresentados, buscar informações consideradas mais importantes a partir dos insumos oferecidos, comparar dados, criar roteiro para o áudio, formatar como uma entrevista ou como uma matéria de jornal apresentada em rádio.
Avaliamos, neste caso, não apenas conteúdos, buscamos perceber e estimular a continuidade do estudo, da compreensão, com troca de dados e percepções, cobrança de produção do aluno em etapas escalonadas, comunicação diferenciada do resultado final, compartilhamento dos resultados com os demais e, com isso, continuidade de reflexão, gerando ao final uma compreensão mais ampla dos temas trabalhados. Os resultados foram produzidos e disponibilizados por meio de tecnologias como smartphones, e-mails, comunicadores e sites pessoais, além do ambiente virtual criado para o curso. Este é apenas um breve exemplo, dentre algumas práticas que, por aplicação, destaco como efetivas para uma avaliação que combine tecnologias, metodologias ativas e avaliação fundamentada.
Hoje temos instrumentos tecnológicos que nos permitem ir muito além do convencional não apenas quanto a ferramentas, mas principalmente, na proposição desafiadora e no processo constante, com estímulo a participação e contextualização dos alunos, em suas avaliações.
# Home Office, AVA e EAD: o novo mundo do trabalho e estudo
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