Educação e Sustentabilidade - 08/05/2017
Wanda Camargo
A fragilidade da natureza é mais uma das crenças arrogantes e autocentradas da espécie humana; a Terra nos precede de bilhões de anos, e estará aqui quando não estivermos mais. Nossa capacidade de destruição é imensa, proporcional à estupidez: podemos, sim, arrasar montanhas, criar ilhas de garrafas plásticas nos mares, desmatar sem qualquer limite, envenenar rios e o próprio ar, podemos até aniquilar outras espécies.
Se prosseguirmos nessa loucura destruiremos nosso habitat e a nós mesmos, moral e materialmente; e uns poucos séculos depois disso, planeta estará recuperado, porém não mais para nós. Felizmente para a humanidade o alarme parece ter soado, a consciência ambiental e a necessidade de buscar formas sustentáveis de desenvolvimento têm ocupado o pensamento, e algumas ações, de inúmeras instituições nas últimas décadas.
Em 2000 a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu, com o apoio de 191 nações inclusive o Brasil, oito metas que ficaram conhecidas como Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Essas metas foram complementadas e ampliadas em 2015 com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que preveem ações mundiais em erradicação da pobreza, segurança alimentar/agricultura, saúde, educação, igualdade de gênero, água e saneamento, energia, redução das desigualdades.
O Brasil, em particular, tem na erradicação da pobreza uma de suas prioridades, se pretender efetivamente um desenvolvimento sustentável; mas é na dimensão institucional, isto é, na sua capacidade de colocar em prática os ODS que as maiores dificuldades aparecem.
O objetivo de obter educação de qualidade, essencial inclusive para a capacitação de maior número de pessoas para o trabalho trazendo-as acima da linha de miserabilidade, esbarra no imenso número de crianças sem acesso a escolas e também no problema dos adultos não alfabetizados.
Alfabetização e educação de qualidade resultam também de ações efetivas no que tange às populações marginalizadas pelas políticas públicas de desenvolvimento assumidas pelo país; educar adultos é tarefa para a qual Vigotski já nas primeiras décadas do século passado alertava que deveriam ser levados em conta: “a organização social do trabalho; a intencionalidade consciente das ações, o uso de meios indiretos (ferramentas e signos), tendo em vista também necessidades subjetivas, [...] descoladas [...] de seu caráter imediato”.
Sem educação não poderemos combater a pobreza, a fome, melhorar a saúde da população e preservar a água. Dela depende também o desenvolvimento de tecnologias com energias renováveis e trabalhos decentes, além da industrialização da nação; seu papel é fundamental para reduzir desigualdades com menor consumismo e desenvolvimento mais sustentável nos eixos econômico, social, ambiental e cultural.
Uma nova mentalidade, um novo paradigma socioeconômico, uma nova modalidade de atividade produtiva tem sido iniciados aqui ou acolá, mas sem concordância entre pares, pois exigiria um conhecimento tecnológico maior do que possuímos atualmente. Segurança sobre todas as decisões envolvendo meio ambiente e manutenção da vida humana por longos prazos são ainda difíceis, a industrialização crescente de novos produtos, alguns com riscos inerentes, excedem nossa capacidade de análise das suas consequências, educação para a ciência e tecnologia são deficitárias no país.
Sem bom sistema educativo, é impossível pensar em cidadania, na qual os princípios de universalidade e equidade estão associados ao exercício da justiça; este é o ponto de partida para o compartilhamento de experiências, para a recuperação de nossa plena humanidade de conexão de uns com os outros e coexistência pacífica com o planeta por muitas e muitas gerações.
# Escola, saúde e família na infância
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