Educando os sentidos - 19/05/2017
João Luís de Almeida Machado
Você consegue identificar os alimentos pelo cheiro? Ou ainda, quando vai a uma feira ou supermercado reconhece com facilidade as variedades de verduras e legumes que estão à venda? Sabe como escolher um alimento fresco num sacolão pelo manuseio do mesmo, percebendo se está maduro, verde ou já passado? Diferenciar pratos preparados com alimentos não revelados para você é difícil? Quando você está no meio de uma multidão numa feira, por exemplo, consegue acompanhar e entender o que dizem os vendedores e ainda estabelecer conversa com eles?
Pois é, não somos preparados para isso. Temos que aprender no cotidiano. As escolas não se preocupam com a capacitação de seus alunos quanto ao uso dos sentidos. Na realidade, no mundo em que vivemos hoje, até mesmo as oportunidades de aprender isso no dia a dia estão ficando mais escassas quando somos crianças ou mesmo adolescentes. A família, na figura dos pais, responde por estas ações e, sendo assim, os filhos ficam distantes deste aprendizado na prática.
Um dos mais interessantes e enriquecedores passeios e trabalhos a serem desenvolvidos pela escola acaba sendo, então, morto no nascedouro. Levar os alunos a feiras livres, mercadões ou supermercados. Fazer com que circulem pelas áreas públicas de seus municípios. Promover visitas a locais como parques, jardins, reservas florestais. Levá-los a zona rural, para conhecer o campo, os animais, os produtos agrícolas, o cheiro da terra...
Desenvolver aulas práticas, modulares que sejam, de gastronomia, enfocando desde a escolha e seleção, conhecimento dos alimentos em seu estado natural, até os processos de transformação destes em pratos de consumo regular. Trabalhar conceitos de botânica ou zoologia que não fiquem restritos aos livros, mas que permitam aos alunos conhecer plantas e animais, com visitas a espaços naturais onde possam ser vistos e percebidos pelos sentidos destes estudantes.
A família também deve ter esta preocupação. Nos passeios que realizam, pais e filhos precisam sentir o mundo ao seu redor, perceber a areia da praia, visualizar os seres vivos que andam por ali (aves, siris, peixes no mar), olhar com atenção o movimento das marés, sentir a brisa e o cheiro tão próprio daquele ambiente, entender a vegetação destes espaços e a ação do homem transformando tudo aquilo. O mesmo vale, é claro, para qualquer ambiente natural visitado por uma família.
Igualmente importante é tirar os filhos de casa e levá-los a espaços como os mercados municipais, para ver gente, sentir como é o comércio nestas redondezas, provar algumas delícias nas barracas, reconhecer as variedades vegetais e animais oferecidas pelos feirantes. Depois disso, que tal trabalhar na cozinha de casa, ajudando a preparar o almoço, opinando no cardápio, aprendendo a lidar com os temperos (cuidado com o sal em excesso!), mexendo nas panelas, verificando como funcionam o fogão e seu forno...
Todos estes aspectos marcantes da Educação dos Sentidos fazem muita diferença para a vida das crianças e adolescentes. Não apenas pelo que podem e devem aprender e que lhes será muito útil no futuro. Igualmente enriquecedor nesta ação é o convívio, a troca de experiências a partir da prática, as lições in loco dadas por pais ou professores, o intercâmbio maravilhoso que se estabelece e que cria vínculos muito fortes.
Que tal incluir estas ações no currículo de vida de seus filhos ou alunos?
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