Educação para o Pensar
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Reavaliando a avaliação da aprendizagem - 30/05/2017
João Luís de Almeida Machado

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conhecimento, informação, preocessos de aprendizagem

A avaliação, conforme nos ensinam os especialistas no assunto, passa por um processo de revisão e reestruturação que se iniciou nos anos 1990, a partir de estudos de educadores de uma nova geração, liderados, entre outros, por Philippe Perrenoud, professor na Universidade de Genebra. A reavaliação da avaliação da aprendizagem traz, portanto, novos paradigmas que precisam ser estudados, interpretados e aplicados em sala de aula, como já vem sendo feito nas escolas que seguem na vanguarda educacional mundo afora. Destacamos, a seguir, pensamentos que explicitam esta nova forma de pensar a avaliação da aprendizagem trazidos por Antoni Zabala, Kátia Smole e Charles Hadji, professores e pesquisadores debruçados sobre o tema em diferentes partes do mundo, publicadas em depoimentos dados por estes profissionais a revistas especializadas em educação:

"O ideal é que ela (a avaliação) contribua para que todo estudante assuma poder sobre si mesmo, tenha consciência do que já é capaz e em que deve melhorar." (Charles Hadji, professor e diretor do Departamento de Ciências da Educação da Universidade de Grenoble, na Suíça)

"Todos merecem ser julgados em relação a si mesmos, não na comparação com os colegas. Não dá para fugir. É essencial atender a diversidade dos estudantes." (Antoni Zabala, especialista em Filosofia e Psicologia da Educação e professor da Universidade de Barcelona)

"O pressuposto de que existe uma inteligência padrão está ultrapassado. O modelo tradicional de avaliação da aprendizagem faz com que o aluno valorize a nota e não o aprendizado. Em vez de se relacionar com o mundo, ele só vai querer aprender em troca de prêmio (a nota) e, nesse ambiente, só sobrevive que se adapta ao toma lá, dá cá. O antigo sistema forma pessoas submissas e intolerantes. Quem não consegue atender à expectativa do professor e da sociedade acaba marginalizado." (Katia Smole, pesquisadora e professora universitária na área de educação e avaliação)

O que fica evidenciado com as afirmações acima são elementos novos, até bem pouco tempo desconsiderados pela maior parte dos professores, como por exemplo, a questão da percepção de si mesmo pelo educando, de suas potencialidades e dificuldades, no sentido de aumentar autoestima, percebendo-se como sujeito hábil, capaz e, ao mesmo tempo, em formação, o que lhe traz demandas de superação, estudo, aperfeiçoamento contínuo. Empoderar o estudante e não o diminuir na comparação com os demais é parte do processo de personalização do estudo e da aprendizagem e, é claro, da avaliação. A diversidade passa a ser valorizada, a contribuição de cada indivíduo passa a ter peso e importância para a vida em sociedade. Supera-se, com isso, a lógica da competitividade, do julgamento por resultados que desvaloriza muitos e faz com que eles não valorizem a educação e os benefícios a ela associados.

O modelo pautado na uniformização dos processos de ensino e aprendizagem, assim como a utilização da avaliação como elemento de discriminação e não de equalização de oportunidades é também percebido nestes novos paradigmas. O que se busca não é um padrão de inteligência, mas a inteligência que cada um possui e que pode muito contribuir para a experiência humana no planeta.

Para que isso ocorra é necessário pensar, propor e estruturar muito bem a avaliação no planejamento do educador e em consonância com objetivos coletivos, propostos no Projeto Político-Pedagógico da instituição educacional em que trabalhe. Tal ação requer do educador clareza em relação ao que pretende, ou seja, seus objetivos devem ser estabelecidos considerando-se o que deve ser aprendido, os recursos utilizados, as metodologias empregadas, o perfil das turmas em que leciona e, é claro, a compreensão e acompanhamento individualizado de seus alunos. O processo é contínuo, o que equivale dizer que não se encerra com a aplicação de provas ou bimestres, nem mesmo com o final do ano letivo, já que a continuidade no próximo ano depende daquilo que já foi construído nas etapas anteriores gerando, com isso, novas avaliações relacionadas a conhecimentos igualmente novos, mas que, para sua consecução, dependem dos saberes anteriormente estudados.

A medida para o processo de avaliação da aprendizagem é outra importante preocupação a ser considerada pelos educadores. Considerar a faixa etária é muito pertinente, tanto no que tange a facilidade quanto a dificuldade das atividades propostas. O tempero tem que ser na medida, caso contrário a cobrança, em sendo fraca demais, não irá colaborar e corroborar, desafiando os alunos e fazendo com isso que eles se sintam instados a produzir o seu melhor e o que é necessário; em sendo forte demais, pode ser desestimuladora, levando os alunos a baixa estima, considerando-se incapazes de resolver as proposições apresentadas por seus professores.

Os ciclos de avaliação são também indicados como formas de regularizar e normatizar as ações educacionais. Com isso os alunos têm metas a curto e médio prazo, trabalham com demandas apresentadas numa proporção adequada as suas possibilidades e se sentem mais aptos a vencer os desafios propostos. A existência destes ciclos regulares não significa que o processo de avalição tenha que ser conservador, atrelado a modelo tradicional, atendo-se a aplicação de provas mensais ou bimestrais. A avaliação deve ser continuada, com acompanhamento tanto das atividades em aula, participação do aluno, leituras e tarefas, produção em grupos ou individual, quanto em projetos maiores e avaliações no modelo mais convencional, tudo dentro destes períodos, bimestrais ou trimestrais, conforme a opção das escolas.

O processo deve gerar ainda a possibilidade de os educadores realizarem a avaliação de seus processos e procedimentos que é, também, algo a ser feito durante o processo, com anotações regulares dos dados obtidos a partir de aulas e aplicações de tarefas, projetos, atividades em grupo, leituras e provas. Todos estes dados, ao longo do ano, devem alimentar entre os professores o processo de reflexão sobre sua prática e, também, promover as necessárias mudanças de rumo quando isso for necessário. Aperfeiçoar o processo de ensino e aprendizagem, a meta maior, é o foco aqui e, certamente, deve gerar ações que sejam não apenas individuais por parte de cada professor, mas coletivas, com encontros e reuniões em que problemas, dificuldades, sucessos, vitórias ou qualquer situação específica que mereça atenção possa ser discutida por todos.

O que se deseja, ao final de todo o processo de ensino, aprendizagem e avaliação é aquilo que Cipriano Luckesi, um dos mais importantes estudiosos do assunto no Brasil, preconiza de forma bem simples e direta no depoimento a seguir:

“Deste modo, o ato de avaliar é inclusivo, ou amoroso (...). Isso quer dizer que o ato de avaliar, por ser diagnóstico, tem por objetivo subsidiar a permanente inclusão do educando no processo educativo, tendo em níveis cada vez mais satisfatórios da aprendizagem. A avaliação não exclui a partir de um padrão pré-estabelecido, mas sim diagnostica para incluir, na busca do resultado mais satisfatório, mais pleno, qualitativamente mais saudável.” (Cipriano Luckesi, em Entrevista à Revista Nova Escola sobre Avaliação da Aprendizagem, disponível em clique aqui )



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