A Inquisição através da Multimídia - 22/10/2004
Conceitos históricos viram Rádio-Novelas, Painéis e Apresentações em PowerPoint.
Toda vez que trabalhamos a Inquisição como assunto primordial de nossas aulas de história os estudantes rapidamente se interessam e demonstram grande curiosidade. Temas que nos colocam em contato com a crueldade, a força e a violência de personagens e acontecimentos de vulto na história sempre se revelam mais atraentes aos olhos não só dos estudantes, como também do público em geral. Temos uma curiosa relação com aquilo que é mórbido, sádico e particularmente sanguinário. Basta assistir os noticiários da televisão para perceber a prevalência desses assuntos em relação a informações que falem de paz, tranqüilidade ou até mesmo êxitos...
Voltando ao nosso assunto primordial, resolvemos dessa vez adotar uma sistemática de trabalho que explorasse o tema a partir de outros referenciais e não apenas utilizando nossos materiais básicos, como o livro-texto ou ainda bibliografia suplementar encontrada na forma de coleções de paradidáticos (Primeiros Passos, Polêmica, Tudo é História,...).
Para começar a perceber a atmosfera onde as práticas referendadas pelo “Manual do Inquisidor” iriam se manifestar, programamos a apresentação do filme “Em Nome de Deus”.
Através da história de Abelardo e Heloísa narrada no filme, ficamos sabendo as transformações pelas quais passava a Europa entre a virada dos séculos XII e XIII, quando as universidades surgiam no horizonte dos nascentes burgos (cidades) do Velho Continente. Percebemos que essas instituições de ensino eram resultantes da ascensão de uma nova e poderosa força política e econômica que iria se consolidar nos séculos subseqüentes como o máximo poder estabelecido, a burguesia.
O rádio já foi a mais importante ferramenta de comunicação da humanidade,
continua sendo
uma forma de se atualizar e se divertir e foi brilhantemente celebrado
no filme “A Era do Rádio” do cineasta Woody Allen.
Apesar das cidades, dos burgueses e das universidades, os estudantes (alunos do 1º ano do ensino médio) que assistiram o filme na introdução de nossos trabalhos também notaram que a Igreja Católica, mesmo vivendo um momento em que novas forças se consolidavam no contexto sócio-político-cultural, continuava sendo a principal autoridade.
Passamos então a averiguar alguns importantes acontecimentos que colocavam a Igreja em situação cada vez mais delicada naquele contexto. Explicamos que o surgimento de novas forças (a burguesia) e a abertura de possibilidades inexistentes anteriormente (o estudo, a pesquisa) e, principalmente o surgimento de espaços onde o intercâmbio entre as pessoas era prática freqüente e estimulada (as cidades) fomentou o aparecimento de movimentos contestatórios ao poder monopolizado pelo Clero Católico.
Entramos então na proposta específica de trabalho desse tema lembrando que houve uma reação a todos esses acontecimentos que colocavam em xeque a autoridade dos religiosos católicos. Entre elas, a de maior destaque foi justamente o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição.
Tivemos então o cuidado inicial de analisar as palavras Tribunal, Santo, Ofício e Inquisição. A compreensão dos significados de cada um desses termos facilitou os trabalhos que posteriormente realizamos. Todos os alunos participaram sugestões relativas às possibilidades que tínhamos de entendimento desses vocábulos.
Depois disso, propusemos novas ações com o objetivo de aprofundar a pesquisa sobre a Inquisição.
Transformar um ícone da contemporaneidade, como o Tio Sam, num painel publicitário
convocando os cristãos a apoiar a igreja mesmo que em virtude de um “empurrãozinho”
da Inquisição foi uma das boas idéias produzidas nesse projeto.
A primeira delas fez com que eles retornassem ao filme “Em Nome de Deus”. Eles teriam que adaptar a história do professor Abelardo e da jovem Heloísa para um formato em relação ao qual tinham pouca ou nenhuma familiaridade, a rádio novela.
Tivemos então a preocupação de lhes ensinar o que era uma rádio-novela, pedindo inclusive que eles perguntassem a seus pais, tios e avós se conheciam tal ferramenta de comunicação. No primeiro momento, ainda em aula, quando falamos desse formato, eles foram deduzindo por aproximação o que seria isso e a complementação com detalhamento foi feita com o apoio do professor e da família.
Estava então apresentada a primeira das três mídias com as quais iríamos desenvolver esse projeto.
Logo em seguida detalhamos a segunda etapa desse trabalho. Nesse momento do projeto eles teriam que aprofundar a pesquisa acerca da Inquisição, utilizando a bibliografia disponível na biblioteca escolar ou ainda em outros acervos, pesquisando informações em sites da internet e formatando tudo aquilo que fosse condizente e de fontes fidedignas numa apresentação em formato de PowerPoint.
As novas ferramentas tecnológicas como os computadores e a internet devem ser
incorporadas ao cotidiano da educação o mais rapidamente possível. Apresentações
em PowerPoint podem ser muito úteis e eficazes para explicar conceitos e teorias.
Essa apresentação deveria ser composta de dados sobre a história da Inquisição e, para maior encantamento dos próprios estudantes, dos meios utilizados pelos inquisidores para obter as confissões das pessoas aprisionadas.
A terceira e última produção relacionada ao tema seria um painel publicitário, num estilo irônico e jocoso, através do qual eles teriam que apresentar os meios “eficientes” utilizados pela Igreja Católica para evitar o surgimento de hereges (ou melhor, de “ovelhas desgarradas” em relação aos ditames por ela estabelecidos).
Os estudantes ficaram um pouco confusos quanto a esses painéis. Lembramos então dos “out-doors” que são comumente colocados ao longo de rodovias ou grandes avenidas. Expliquei-lhes então que era mais ou menos isso que eu queria, não nas mesmas dimensões (é claro!), adaptado para ser colocado nos corredores da escola ou nas paredes de nossa sala de aula.
Esses trabalhos deveriam então ser entregues num prazo de 3 semanas a contar da data em que as informações foram passadas. Eles trabalharam em grupos de 3 alunos.
Passado o prazo previsto, auferimos os resultados, primeiramente escutando as rádio-novelas produzidas. Foi interessante notar que eles pensaram muito a respeito do formato e das informações obtidas quanto a como eram essas produções. Tanto que chamaram amigos ou parentes para interpretar alguns personagens para evitar que as vozes ficassem iguais (já que seus grupos eram formados por apenas 3 pessoas e a quantidade de personagens era maior que isso).
Além disso, sonorizaram a trama, colocando músicas que denotavam suspense, elevação espiritual ou ainda romance em certos trechos das gravações. Alguns grupos colocaram intervalos na narrativa, como se ela estivesse sendo apresentada em uma autêntica rádio comercial. Todos permearam a trama com sons de fundo como passos, portas abrindo, beijos,...
A ênfase, como não podia deixar de ser foi em cima do romance proibido entre Abelardo e Heloísa, impedidos pela igreja de assumir seu romance...
Os painéis ficaram muito interessantes. Misturaram ícones contemporâneos, como a idéia do Tio Sam convocando os norte-americanos para se alistar no exército, transformado num representante da igreja, conclamando os fiéis a apoiarem o Catolicismo (nem que para isso tivessem que ser “convencidos” pela Inquisição); ou ainda, transformaram a produção final num catálogo de vendas, como aqueles que comercializam produtos de beleza, onde ao invés de perfumes e cremes, estavam sendo vendidos e descritos equipamentos utilizados pelos carrascos da Inquisição. Ficou muito interessante e foi, além de tudo, inovador.
As apresentações em PowerPoint foram nossa última parada. É notável como essa nova geração tem grande facilidade para aprender a utilizar as ferramentas da tecnologia. Efeitos especiais, imagens digitalizadas, letras com cores e sombras e descrições da história e dos métodos da Inquisição ganharam apresentações que tinham significado e valor para todo o grupo de estudantes. Foi muito legal perceber como tudo havia fluído de forma a conceber, ao final dos trabalhos, uma aprendizagem efetiva. Valeu turma!
1 Darlene - Cuité - Pb
Parabéns pela forma como foi trabalhado o assunto e pelo exemplo de como se pode inovar as aulas de História. A instigação envolveu dinamicidade e despertou no aluno o interesse e a importância do estudo da História como também, com certeza, conseguiu atingir a meta: bom resultado no ensino-aprendizagem. Transformou estudo da História como disciplina apaixonante e prazerosa.
28/02/2008 18:03:59
2 Sbrasil - Manaus
O modo como o assunto foi trabalhado, usando diversas mídias de comunicação atuais e resgatando outras que já ficaram "obsoletas" é um exemplo impar de como se pode trabalhar em sala de aula, assim o prof. estimulou a imaginação de seus alunos e lhes deu a oportunidade de apreender o conhecimento de diversas maneiras. Parabéns.
05/09/2007 16:29:02
3 MARIA CREUSA - JOAÕ PESSOA
MUITO BOM. DIFERENTE. DESSE MODO A AULA FICA MAIS ENVOLVENTE E IRÁ DESPERTAR O INTERESSE DOS ALUNOS, POIS ESSE TEMA É MUITO COMPLEXO.
19/08/07
19/08/2007 18:23:41
4 Laís - Rio de Janeiro
Super interessante e inovador. Gostei muito do projeto. Estão de parabéns!
21/05/2007 14:55:00
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